Na sala de reuniões de uma certa unidade da capital, um professor em frente ao seu laptop participa de uma videoconferência com outros colegas docentes que estão em Bauru e Piracicaba. Enquanto isso, na Faculdade de Medicina, em Pinheiros, alunos acompanham em tempo real uma cirurgia de joelho que ocorre a centenas de quilômetros dali, em Ribeirão Preto. Em São Carlos, a secretária agenda uma reunião com dirigentes de Pirassununga pelo telefone e não paga um centavo de interurbano por isso.

Situações como essas, que anos atrás seriam vistas como delírios de um entusiasta da tecnologia, estão muito perto de se tornarem realidade na Universidade. Uma conexão de alta velocidade entre as unidades da USP está sendo criada, ou melhor, recriada, o que permitirá a aplicação de recursos de teleconferência, transmissão de vídeo streaming e voz por IP e outras ferramentas que há muito pouco tempo eram vistas como “coisa do futuro”.

Para se chegar até aqui, contudo, é preciso retomar uma outra história. Uma história que começou em meados da década de 80, quando o professor do Instituto de Física da USP e presidente do Conselho Superior da Fapesp, Oscar Sala, anteviu a importância de incluir o Brasil numa então desconhecida rede de computadores chamada Internet. Com a rede ainda em processo de desenvolvimento, cria-se a chamada USPNet, que interligava as diversas unidades e campi da USP, tendo o Centro de Comunicação Eletrônica (CCE) no centro. “Nesse período, início dos anos 90, a ligação era provida por linhas telefônicas privativas que conectavam o CCE com os campi do interior, formando uma estrutura de estrela. Daqui os dados fluíam por uma conexão maior de tráfego até a Fapesp”, explica Eduardo Bonilha, coordenador-adjunto do CCE.


Mais tarde a mesma Fapesp cria a ANSP (Academic Network in Sao Paulo) que, além das unidades da USP, englobava outros institutos de pesquisa como ITA, CTA e universidades estaduais e federais como Unesp, Unicamp e Unifesp. Como a ANSP dispunha de uma estrutura melhor do que a da conexão telefônica da USPNet, a USP passa a usar esse serviço da Fapesp. “Na verdade nós não desativamos a estrutura anterior por várias razões. Uma delas era para ter uma redundância, ou seja, se por acaso desse algum problema na ANSP, a gente teria o link antigo da USPNet”, conta Bonilha.

Mas no início deste ano a coisa mudou. A Fapesp anunciou que vai desativar seu PTT (Ponto de Troca de Tráfego) – uma espécie de estação ferroviária em que os passageiros, ou no caso, os dados, fazem baldeações e seguem seus respectivos destinos – passando esse serviço a uma empresa multinacional chamada Terremark do Brasil Ltda. “A Fapesp acredita que não é função dela manter um serviço dessa natureza para sempre. Ela tinha um compromisso de fazer a coisa nascer, crescer e se estabelecer, mas a finalidade da Fapesp é financiar a pesquisa e isso não é projeto de pesquisa”, esclarece Bonilha.

Com a saída da Fapesp, a grande rede da ANSP será desativada e a boa e velha USPNet, que já nos anos 80 integrava os campi e unidades da Universidade, será retomada. Para tanto, ainda é preciso adquirir novos equipamentos como switchers, roteadores e rubs para atualizar tecnologicamente a “antiga” USPNet, que será um ponto de troca de tráfego (PTT) com movimento gigantesco.

“Uma das vantagens da migração dessa estrutura para a USP é que isso permite que a gente tenha um gerenciamento que antes era da ANSP. Dessa forma podemos colocar nessa estrutura a publicação que quisermos. Nós temos a rede na nossa mão”, explica Jairo Carlos Filho, diretor de rede do CCE. “É possível imaginar um intercâmbio entre a Medicina de Ribeirão Preto e a de São Paulo transmitindo conferências, aulas e cirurgias. São coisas que vêm sendo feitas em base experimental, mas que esperamos sejam feitas em base cotidiana, trivial”, afirma.