Se você não tem tempo para refletir sobre as tarefas em seu trabalho, nem em como executá-las. E, ainda, acha que não rende o quanto deveria para a sua idade...você pode estar sofrendo o chamado envelhecimento funcional precoce. “A falta de controle sobre seu trabalho leva a pessoa a uma sobrecarga física e psíquica que traz várias repercussões, como alterações cardiovasculares e outras ligadas à saúde mental”, afirma Frida Marina Fischer, professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP). “Alguém poderia dizer que você está doente porque fuma, não faz dieta, come errado, fica nervoso. Mas, mesmo que não fizesse tudo isso, existe a possibilidade de adoecer devido às condições de trabalho.”

foto:Francisco Emolo

Em um estudo com profissionais da área de enfermagem de um hospital de São Paulo, Frida verificou que 22, 8% deles, a maioria mulheres, têm capacidade de trabalho menor do que deveria para a sua idade, sendo 35 anos a média de idade dessas pessoas. Alguns fatores individuais também influenciam neste perfil, como ser o arrimo da família ou ter responsabilidade por crianças. Nas condições de trabalho, evidenciou-se um fator que vem sendo discutido há pouco tempo no Brasil, o assédio moral. Nos resultados, quem sofreu abuso verbal, ou de alguma forma passou por grandes constrangimentos, está associado à perda da capacidade de trabalho.

“Fiquei chateado quando chamaram minha atenção por atender telefonema particular”, conta Paulo Airton Soares da Silva, fotógrafo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) em Piracicaba. “Agora, me preocupo em avisar para não ligarem no meu trabalho.” De qualquer forma, Paulo diz não ficar muito estressado, fazendo o que gosta e traçando sempre uma linha de trabalho. “Quando estou mais agitado, me preparo psicológica e fisicamente, dormindo nas horas certas, por exemplo.”

O envelhecimento precoce pode levar ao desenvolvimento de doenças que impedem a pessoa de continuar executando determinada tarefa, ou mesmo manter-se no trabalho. “Uma das preocupações que se tem hoje é quanto ao sistema previdenciário mundial, pois a quantidade de pessoas idosas está crescendo e o número daqueles que vão repor a força de trabalho dessa parte da população não está aumentando proporcionalmente. “Além de haver um natural afastamento do trabalho em decorrência do tempo de serviço, dezenas de milhares de trabalhadores são afastados anualmente de seus postos por ficarem doente”, atesta Frida.

O desgaste provocado por más condições de trabalho e de vida se apresenta de várias maneiras e tem motivos diversos. O estresse não é apenas uma conseqüência do ritmo acelerado da vida atual, “é uma resposta fisiológica do organismo em função das atribulações da vida moderna, mas também das dificuldades com que a pessoa se depara diante do seu trabalho ou não trabalho”, explica Frida. Isso porque, o trabalho informal no Brasil, chamado também de trabalho precário, chega a representar 50% da mão-de-obra de algumas capitais brasileiras e a chance dessas pessoas se manterem saudáveis, assim como dos desempregados, é menor.

As preocupações com as questões do trabalho são praticamente inseparáveis das preocupações com a vida particular. “Eu não consigo separar, chegar em casa e esquecer do que se passa aqui”, conta Sandra Regina Arcanjo de Melo, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura Administrativa do Campus de Ribeirão Preto. Sandra, que já se afastou por dez dias em virtude de uma tendinite fruto do uso excessivo do computador, tenta lidar com o estresse praticando atividades físicas como a dança. “Passamos por fases no ambiente de trabalho. Agora está tranqüilo, mas já houve épocas mais estressantes.”

É comum ouvirmos sobre técnicas e exercícios para o controle do estresse, porém, segundo a professora da FSP isso jamais será suficiente para impedir doenças e afastamentos do trabalho e mesmo a incapacidade precoce de continuar trabalhando, se não houver boas condições de trabalho. “O que quer dizer que o indivíduo sozinho não dá conta de amenizar completamente, nem manter fatores positivos ligados à saúde, se o ambiente de trabalho não for favorável.” Quem quiser tirar mais dúvidas com a professora Frida Marina Fischer pode enviar e-mail para o endereço fmfische@usp.br.