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Flávio Ulhoa Coelho
(Especial para a Revista Espaço Aberto)
No meio de uma conversa descontraída, um colega matemático me aconselhou certa vez a abandonar a matemática e me dedicar à literatura. Tenho a certeza de que haverá críticos literários que me aconselhariam a não me meter na literatura e me concentrar na matemática. Enquanto não há consenso, eu tento fazer os dois: matemática, que é a minha profissão, e literatura, que é o que me completa emocional e intelectualmente.
Mas, na realidade, não há muita diferença entre fazer matemática e escrever, pois, em ambos, o importante é ter uma ideia e desenvolvê-la, o resto são tecnicalidades próprias de cada área, simples assim… Brincadeiras à parte, não creio que sejam atividades tão distintas.
O curioso é que muitas ideias para contos surgiram exatamente nos momentos em que estava mais envolvido com a minha atividade matemática e, em uma interessante simetria, trabalho melhor com matemática quando estou também envolvido no lento processo de finalização de algum conto. Lembro-me de vários contos que surgiram durante viagens de trabalho, ou no meio de congressos científicos. Normalmente, nesses momentos, só tenho o tempo de anotar as ideias em um bloquinho, se há algum por perto, ou até mesmo em um guardanapo, para depois, algum dia, com calma, poder trabalhar nelas. Às vezes, a inspiração vem tão forte que, mesmo estando no meio de uma palestra, o melhor a fazer é se concentrar no desenvolvimento de uma ideia, quer seja ela matemática quer seja literária.
Uma colega uma vez me disse, após ler o meu livro Contos que conto, que minhas histórias eram muito matemáticas, talvez se referindo às suas estruturações internas. Sei lá se concordo com isso, visto que, apesar de alguns contos terem nomes que possam remeter à matemática, como Conto, O algebrista, O ponto de Euclides, Simetria ou O entusiasta do sistema decimal, nada neles foi escrito pensando em matemática. O conto O algebrista (do meu livro Gambiarra e outros paliativos emocionais) nada tem a ver com essa especialidade e, sim, com um significado já fora de uso dessa palavra: um algebrista, antigamente, era um especialista em consertar ossos. Por sua vez, o mote para O entusiasta do sistema decimal veio de uma frase de Jorge Luis Borges sobre a sua mãe que morrera aos 99 anos.
O meu primeiro conto, Postal, por outro lado, tem como tema a rotina de um aposentado e leva a um comportamento cíclico (que muito tem a ver com certas estruturas matemáticas) de seu dia a dia e que é a base para todo o texto.
Na realidade, não penso muito nas relações entre essas minhas duas atividades, seria teorizar demasiadamente algo que, acredito, é bastante natural. Ah, há outra semelhança entre fazer matemática e escrever, para mim (ao menos para mim): é que nunca estou totalmente satisfeito com os resultados conseguidos.
Flávio Ulhoa Coelho é diretor do IME-USP e também autor, dentre outros, dos livros Gambiarra e outros paliativos emocionais (2007) e Contos&Vinténs (2012)
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