Quando existe um amistoso e forte relacionamento com o ente próximo, filho ou amigo, é normal desejar-lhe o bem-estar. O mesmo ocorre no caso deste ente querido ser o nosso bicho de estimação. Atento a esta consideração, o mercado de pet shops tem expandido a variedade de acessórios e serviços dedicados a cães, gatos e outros animais agregados aos lares. O dono que tiver vontade, e puder pagar, tem muito a oferecer aos “filhotes”. Por outro lado, diante da grande aceitação do público, o fenômeno contrário também ocorre: o mercado é quem faz a “sugestão” de consumo, expondo produtos muitas vezes desnecessários, mas que atraem o consumidor pelo seu caráter exclusivo ou inusitado.
“Os animais são parte da família, e, como tal, merecem o cuidado necessário”, diz Eugênia Fonseca, assessora de comunicação do Pet Center Marginal. “Se o mercado está crescendo assim é porque tem gente que acredita nisso.” Por ser a primeira loja da capital a ficar aberta 24 horas por dia, ganhou muitos pontos na corrida do marketing. Hoje, há clientes que levam seus bichinhos para banho e tosa às três da manhã. De acordo com a Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o Brasil é o segundo maior mercado na área, com mais de 8 mil lojas. Desde camisetas e blusões de moletom (entre R$ 18,00 e R$ 90,00), os pet shops oferecem até trajes sociais como vestidos e smokings (R$ 170,00). Há linha completa de estética – sais de banho, perfume, colônia, desembaraçante de pêlos, mousses antioleosidade (cerca de R$ 35,00); confeitaria – bolo de aniversário (R$ 30,00), bolo de casamento (de R$ 50,00 a R$ 250,00); creche – mensalidade de R$ 400,00, inclui alimentação, passeios e ambiente climatizado; joalheria e moda – coleiras com toques de ouro (R$ 50,00) ou estilizadas pela marca francesa Luis Vuitton (R$ 600,00); cemitérios – alas (a partir de R$ 150,00), velório, cremação e urna personalizada (R$ 900,00); até serviços exclusivos de táxi, treinamento esportivo e clínicas psicológicas. “Se houver tendência à humanização, o mercado vai mesmo se voltar para isso. Ele é resultado do comportamento das pessoas”, afirma Fátima Martins, professora e veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. Segundo Fátima, deve ser respeitada a condição animal dos nossos bichos de estimação, sem transferir a eles as neuroses humanas – preocupação excessiva com o visual, peso, relacionamentos, stress, entre outros. “O bom senso deve predominar. Os pets precisam ficar à vontade, porque não têm nada a ver com os nossos gostinhos”.
No serviço de graduação da Escola de Comunicações e Artes, a funcionária Maria Fernanda Bianchi fala dos seus gestos com Frederico, seu cão lhasa apso que completou 8 anos recentemente: “Teve festinha sim. Não convidei outros cachorros por falta de espaço no apartamento”. Para o animal não ficar sozinho enquanto Fernanda vai trabalhar, ela contratou uma empregada doméstica. “Ela também cuida da casa, mas só a chamei por causa do Frederico.” Ciente de que dá um tratamento diferenciado ao bichinho, ela responde: “Não tenho filhos, mas tenho a oportunidade de extravasar o meu amor com um ser. Gostar de animais não quer dizer que não me preocupo com gente, mas cada um pede cuidados diferentes. Dentro das minhas condições, eu cuido de um cachorro. No caso da festa de aniversário para ele, o que importa é a confraternização com os amigos, não o motivo da festa”.
Mas, para outras pessoas, festa de bicho não tem a menor graça. “É um absurdo, coisa de grã-fino!”, diz Claudionor Barbosa, funcionário da gráfica do Instituto de Geociências. “Jamais gastaria dinheiro numa festa para o meu gato. Se é para confraternizar, chamo direto os amigos para um churrasco, independente de cachorro, gato ou mesmo de gente.” Barbosa considera essencial dar atenção e comida para os animais, porém discorda de festas, pulseiras e outros acessórios diferenciados.
A psicóloga e veterinária Hannelore Fulchs afirma que “o animal é o prisioneiro numa gaiola de ouro”. Ela destaca a satisfação imediata absorvida pelo homem ao presentear um cachorro ou gato, gesto cuja ação não tem recusa. “O pet é fadado a se submeter, não por índole, mas pelas circunstâncias.” Para Hannelore, não é possível apontar o mercado como responsável por tamanha demanda, pois julga que o interesse é grande por parte das lojas e também do público. Por isso, defende que “é preciso conviver com os animais, não torná-los acessórios. O importante é cumprir as necessidades biológicas e comportamentais dos pets , não brincar de boneca com eles”.
A veterinária da USP, Fátima Martins, trabalha a relação entre homens e bichos visando proporcionar o equilíbrio. Ela desenvolve o projeto Animais na Escola com o objetivo de mostrar às crianças informações e o contato com várias espécies. “Através das necessidades de cada bichinho, é possível notar o essencial e o dispensável para ele. Desse modo, incorporamos esse equilíbrio para nossas vidas, aplicando-o também nos cuidados com nossos próprios animais.”
SERVIÇO
Creche
Pet Life : Rua Visconde de Nacar, 147 – Morumbi. Fone: (11) 3758-1366 Clínica de
Estética
Big Shower: Rua Chamantá, 1.118 – Mooca. Fone: (11) 6161-2626 CãoCarinho: Rua Tucumã, 353 - Jardim Europa. Fone: (11) 3814-4029 Pet Maniacs: Rua Tucuna, 929 – Perdizes. Fone: (11) 3872-1980 Moda e jóias
Táxi (serviço
especializado em transporte de cães) Confeitaria (doces
próprios para animais) Atendimento Psicológico (trata fobias,
solidão e traumas dos animais) Treinamento Esportivo (combinam preparo físico
e adestramento) Cemitério
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