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foto:Satie Taniguchi
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De voz cadenciada e macia, Francisco é um daqueles sujeitos que quando começa a contar uma história, não pára mais. E não é só a forma suave de falar que mantém sua audiência, mas também o conteúdo de cada uma delas. Francisco Vicentini Neto é funcionário do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, mais precisamente do Laboratório Integrado de Oceanografia (LIO), e de alguns anos para cá, Chico, como é conhecido, adquiriu a fama de ser um excelente fotógrafo, com direito a exposições e tudo mais.
foto:Cecília Bastos
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Claro que o desenvolvimento dessa habilidade está diretamente relacionada com suas histórias. Na verdade, um talento deu origem ao outro. “Quando minhas filhas nasceram eu já fotografava um pouco e sempre tirava fotos delas, mas nunca do trabalho. Assim, sempre que contava das minhas viagens, do que eu fazia, percebia que elas não entendiam direito”, lembra Chico. |
“A princípio eu resolvi fotografar para poder mostrar com os detalhes da imagem o que eu estava contando” Foi quando Chico passou de “fotógrafo-coruja” para uma espécie de “fotógrafo-oficial” do IO.
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foto:Francisco Vicentini
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As viagens – e histórias – não são poucas. No laboratório em que trabalha, conta Chico, eles costumam passar uma semana por mês no mar. O destino dessas viagens |
varia de acordo com o projeto de pesquisa e vai desde ”vizinhos”, como Santos, Peruíbe ou Ubatuba até localizações mais remotas, como a Antártica. O continente gelado, inclusive, encabeça a lista de lugares que mais encantou o funcionário e foi também o seu mais rico objeto fotográfico. Lá, onde o dia dura seis meses e a noite os outros seis, Chico registrou imagens de pingüins, focas, atobás, lobos-do-mar, entre outros animais da fauna e flora gelada. “Por causa da latitude da região, durante o verão você tem luz quase o dia inteiro. Quando eu estive lá, o sol se punha à 0h30 e nascia às 3 da manhã”, diz. Ruim para a rotina do relógio biológico, bom para o fotógrafo. “Eu terminava o trabalho às 23h e podia sair para fotografar porque o dia ainda estava claro.” |
foto:Cecília Bastos 
“A Antártica é um dos lugares do planeta que permanece o mais próximo do que sempre foi. Há uma ação humana mínima sobre o ambiente, os animais, e isso é algo que me fascina”, descreve Chico, sem conseguir esconder um certo deslumbramento. A impressão que se tem é que o espírito aventureiro de Francisco complementa a sua paixão pela natureza da mesma forma que as fotografias servem de suporte para suas histórias.
foto:Francisco Vicentini

O primeiro sinal desse espírito aventureiro apareceu na infância, quando decidiu tornar-se escoteiro. O pai, professor de Química na USP, não se opôs, da mesma forma que anos mais tarde não fez qualquer objeção à viagem que ele faria pelo chamado Trem da Morte, que liga Puerto Quijaro (cidade boliviana próxima a Corumbá, MS) a Santa Cruz de la Sierra, num trajeto que, como o próprio nome dá a entender, não é dos mais seguros. Imagine isso numa época em que para se obter informações de viagem não havia a Internet, e o único guia que Francisco, com 15 anos, e seus dois colegas, um de 14 e outro de 18 anos, tinham era uma edição do caderno de Turismo do Estado de S. Paulo.
foto:Wilson N. Oliveira  |
Na universidade, encontrou uma maneira de atrelar o curso de engenharia mecânica que fazia na FEI com seu principal interesse, a natureza, e no penúltimo ano de faculdade, arrumou estágio no Instituto Oceanográfico, onde está até hoje, totalizando 21 anos. Chico trabalha com o lançamento e recuperação |
de fundeios, uma espécie de corda esticada desde a superfície até o fundo do mar e que registra a direção e velocidade das correntes em determinado período de tempo. O estudo ajuda, por exemplo, a detectar para onde a correnteza levaria um determinado vazamento de óleo, permitindo que ecologistas cerquem a mancha e “limpem” o mar. “Eu sempre tive múltiplos interesses e o fato da oceanografia reunir diversas disciplinas (biologia, física, química, geologia) é muito bacana nesse sentido. Apesar de ter feito engenharia mecânica, viajo, tenho contato com bichos, com o mar e fotografo”, recorda. |
foto:Francisco Vicentini

Separado, Francisco é pai de duas filhas que além de dar pontapé inicial na carreira fotográfica do pai, também levaram para a sua escola a primeira exposição do funcionário. Sobre o futuro das meninas, Chico prefere não palpitar. “Acho que é a pior coisa que um pai pode fazer”, mas confessa que não as deixaria enfrentar uma aventura pelo Trem da Morte como ele fez, exatamente com a mesma idade das filhas. “A mais velha talvez sim, mas a outra ainda é muito nova”, responde o pai, num tom meio vacilante.
foto:Francisco Vicentini

Fica de consolo para as filhas as viagens férias que fazem com o pai. Para onde eles vão? A resposta é óbvia. “Quando saio de férias vou para o mar também, e sempre que posso coloco minhas filhas num barco para viajar comigo. Eu gosto muito de natureza, e dentro desse universo gigantesco, o mar é o meu espaço predileto”, conclui.
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