O frio e as férias são a combinação ideal para deixarmos de lado o que é mais saudável à mesa e nos entregarmos a guloseimas, mas há como se esquentar sem sair da linha

“Atitudes radicais como fazer jejum, promessas, pular refeições, remédios, shakes, apostas e deixar para começar a dieta na segunda-feira não funcionam.” Sônia Tucunduva Philippi

Quem nunca pensou em começar a comer direito na segunda-feira? Ou ouviu falar em reeducação alimentar e logo imagina formas mirabolantes para emagrecer? Mas uma alimentação saudável não significa comer apenas o que é verde ou dizer adeus ao chocolate. Muito menos é usada apenas para emagrecer, pelo contrário, pode ser ferramenta para quem quer engordar sem perder a saúde. Para a professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) Sônia Tucunduva Philippi, o segredo para comer melhor e com prazer é combinar bons hábitos alimentares, escolhas inteligentes e a busca por uma vida saudável, com equilíbrio e bom humor.

A falta de informação sobre o valor nutritivo e a quantidade adequada de cada alimento faz com que uma dieta saudável pareça algo difícil e confuso. No inverno, o incentivo ao consumo de alimentos mais gordurosos e calóricos aumenta e o corpo fica mais escondido por calças e casacos. O resultado é o desânimo ainda maior para começar a comer direito. “Nenhum alimento deve ser proibido, desde que seja ingerido em menores quantidades. Por isso é melhor ir devagar e conseguir resultados mais duradouros do que mudar radicalmente os hábitos alimentares”, afirma Sônia.

“É muito comum, principalmente entre as mulheres, dizer que não come nada, passa fome o dia inteiro, come só no almoço e no jantar e está supergorda”, conta Viviane Laudelino Vieira, nutricionista do Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza da FSP. A nutricionista explica que o problema pode estar exatamente nessa rotina. “Quando a pessoa come, o corpo está necessitando tanto de energia que retém tudo aquilo e não a deixa emagrecer. Ela acaba engordando comendo muito pouco.” Viviane percebe que as pessoas começam a se interessar em comer melhor, mesmo que isso não envolva emagrecimento, como no caso de esportistas e gestantes.

Precisamos também prestar atenção nos motivos pelos quais comemos, muitas vezes, eles não tem nada a ver com fome. As pessoas podem comer porque estão ansiosas ou tristes. No caso da ansiedade, a solução pode estar em encontrar um passatempo, como uma atividade física que, além de diminuir a tensão, aumenta a perda de energia. “Alimentos que não tenham muita gordura, de fácil digestão, dão uma sensação maior de tranqüilidade”, afirma Viviane.

Pequenas mudanças no dia-a-dia podem significar grandes avanços, como a substituição de um doce por uma fruta na sobremesa. O problema é que o consumo de frutas e hortaliças na população brasileira é muito deficiente, seja por falta de renda ou de tempo. É muito mais fácil colocar um brigadeiro na boca do que descascar uma laranja. Além disso, se considerarmos a renda de uma família para comprar o arroz, o feijão e a carne, as frutas e hortaliças são deixadas para segundo plano.

Foi com a intenção de motivar seus funcionários a ter uma boa alimentação, e, assim, melhorar suas condições de saúde, que o Hospital das Clínicas (HC) aderiu ao Programa Calorias Inteligentes. O programa foi proposto pelo Instituto de Saúde Integral (ISI) à Secretaria Estadual de Saúde, que escolheu o HC como melhor local para sua implantação. “Como fator motivador, foi definida uma meta de perda coletiva de peso de 5 toneladas em um ano e meio”, conta Haino Burmester, chefe de gabinete da Superintendência do HC. “Estamos no caminho de atingi-la em razão das adesões já verificadas.”

