Fase conturbada, repleta de caminhos a escolher e idéias para confrontar ou aderir: Juventude. Os desafios são vários, um deles é responder à antiga questão: O que você vai ser quando crescer? A sociedade brasileira parece não estar pronta para fazer essa pergunta aos seus jovens. “O jovem é fruto de seu tempo, de sua cultura e busca formas de adaptação e de questionamento dos costumes e das determinações sociais a ele impostos pela sociedade em que vive”, atesta Marilene Proença, professora do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia (IP). “A juventude é fundamental para que o estabelecido seja questionado, aquilo que está consolidado seja posto à prova e revisado ou até desconstruído.”
Rita de Cássia Silva Dias, secretária no Instituto de Biociências (IB), começou a trabalhar como babá em 1985, depois foi para uma livraria, iniciou o magistério, decidiu estudar no ensino médio normal, cursou a faculdade de Serviço Social e, hoje, trabalha como secretária na Universidade. “Nunca fui resistente a mudanças, sempre tive facilidade em fazer várias coisas ao mesmo tempo”, conta Rita. Uma das maiores dificuldades para ela foi se adapatar à rotina quando a informática ainda era “um bicho-de-sete-cabeças” na Universidade. “Eu trabalhava numa administradora só com computadores. Quando entrei na USP foi um choque. As pessoas da secretaria aonde vim trabalhar, há dez anos, tinham certa resistência ao uso de computadores.”
“Hoje, mesmo em uma autarquia, você precisa se atualizar freqüentemente, ou está fora do mercado”, afirma Ana Lúcia Siqueira, secretária da diretoria do Museu de Arte Contemporânea (MAC). “A própria utilização de computadores requer constantes adaptações. Quando vim trabalhar na Universidade, em 1987, acompanhei o processo de informatização das unidades”, conta.
A pesquisa Juventude Brasileira e Democracia – participação, esferas e políticas públicas, desenvolvida pelo Instituto Polis e pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), ouviu diferentes jovens, com idade entre 15 e 24 anos, das regiões metropolitanas do Brasil e do Distrito Federal. Uma das constatações a que se chegou é que “trabalho, emprego, desemprego, falta de oportunidade” são as preocupações número um entre os jovens entrevistados em São Paulo e no Distrito Federal. Os jovens mostraram em diversos momentos da história que são capazes de atuar ativamente no processo democrático do País, como na ocasião em que foram às ruas reivindicando o impeachment de Fernando Collor. O estudo do Polis e do Ibase aponta que 28,1% dos entrevistados estão envolvidos com algum tipo de grupo, sendo que 42,5% desses participam de grupos religiosos e 4,3% de partidos políticos. Segundo a pesquisa, “os grupos de orientação religiosa, esportiva e artística constituem o substrato do associativismo juvenil nas regiões metropolitanas do Brasil de hoje”. Ana Lúcia, secretária no MAC, participava do grêmio de sua escola e do grupo de jovens de sua igreja, o mesmo do qual sua filha de 15 anos faz parte hoje.
A dívida que a sociedade brasileira tem com sua juventude está clara na história daqueles que cometeram um ato infracional nessa faixa etária. “Cada um deles denuncia a ausência de políticas sociais e culturais para os jovens brasileiros, principalmente aqueles sem acesso à maioria dos direitos sociais e individuais, como habitação, esporte, escolarização, lazer, saúde”, alerta Marilene. “A visão preconceituosa sobre a juventude precisa ser revista, sob pena de excluirmos cada vez mais uma parcela fundamental da população das práticas sociais e culturais e da constituição de uma sociedade de direitos.”
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