Há quem não pegue elevador nem que tenha que subir vários andares pela escada, outros entram em desespero assim que vêem uma barata rastejando pelo chão, existem ainda aqueles que preferem passar horas dentro de um ônibus a ter que sentar na poltrona e decolar em um avião. Apesar de muitas vezes causarem desconforto, taquicardia, suores no corpo e uma tremenda sensação de insegurança, acreditem, sentir medo é fundamental para o ser humano.
“As reações do homem ou de qualquer outro animal num momento de perigo são basicamente as mesmas”, conta. “Primeiro há um sinal de alerta, depois o congelamento quando não há a possibilidade de fuga e, por fim, a fuga. Ou, dependendo do caso, a reação de ataque defensivo.” Brandão também explica por que após passarmos por um momento de pavor, sentimos as reações somente depois do perigo ir embora. “Essa reação posterior a um momento de perigo acontece porque é nesse momento que o cérebro está processando a informação que acabou de receber. Ele associa o que acabou de ocorrer com uma série de informações anteriores que lhe dão a noção de perigo”.
A responsável por reconhecer essas informações é a amígdala, não aquela que fica no fundo da garganta, mas uma outra, localizada dentro do cérebro. É ela que identifica o medo e ‘explica’ ao organismo o real perigo daquele instante. “Fica a cargo da amígdala também liberar a endorfina, que tem efeito analgésico sobre o organismo, ou seja, permite ao indivíduo ou animal suportar um pouco mais a dor num momento de perigo”, explica Brandão, coordenador do Laboratório de Psicobiologia da USP de Ribeirão Preto, onde há três anos é desenvolvido o Projeto Psicobiologia do Medo e Estresse, que estuda a organização neural do medo, as respostas do organismo e os estímulos sensoriais (luz, som, etc.) que o provocam.
Algumas vezes o medo pode virar piada, como o pavor que a analista de comunicação social do Instituto de Ciências Biomédicas, Maria Lucia Mota, sente por baratas e que a faz mobilizar diversos colegas de trabalho quando o pobre inseto aparece. “Quando estou sozinha eu até consigo matar a barata, mas só a custo de muito briga e gritaria”, explica Maria, que já passou pelo que para muitos seria um trauma, de sentir uma barata subindo pela perna durante o banho. Brincadeiras à parte, em alguns casos o medo se torna doentio e extremamente danoso ao indivíduo. “É o prejuízo em algum aspecto importante da vida que caracteriza o medo patológico ou o transtorno de ansiedade. Prejuízo na vida profissional, na vida pessoal ou no lazer, por exemplo”, explica o médico do Instituto de Psiquiatria do HC, Tito Paes de Barros Neto.
Ainda na psiquiatria, há outra forma em que o medo pode se tornar extremamente prejudicial ao indivíduo. É o que os médicos chamam de Transtorno (ou Síndrome) do Pânico. “O que se chama de Síndrome do Pânico é um ataque de ansiedade que pode durar de 15 a 30 minutos, em que o indivíduo é assaltado por um pavor intenso”, explica Paes de Barros. Segundo ele, as crises de pânico muitas vezes são desencadeadas mesmo sem um objeto real que cause medo, e os sintomas são taquicardia, falta de ar, tremor, sudorese, tontura, boca seca, entre outros. Segundo dados da Associação Nacional de Síndrome do Pânico, a doença atinge de 2% a 4% da população mundial, na sua maioria jovens entre 21 e 40 anos. O médico afirma ainda que, ao contrário do que se pensa, o transtorno não é um mal exclusivo de quem mora em metrópoles como São Paulo. “Foi feito um estudo em cinco cidades dos EUA, sendo duas metrópoles e três cidades menores, inclusive rurais. A prevalência de transtornos de ansiedade e de pânico foi exatamente a mesma.”
Dr. Paes de Barros explica que a melhor maneira de combater um medo é enfrentá-lo. “A pessoa não pode se encolher, evitar o medo, essa é a contramão do tratamento e da solução do problema”, explica o médico que escreveu um livro chamado Sem medo de ter medo, onde, além de outras observações a respeito do tema, descreve exercícios para enfrentar seus temores. “São exercícios de exposição, de enfrentamento gradual, sistemático, em que a pessoa encara gradativamente situações de menor medo até situações de maior medo”, indica o médico. “Quem tem medo de sair sozinho, por exemplo, deve se expor a uma situação de ansiedade mínima, como ficar na frente de casa por um tempo. Em outro dia, vai até a esquina, depois uma volta no quarteirão, e assim por diante.”
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