A idéia do programa foi juntar as tabelas de controle de calorias, de glicemia e de gordura numa só tabela de alimentação saudável, facilitando o entendimento e o controle de seus usuários. O cadastramento para o Calorias Inteligentes está aberto aos funcionários do Prédio Administrativo (PA) e do Instituto da Criança (ICr) do HC. Os inscritos recebem uma tabela de bolso para controlar o que comem e toda semana são pesados e avaliados por nutricionistas. “Os outros funcionários podem se cadastrar pelo site, a diferença é que eles não vão ter, por enquanto, esse atendimento personalizado”, explica a nutricionista do ISI Kelly Fu.

Até o momento cerca de 30% dos funcionários do PA aderiram e já emagreceram 400 kg . “Não é um programa de emagrecimento, mas de qualidade alimentar”, salienta Kelly. “Já vieram duas pessoas querendo engordar e outras que procuraram o programa querendo manter o peso comendo direito.” Márcio Cruz Santos, técnico de laboratório do ICr, é um dos que querem ganhar peso. “Como sou um pouco alto, cerca de 1,80 m , sempre me achei meio magro”, conta Márcio. “Peso 63 kg e gostaria de pesar entre 75 kg e 80 kg .”

As pessoas que querem engordar sem prejudicar a saúde devem optar por alimentos com número elevado de calorias, porém que contenham gordura monoinsaturada, como abacate, azeite e castanhas. “Esse tipo de gordura ajuda a diminuir o colesterol ruim, aumentando o bom”, explica Viviane. Acontece que esses casos são exceção, a maioria das pessoas quer mesmo é perder peso. “Tenho um problema físico e engordei 4 kg nos últimos dois anos, o que não me faz bem”, conta Elaine Ribeiro Dias, também técnica de laboratório no ICr.

Manter uma alimentação saudável já é difícil no verão, quando estamos mais dispostos para atividades físicas e as saladas e verduras parecem mais apetitosas, imagine no inverno. Quem não gosta de salada crua, nesta época, pode optar pelos refogados. Ocorre uma perda de vitaminas hidrossolúveis, como a vitamina C, mas as fibras se mantêm e garantem o bom funcionamento do intestino. No caso das sopas cremosas, o efeito pode ser obtido batendo os legumes no liquidificador, evitando-se, assim, o creme de leite. O chocolate também pode ser um vilão nesta época do ano, mas não precisa ser excluído da dieta.

O cacau do chocolate tem substâncias que melhoram nosso humor. Sendo o inverno uma época em que as pessoas ficam mais deprimidas, os chamados chocólatras o procuram com mais avidez. “Recomendamos o chocolate amargo, porque tem maior concentração de cacau”, afirma Kelly. “Você come menos, 30 g por dia é suficiente, e consegue suprir a necessidade de compulsão.” A professora Sônia, autora do livro A dieta do bom humor, lembra que muitos outros alimentos são capazes de afetar nosso temperamento e, ainda, são aliados de uma alimentação saudável, como brócolis, aveia, espinafre e folhas verde-escuras, pimenta, banana, manga, melão, frutas-secas, laranja, maracujá, alface, peixes.

Outro problema do frio é que bebemos menos líquidos, porque sentimos menos sede, principalmente os idosos. Isso não quer dizer que nosso corpo não precise da mesma quantidade de água. O ideal para uma pessoa adulta é tomar de um e meio a dois litros de água por dia, ou seja, de seis a oito copos. “Uma tática simples é sempre que for ao banheiro fazer xixi, vá à cozinha tomar um copo cheio de água, isso vai se tornando um ciclo”, sugere Viviane. Uma outra opção são os chás de ervas, que esquentam o corpo e garantem a hidratação.

Além de o friozinho aumentar nosso apetite, colabora para a diminuição das atividades físicas. Se os adultos não conseguem se controlar com as guloseimas, menos ainda a criançada de férias. Por isso, os hábitos saudáveis precisam começar no supermercado, dando preferência para bolachas sem recheio e pães integrais, abastecendo a casa com o que é saudável. Assim, não só fica mais fácil controlar o consumo de calorias, como você terá uma qualidade de vida melhor. E isso não tem nada a ver com dietas milagrosas, nem precisa começar na segunda-feira.