Renan tem muitos amigos e primos, mas o problema para o menino de 8 anos eram os dias de chuva, quando tinha de ficar dentro do apartamento sem ninguém para brincar. A solução era reclamar para a mãe um irmãozinho. E deu certo. Recentemente, Margarete Suely de Almeida, aos 46 anos, deu à luz Felipe. “Eu sabia dos riscos da gestação tardia”, conta a funcionária do Departamento Financeiro da Reitoria atendida no Hospital Universitário (HU).

créditos: Cecília Bastos


Ficar grávida depois dos 40 anos é uma situação que se torna freqüente em nossa sociedade. Segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde, a proporção de nascidos vivos no Brasil passou de 1,75%, em 1996, para 1,95%, em 2002. Somente no Estado de São Paulo, o aumento foi de 1,67% para 2,03% no mesmo período. Nos países desenvolvidos, o fenômeno é semelhante. Os índices refletem a mudança de perfil das mulheres, que procuram cada vez mais estudar e se estabelecer na profissão para, depois, pensar em ter filhos.

Percebendo que a literatura médica não possuía trabalhos de acompanhamento dessas gestações, apenas estudos baseados em levantamento de dados, a médica obstetra Tânia Regina Schupp passou a acompanhar essas gestantes no Ambulatório de Idade Materna Avançada da Clínica de Obstetrícia do Hospital das Clínicas (HC).

créditos: Cecília Bastos

Duzentas e oitenta e uma gestantes com idade entre 40 e 48 anos fizeram o pré-natal com Tânia, que divulgou os dados verificados durante sete anos de estudo em sua tese de doutorado defendida em junho na Faculdade de Medicina. “Hoje, o ginecologista é um clínico da mulher, o ideal é que ela o procure antes de engravidar. Quando acontecer, está com os exames controlados e sabendo dos riscos”, afirma.

O mais difícil para a mulher de 40 anos não é fazer o pré-natal e ganhar o bebê, é engravidar, porque sua fecundidade diminui com o passar dos anos. “Antes de engravidar procurei uma ginecologista aqui no HU. Ela me deu várias dicas para aumentar as chances, como evitar tomar café”, conta Margarete. “Se a gestante acompanhar direito o pré-natal, vai ser tranqüilo, apesar dos riscos maiores”, diz Tânia.

O mais freqüente deles em gestações tardias é a Síndrome de Down. As mulheres nascem com o número de óvulos que vão ter para a vida toda. Quanto mais velho, maior a chance de um óvulo sofrer mutação. “O risco de Síndrome de Down é inevitável, porém o pré-natal bem-feito detecta o problema, evitando a surpresa quando o bebê nasce”, explica a obstetra. A idade materna avançada está associada, ainda, com incidência maior de más-formações e outras síndromes mais raras.

créditos: Cecília Bastos

Quando Marina, hoje com 9 anos, nasceu, Maria Madalena dos Santos Romanholo, técnica contábil e financeira da Reitoria, tinha 41 anos. “Foi sem programar, mas aceitei numa boa, assim como meu marido e minhas filhas que hoje têm 20 e 21 anos”, lembra Maria. “Em uma das consultas, a médica pediu que eu fizesse um exame para verificar se o bebê tinha Síndrome de Down. Eu não quis fazer, do jeito que viesse seria bem-aceito, esqueci e não me preocupei com essa possibilidade”, conta.

Noventa e um por cento das grávidas acompanhadas por Tânia eram casadas ou viviam com um companheiro e 65% delas exerciam alguma atividade profissional. “As pacientes que têm parceiro possuem estabilidade de relacionamento, de qualidade de vida. Então, ela consegue vir nas consultas do pré-natal, porque tem o marido trabalhando também, o sustento da família não depende só dela”, diz a médica.

créditos: Cecília Bastos

“Casei-me novamente há cinco anos e há dois anos passei por dois abortos que me deixaram um pouco traumatizada. Esperei dois anos para engravidar de novo, o Enrico nasce em novembro”, comemora Vânia Filomena Zeferino também do Departamento Financeiro da Reitoria. “Fiquei feliz e apreensiva, com medo de que acontecesse outro aborto, mas está sendo muito tranqüilo.” No sexto mês de gestação, Vânia completa 40 anos antes de o bebê nascer. Na pesquisa de Tânia, a troca de parceiro foi o incentivo para 24% das gestações.

créditos: Cecília Bastos

O pré-natal bem-feito é a principal recomendação em uma gestação tardia. Com ele, pode-se controlar problemas como o diabetes gestacional e a doença hipertensiva específica da gestação. “A principal causa do óbito fetal – com mais de 20 semanas de gestação – é não ter feito pré-natal. No meu grupo, que são pacientes de risco, houve 1,4% de casos, sendo que o índice geral do HC é de 4,4%. Somente o pré-natal bem-feito baixou a incidência”, revela Tânia.

As gestantes que se interessarem em ter um acompanhamento específico para gestações tardias podem ser atendidas no Ambulatório de Idade Materna Avançada da Clínica de Obstetrícia do HC. A triagem é feita de segunda a sexta, exceto às quartas-feiras, das 7h às 10h. A Clínica Obstétrica do HU, que realizou 293 partos em mulheres acima dos 35 anos entre julho de 2005 e junho de 2006, atende pelo telefone 3039-9200.