Não é de hoje que os veículos de mídia estão tratando de questões sobre genética. Com o rápido desenvolvimento das pesquisas sobre o tema desde a década de 90, o cidadão que antigamente só ouvia falar do assunto nas longínquas aulas de biologia do colégio, agora abre o jornal e é atropelado por uma avalanche de termos e conceitos sobre genética.

“Eu tenho lido as notícias nos jornais e entendo um pouco, mas explicar o conteúdo delas já é um pouco mais difícil”, explica Maria Luiza de Souza, funcionária do setor de Arquivo da Escola Politécnica que, no entanto, sabe que “é algo relacionado ao corpo humano, que pode melhorar a saúde e pode ajuda a prevenir doenças.”

Outro ponto que o cidadão comum tem dificuldade de reconhecer é a forma como essas pesquisas retornam à sociedade. Nem sempre a palavra DNA remete a prevenção de doenças ou qualquer benefício na qualidade de vida do indivíduo. “Em geral o que a gente lembra é
de traição, infidelidade porque muitas vezes quando os programas de TV falam em DNA mostram aqueles testes de paternidade” , constata Almir da Silva Dias, que afirma nunca ter ido a uma consulta médica em que precisou fazer um exame de DNA.

foto:Francisco Emolo

Celia Koiffman
Dias nunca precisou, mas talvez um dia precise de um exame de DNA e dos serviços da professora de genética humana do Instituto de Biociências Celia Koiffmann. Ela trabalha no Centro de Estudos do Genoma Humano (CEGH),criado em setembro de 2000 com o financiamento da Fapesp, que realiza diagnósticos
de doenças a partir de exames do DNA, além de aconselhamentos genéticos para casais.
Se essa definição pareceu um pouco complicada, a própria professora cita um exemplo. “Uma criança nasce com hipotonia, que se caracteriza pela ausência de tônus muscular. Isso pode ser sintoma de uma série de doenças, uma delas é a chamada síndrome de Prader-Willi. O diagnóstico a partir do exame de DNA, nesse
caso, daria a certeza de que se trata dessa doença” , afirma. Dessa forma, é possível, por exemplo, orientar o médico para uma medicação mais adequada para aquela determinada doença. “Além disso, esse nosso exame é o menos invasivo que as crianças tem que passar pois, para fazê-lo, é preciso apenas fazer a coleta do sangue“, conclui.

Mais ligado à área de saúde, o professor de estomatologia da Faculdade de Odontologia Norberto Sugaya compreende bem o que é dito sobre seqüenciamento genético, cromossomos e DNA nos jornais, e considera boa a cobertura da imprensa sobre o tema. “Eu raramente vejo deformações ou equívocos nas informações sobre genética na grande mídia”, afirma Sugaya, que admite que o retorno dessas pesquisas para a sociedade não é imediato, mas cita outro benefício que as pesquisas com genes já trouxeram para a população e que o CEGH também oferece: a orientação genética para casais. .


“O aconselhamento genético é a parte mais importante. É a partir dele que o casal vai saber qual a probabilidade de ter outra criança com o mesmo problema ou não” , esclarece Celia. Depois de dado o diagnóstico da doença da criança, a gente pede o sangue dos pais para extrair o DNA, vê o mecanismo genético e chama para uma consulta para explicar se há risco de acontecer de novo. “Nós também orientamos para cuidados com a criança e apresentamos associações que lidam com a doença no intuito de mostrar que aqueles pais não estão sozinhos no mundo.”

Os pacientes em geral chegam ao CEGH por indicação dos médicos, ou seja, é preciso fazer uma consulta médica para saber se há a necessidade de um diagnóstico por DNA ou um aconselhamento de casal. O CEGH estuda distrofias musculares, surdez, retardo mental, esterilidade masculina entre outros males. Outras informações sobre as doenças tratadas, atendimento e preços podem ser conseguidas no site (www.genoma.ib.usp.br) ou pelo telefone: (11) 3091-7966.

Se você ainda acha que as pesquisas genéticas não fazem parte do cotidiano da sociedade, vale a pena dar uma lida na matéria Convivendo com a ausência ,da edição de março. Nela você vai conhecer um projeto da Faculdade de Medicina que ajuda na procura por crianças desaparecidas.