"Uma escola viva e desafiadora, diversa nas posições teóricas e ideológicas, mas extremamente coesa na vontade de propor e realizar novos feitos e se superar nas realizações.” Com essas palavras, Maria Tereza Leme Fleury, professora e diretora da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), abriu a cerimônia comemorativa pelos 60 anos da instituição em 2006. No entanto, a celebração do sexagenário só vai se completar nos próximos meses, quando outras atividades serão realizadas para homenagear a faculdade. O surgimento da faculdade ocorreu num período de grande instabilidade no País (pós-guerra, disputas entre as elites e o impacto das imigrações). Naquele momento já era necessário implantar um centro superior para estudos mais complexos sobre a realidade econômica e política do Brasil. Até então, existiam apenas as obsoletas Escolas de Comércio, formadas na época do império.
Em 1934, quando a USP foi fundada, era prevista a criação de um instituto de ciências econômicas e comerciais, plano que não veio a se consolidar. Só em 1945, após o 1º Congresso Brasileiro de Economia, foi baixado um decreto pelo Estado de São Paulo para estabelecer os cursos de Economia e Administração, e Ciências Contábeis e Atuariais. Assim, em 1946, a USP criou a FCEA (Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas), que vem a se chamar FEA somente em 1969. O primeiro endereço foi a rua Doutor Vila Nova, no Centro, e o início teve alguns improvisos: o espaço era dividido pela FCEA e a Faculdade de Filosofia, e o quadro de professores tinha falta de especialistas, pois não havia quase nenhum no País. Esses fatores, porém, foram superados, como diz o ex-diretor Sérgio Iudícibus (gestão 1979-1983): “O sucesso da escola foi construído por várias gerações de alunos, professores e funcionários. Porém, volto meus pensamentos para o papel de nossos pioneiros: com a sua sabedoria, experiência e visão, fundaram a deram amparo à instituição cujo futuro era incerto”, fala Iudícibus. A mesma história pode ser vista por um outro ângulo, como diz o ex-ministro da fazenda e Professor Emérito Antônio Delfim Netto: “O nascimento da FEA foi repleto de entusiasmo, mas feito por um conjunto de amadores. Por aqui não havia profissionais da área, exceto dois professores estrangeiros. E um deles era português”, brinca. “Tivemos um começo no improviso, mas junto de um esforço extraordinário.”
Depois de 60 anos, a FEA não é mais o único centro especializado na área. Apesar disso, ela tem seus diferenciais, como cita a diretora Maria Tereza: “Em primeiro lugar, estamos inseridos na USP, um ambiente cultural muito rico. Aqui, a ênfase às pesquisas associada ao ensino e extensão garantem a excelência. Em segundo lugar, nossa faculdade une três departamentos (Economia, Administração e Contabilidade) que, embora diferentes, se complementam e contribuem para gerar a pluralidade de pensamentos”, explica.
Para comemorar o aniversário e a diversidade cultural da FEA, foi realizada uma cerimônia, com direito a muitas formalidades, sem deixar ninguém de fora das homenagens. Das mais famosas autoridades (como o deputado federal Delfim Netto) até a simplicidade indispensável dos funcionários, houve o reconhecimento pela contribuição que as diversas pessoas dentro da faculdade prestaram para consolidar a atual FEA. Com mais de 30 anos dedicados ao trabalho na instituição, o ex-funcionário Manoel Martinez Alva foi agraciado com uma placa: “Estou muito feliz, não esperava esse afeto, essa distinção”, disse Martinez emocionado. Ele esteve presente como porteiro e vigia na faculdade desde que ela ainda tinha como endereço a rua Doutor Vila Nova. Lembranças? Sim, ele tem várias: “ A cena mais clara para mim é a das festas estudantis, a cantoria, o violão e jovens dançando até em cima das mesas”, relembra. “E hoje eles estão aqui, de paletó”, conta.
“Sábado à noite tomávamos cuba libre, crush com vodca, e Coca-Cola com pinga e limão, sempre ouvindo MPB. Mas é claro que também escutávamos Beatles”, conta o professor de Economia Denisar Oliveira Alves. Memórias como essa, além dos famosos cheques fictícios da contabilidade ou o bar da quitanda, podem ser vistas no site www.fea60anos.com.br. O endereço também faz parte das comemorações pelo sexagenário da escola e apresenta aos visitantes a linha do tempo com datas que influenciaram os rumos da vida feana. Outras sessões apresentam dados sobre os cursos, o ensino, as fundações, biografias de diretores e professores, e fotos de 1940 até hoje. “Fazemos questão de não deixar ninguém de fora. A importância da escola está nas pessoas que já passaram por aqui ou estão conosco no presente. Olhem nossos alunos: são críticos, questionadores, pragmáticos e, ao mesmo tempo preocupados e responsáveis”, lembra a diretora Maria Tereza.
A estudante de graduação Helena Pécora comenta: “Na condição de alunos, temos que contribuir com o ambiente de ensino. E, para o futuro, precisamos nos preocupar com as próximas gerações”. Neta de casal formado na FEA, Helena cursa o 4º ano de Economia e vê a Universidade como sua casa: “Não viemos aqui só para as aulas. A convivência é também a troca de experiências e a amizade”. Serviço Para completar a celebração dos 60 anos, a instituição terá ao longo do ano: |