A falta de iodo pode levar a uma série de problemas de saúde, mas o excesso também. “Uma planta precisa de determinada quantidade de água para viver. Se regar demais, ela morre, se colocar muito pouca água, ela não vai bem. A tireóide é como essa planta, quando não recebe o mínimo de 100 microgramas (mcg) até o máximo de 290 mcg de iodo por dia, não funciona normalmente”, explica o endocrinologista Geraldo Medeiros Neto, chefe da Unidade de Tireóide do Hospital das Clínicas (HC) e coordenador das pesquisas que comprovaram o excesso de iodo no sal e o conseqüente aumento de casos de Tireoidite Crônica Auto-Imune, conhecida como Tireoidite de Hashimoto (TH). “Quando a glândula tireóide fica muita cheia de iodo, nosso sistema que fabrica anticorpos manda os seus soldadinhos, as células brancas do sangue, investigarem o que está acontecendo. Eles acham que a tireóide não pertence ao corpo daquela pessoa e começa a haver fabricação de anticorpos contra a própria glândula.” Os sintomas são bastante tênues e aparecem muito lentamente. Fadiga crônica, intolerância ao frio, ganho de peso, aumento do colesterol, queda de cabelo, unhas quebradiças, pele muito seca e amarelada são alguns deles. Porém, a pessoa diagnosticada com TH pode levar uma vida normal se submetida à medicação indicada.
A iodação começou a ser feita numa proporção de 40 mg a 60 mg de iodo por kg de sal. No entanto, as usinas reclamaram que esses limites eram muito próximos. Com isso, os limites mudaram para 40 mg a 100 mg de iodo por kg de sal. “Eu não sei quem foi, não foi baseado em pesquisa, eu não fui consultado, nem os outros assessores. Foi uma reunião dos usineiros, com a Anvisa e o Ministério da Saúde”, afirma Medeiros. E o iodo ficou em excesso. Em 2001, foi feita uma enquete de norte a sul do País. “Colhemos urina de mais de 2.300 escolares e verificamos que 70% estavam excretando mais que 300 mcg/dia, 60% deles estavam excretando mais que 500 mcg/dia e 12% mais que 1.000 mcg/dia, isso estendido para população em geral é um desastre”, recorda Medeiros. O estudo foi repetido no Estado de São Paulo e seus resultados levaram à redução do teor de iodo em 2003 para 20 mcg a 60 mcg por kg de sal. Mesmo assim, em 2005, uma nova pesquisa na região do ABC comprovou que muitas pessoas ainda têm excesso de iodo no organismo. “Em 1994, o percentual de TH era de 9%, agora é de 18%. Eu acho que é o excesso de iodo a que estivemos sujeitos durante esses cinco anos”, analisa Medeiros. |