Exercícios inadequados fazem mal a saúde. Antes de começar, procure orientação

É muito bom que as pessoas sejam adeptas ao exercício físico e esportes. No entanto, é igualmente importante que estejam se exercitando do modo certo. A postura na caminhada, a braçada na natação, a flexibilidade máxima no alongamento, o peso a ser levantado nas academias são movimentos determinados pelo condicionamento físico do praticante e suas características pessoais. Quando esses fatores não são levados em conta, há riscos que envolvem a possibilidade de lesões e estiramentos musculares, os mais comuns, até a sobrecarga no coração, potencializada em pessoas com problemas cardíacos e que nem sabem disso.

De segunda a sexta, parado na frente do computador. Sábado e domingo no futebol com os amigos. Segunda-feira de novo e o corpo cheio de dores. Esse é o atleta de final de semana, um dos casos mais comuns de esporte sem saúde. “Quando iniciamos uma atividade física, o corpo altera seu funcionamento. O metabolismo muda seu fluxo sangüíneo, regulação hormonal, demanda muscular, entre outros pontos. Se o sujeito passa a semana toda sedentário e só se mexe por um dia, o corpo vive picos estranhos ao seu funcionamento convencional e, sem preparação para o exercício, corre o risco de se prejudicar muito”, explica Fernanda Lima, especialista em reumatologia e medicina esportiva do Hospital das Clínicas (HC).

Foto: Francisco Emolo
“Nós, da área de saúde, notamos que aumentou a quantidade de praticantes de exercícios, o que também pede maior demanda pelo acompanhamento médico. Devido ao grande número de lesões pela prática incorreta, vimos a necessidade de criar um ambulatório especial para atender aos pacientes”, diz Fernanda. Foi assim que, há cerca de quatro anos, surgiu o Ambulatório de Medicina Esportiva do HC, que recebe cidadãos comuns, atletas de elite e amadores. “Existe uma preocupação em formar profissionais capazes de diagnosticar o paciente e orientar o tipo de exercício que é melhor para ele.”

Pelo estilo de vida que levamos, como pouco movimento, o sedentarismo é favorecido. Desse modo, quando for começar a praticar exercícios, o sujeito, antes vai esbarrar em seus músculos atrofiados e articulações mais rígidas. São alvos fáceis de lesões e típicos de quem passa muito tempo do dia sentado. Também é comum o uso errado das técnicas esportivas, sem controle sobre a intensidade, duração, quantidade ou o movimento certo para a modalidade. “E se houver indisposição cardíaca, há o risco de arritmia, infarto e até morte súbita”, lembra a médica. “Por isso é tão importante fazer uma avaliação prévia. Pelo menos, saiba se tem hipertensão, problemas de coluna e se está fazendo o exercício de um modo eficiente. Não seja o próprio treinador.”

Na Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), o fotojornalista Francisco Emolo conta como foi fazer aulas de judô sem acompanhamento médico e depois de anos sem se mexer: “Para ver mais meus filhos que nunca ficavam em casa, decidi ir com eles para os treinos de judô. Na verdade foi um modo de estar mais perto da família”, diz Chico, como é conhecido pelos amigos. “Falei com o professor e ele recomendou que eu não exagerasse nos exercícios pelos meus 50 anos. Essa era a parte boa porque a turma recebia a orientação de não me jogar no chão depois do golpe, apenas fazer a simulação. Só eu podia bater”, brinca.

Fernanda entende que algumas atividades possam ser positivas do ponto de vista recreativo e social, mas questiona a validade desses ganhos: “Existe uma vantagem lúdica, a pessoa se satisfaz, mas é inadequado pelo risco que pode estar correndo. O exame prévio dá um suporte melhor por definir quais são as condições reais de cada um”. Francisco diz que não passava por treinamento pesado e que seus objetivos eram outros: “Eu fazia os exercícios num ritmo em que me sentia bem.
Sei que é bom o acompanhamento médico, mas eu não forçava muito. Estava ali pelos meus filhos e para conhecer melhor o esporte, o que ajuda quando tiro fotos das competições”, explica.


Para iniciantes, o recomendado é a atividade individual e de baixo impacto, pois não expõe o indivíduo a sobrecarga no aparelho locomotor em função de saltos, corridas e tombos, nem pedem explosões de energia e disputa física. Nos primeiros dias, é melhor escolher a caminhada, bicicleta, natação e ioga no lugar do futebol, atletismo ou artes marciais.

Foto: Francisco Emolo

Maria Urbana

O sedentarismo pode ser combatido sem exageros. Atividade física durante dez minutos, três vezes ao dia já é boa opção para regular a freqüência cardíaca. Isso também subtrai um acúmulo calórico desnecessário que iria se transformar em gorduras excessivas ao longo do ano. Entre outras palavras, isso quer dizer abrir mão do elevador (pelo menos por metade da subida) ou deixar o carro na garagem e caminhar até o trabalho. “Aos poucos, o corpo vai adquirindo melhor condicionamento físico.
Dependendo da pessoa, meia hora por dia pode ser irrelevante perto do seu potencial, mas isso não significa que ela deva se matar em outros treinamentos. Atletas profissionais também sofrem desgastes”, explica a professora de educação física, Maria Urbana, do Instituto do Coração (Incor) do HC.

A professora faz parte da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício (URCFE), do Incor, responsável pela avaliação médica necessária antes do começo de uma atividade. Através desse exame, são avaliadas as condições cardiovasculares e metabólicas, o que abre a possibilidade da equipe fazer uma orientação adequada e individual. “Cada um responde de um jeito ao exercício. E, a cada avaliação, notamos o quanto existem pessoas em situação de risco ou se exercitando em vão, sem melhorar em nada a saúde”, fala.

Foto: Francisco Emolo

Carlos Humes Júnior
Uma outra vantagem do exame médico prévio e orientação profissional é o caráter preventivo e de auxílio no tratamento de doenças crônicas. “Recentes estudos desta unidade do Incor, inclusive já publicados em revistas científicas internacionais, vêm provando que muitos problemas do coração têm sido mais bem combatidos por exercícios do que por remédios”, conta Maria. Sobre isso, a especialista em medicina esportiva Fernanda Lima comenta:
“Esse trabalho também é importante pelo estigma social que derruba. Os cardíacos, por exemplo, se imaginam sempre impossibilitados de praticar esportes. Na verdade podem e devem ser incluídos, porque é bom para eles”.

O professor Carlos Humes Júnior, do Departamento de Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) é adepto do programa da URCFE. “Fui burro, esperei ter um infarto para me movimentar”, conta. “Antes só jogava umas partidas de vôlei, esporadicamente. Agora caminho religiosamente de 5 a 6 dias por semana.” Por indicação de seus médicos, Humes entrou no programa de reabilitação após ter passado pelo infarto e viver uma época em que esteve fragilizado, tanto pela saúde quanto pelo lado emocional. “Se eu comparar meu estado hoje com o de 2 anos atrás, bem na época do pós-infarto, eu estou ótimo. Minha recuperação foi boa depois do estrago no coração. Converso bastante com a equipe e vejo que são profissionais exemplares na Universidade pelo trabalho, estudos e pesquisas de extensão. Mas, acima disso, gosto de pensar neles como alguém para quem eu devo algo. São muito humanos”, diz.

B O X


Interessados em fazer o exame médico, o serviço está à disposição na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e realizado pela URCFE. O programa também oferece aulas preventivas, de reabilitação e estímulo ao condicionamento físico. Mais informações pelo telefone (11) 3091-3183. Na avenida Paulista, o mesmo programa do Incor se localiza no Clube Homs, (11) 3283-3139.