Com o final do ano se aproximando, o comércio vive a euforia do aquecimento das compras para o Natal e olha com satisfação o intenso movimento em shoppings, calçadões e ruas da cidade. Porém, alguns varejistas estão comemorando por causa das pessoas que resolveram não sair de casa. Para as empresas que vendem pela internet, a expectativa é grande, pois a movimentação financeira do comércio pela rede de computadores tem crescido a largos passos, de aproximadamente 45% ao ano.

A realização de compras on-line, assim como toda experiência nova, deixa o brasileiro com uma certa desconfiança. A internet passou a ser disseminada no País em 1994, dando início, logo em seguida, aos investimentos do varejo e merchandising. Por se tratar de um negócio recente e pouco vivido pela maioria, o usuário da rede ainda não se sente à vontade para confiar dados pessoais e o valor da compra a um lojista desconhecido sem sequer receber o produto negociado na mesma hora. É uma reação normal cuja tendência é desaparecer à medida que se familiarizarem com a novidade. Apesar de ser realmente necessário agir com certos cuidados durante a compra pela internet, esse canal vem se revelando um ótimo negócio: gera lucro aos empresários e oferece comodidade, economia e dinamismo ao consumidor.

“Ainda há muita insegurança, mas essa situação está mudando aos poucos. Depois que o internauta efetua sua primeira compra e vivencia o novo processo, ele ganha confiança e passa a comprar com mais tranqüilidade pela internet”

Pedro Guasti

Segundo pesquisas da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico ( Câmara-net), apenas cerca de 15% do total de usuários da rede no Brasil já fez compras através do computador. Por outro lado, dentre esses consumidores do mundo virtual, 87% dizem estar satisfeitos com o negócio realizado. “Ainda há muita insegurança, mas essa situação está mudando aos poucos. Depois que o internauta efetua sua primeira compra e vivencia o novo processo, ele ganha confiança e passa a comprar com mais tranqüilidade pela internet”, explica Pedro Guasti, diretor geral da E-bit , consultora de negócios online. 

O aumento na velocidade de navegação, preços mais baratos que os da praça, e principalmente a entrega no prazo marcado, tem sido os principais motivos para o alto índice de satisfação dos consumidores. Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, o técnico acadêmico Jorge de Lima aproveita as facilidades do comércio eletrônico como as comparações de preço, serviços de atendimento ao consumidor e riqueza de detalhes do produto no site do fabricante. “Hoje mesmo estava dando uma olhada em lavadora de roupas”, conta. Em mais de um ano, já comprou dois DVD players, diversos livros, máquina fotográfica digital e não teve problemas. “Uma vez, chegou em casa um jogo de panelas que estava manchado. Eu liguei para a loja e fizeram a troca numa boa”, diz.

foto:Cecília Bastos
“Uma vez, chegou em casa um jogo de panelas que estava manchado. Eu liguei para a loja e fizeram a troca numa boa"

Jorge de Lima

A internet é um meio bastante eficaz para comunicações, pesquisa, comércio e outras atividades, mas é preciso que seus usuários naveguem com atenção para torná-la um canal mais seguro. Nenhuma loja online oferece 100% de garantia contra golpes de terceiros, mas essa não é a maior causa geradora de dores de cabeça.

Routo Terada, professor de Ciências da Computação no Instituto de Matemática e Estatística, afirma que a pouca familiaridade com a internet e a falta de consciência são os grandes responsáveis pelos inconvenientes. “Só depois que o ladrão entra em casa, o indivíduo resolve colocar um cadeado na porta”, compara. Muitas vezes o internauta se deixa seduzir por um belo visual na tela do computador e decide fazer negócios numa loja sem quaisquer referências sobre ela. “É comum ter a ilusão de que um espaço é bem feito só pela aparência que tem, mas ele pode ser uma armadilha”.

foto:Cecília Bastoss
“É comum ter a ilusão de que um espaço é bem feito só pela aparência que tem, mas ele pode ser uma armadilha”

Routo Terada

Antes de fechar um negócio, é essencial saber de quem é que se está comprando. As lojas sérias têm um endereço ou telefones para contato. Sites como o BuscaPé , Bondfaro e E-bit oferecem serviço gratuito de comparação de lojas, exibindo avaliações de clientes e um selo de garantia próprio para destacar vendedores considerados confiáveis. Além disso, não é indicado fornecer dados pessoais importantes, tais como senhas do cartão de crédito, em formulários sem propósito definido. Uma alternativa é a compra através do boleto bancário, impresso após a confirmação do pedido e com o pagamento a ser feito em um banco, sem informação de senha alguma. E, mesmo assim, desconfiar quando o preço do produto está absurdamente abaixo das outras lojas virtuais ou de rua.

foto:Cecília Bastos
“Prefiro comprar num site só, para evitar meu cadastramento em muitos lugares. Não acho bom passar informações minhas para muita gente”

Patricia Rodrigues

“Geralmente não dá tempo de ir ao shopping. Então, em dois segundos, eu escolho minhas compras pela internet e depois decido em casa”, diz Patrícia Rodrigues, do Departamento Pessoal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Apesar das comodidades, ela sabe que precisa tomar alguns cuidados e se preocupa com a evasão de dados pessoais importantes: “Prefiro comprar num site só, para evitar meu cadastramento em muitos lugares. Não acho bom passar informações minhas para muita gente”, afirma. Já Victor Barros, analista de sistemas na Coordenadoria de Tecnologia de Informação, lembra de precauções anteriores à compra: “Para começar a navegação já é indispensável ter a máquina limpa com um antivírus atualizado”. Para Barros, quem tem familiaridade com informática, o comércio eletrônico é uma boa alternativa porque “dá tempo de procurar muitos detalhes sobre um produto, enquanto na loja, o vendedor fala apenas duas palavras sobre o modelo”.

foto:Cecília Bastos
“Para começar a navegação já é indispensável ter a máquina limpa com um antivírus atualizado”

Vitor Barros

A fim de conscientizar os internautas e os convencer sobre a viabilidade da internet para diferentes operações, empresas de diversos segmentos criaram o MIS, Movimento Internet Segura , em 2005. A entidade envolve bancos, empresas de comércio on-line, fabricantes de softwares e equipamentos de segurança computacional, entre outros membros. Logo no início do site da organização são exibidos os dez mandamentos da internet segura: “protegerás teu computador”, “jamais fornecerás senhas” e “ficarás atento aos remetentes” são os três princípios básicos, segundo o MIS.

Como especialistas entendem que a navegação consciente é o principal remédio contra danos às máquinas e seus usuários, muitos outros sites também oferecem várias dicas para prevenir surpresas indesejadas.

Symantec : apresenta relatório semestral apontando as tendências de vírus e suas variantes, e também dispõe uma cartilha básica sobre como fazer compras com segurança.

Microsoft : traz glossário explicando termos da área computacional. Também é possível conferir informações sobre novos tipos de vírus e ataques recentes de hackers.

E-bit : presta serviços a varejistas e internautas domésticos. Tem guia sobre os direitos do consumidor e listas reunindo lojas on-line de acordo com categoria e avaliação.

BuscaPé , Bondfaro , Jacotei e Preço Mania : sites que dão uma referência sobre produtos, preços e lojas através de comparação direta e avaliações feitas pelos próprios clientes.