
“A falta de postura no Congresso contribui
para que haja falta de educação
das pessoas, principalmente das novas gerações.” Jacilene

Pouca gente sabe que,
entre outras atividades, o professor Dallari é também
vice-presidente da Associação
de Moradores do Bairro Vila Nova Conceição. “Conseguimos
expulsar a Daslu do bairro. Ela se sustentava
a partir de contrabando e sonegação,
e as madames continuam a freqüentar
a loja. Na época, até oferecemos óculos
para os fiscais da Prefeitura. Deviam ser
míopes.” |
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Para ter uma noção sobre
a postura das várias classes sociais,
uma pesquisa do IBPT (Instituto Brasileiro
de Planejamento Tributário) levanta
importante dado: se não houvesse sonegação
fiscal de pessoas físicas ou empresas,
a arrecadação tributária
chegaria a 59% do PIB. Atualmente, este índice
bate 40%, que já é o mais pesado
da América Latina (na Argentina, oscila
entre 23% e 25% do PIB). O número
revela o quanto os brasileiros dão
calote nas contas públicas.
“É preciso não ter a ingenuidade
de achar que a corrupção é exclusiva
da vida pública”, garante Dalmo de
Abreu Dallari, professor da Faculdade de
Direito da USP e membro da Comissão
de Ética da Universidade. “A maioria
dos beneficiários não tem vida
pública. São pessoas que corrompem
o guarda no trânsito e o fiscal de
obras, por exemplo. A sonegação
fiscal é o mesmo que roubar dinheiro
do povo.”
O especialista em direito explica que a
corrupção é um problema
histórico no Brasil, principalmente
nas regiões mais pobres, onde reina
o coronelismo. Desde a colônia, os
latifundiários viviam segundo uma
norma própria, suprimindo os valores
da população local (veja
mais no final da reportagem). “E o jeitinho
brasileiro se orgulha dos favorecimentos,
da amizade com o rei, com o governante ou
o poderoso”,
protesta Dallari.
Na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas), a funcionária
Maria do Socorro Monteiro reclama desse tipo
de postura que encontra no ambiente de trabalho: “Existem
círculos fechados de pessoas que sempre
procuram se beneficiar antes dos colegas.
São os chamados espertos”.
Alguns nomes como Ângela Guadagnin,
famosa pela dança da pizza, e o presidente
do Vasco da Gama, Eurico Miranda, alvo de
sete processos criminais em andamento, chegaram
a ter suas candidaturas negadas. Após
recursos junto ao Tribunal Superior Eleitoral,
conseguiram o direito de concorrer às
eleições, mas até aí,
foram barrados por acusação
de falta de idoneidade moral.
Para o professor
Dallari, o combate à corrupção
se dá com a divulgação
de informações relevantes para
o eleitorado discernir a conduta dos profissionais
da política. “O povo tem o direito
e o dever de participar. E pode fazer isso
através de associações
de trabalhadores numa empresa, num bairro,
onde for. Como dizia Montesquieu (pensador político
do século XVIII), a força
do grupo compensa a fraqueza do indivíduo.”
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A
(falta de) ética enraizada
Por
séculos, os senhores de engenho
concentraram o poder sobre as comunidades
ao redor. Tal era a força econômica
dos latifúndios, que as regras estabelecidas
pelo proprietário facilmente suplantavam
a autoridade do governante da província.
Criavam-se aí microcosmos onde os
valores sociais eram manipulados pela figura
do latifundiário. No mesmo período
colonial, o Padre Antônio Vieira criticou
duramente a atuação de colegas
da Igreja Católica. Segundo ele, muitos
padres não arrebanhavam novos católicos
porque pregavam somente para os ouvidos,
não para os olhos. Vieira se referia à falta
de comprometimento dos outros padres em dar
exemplo. “Isso disseminou a idéia
de que o importante é não se
deixar flagrar e buscar sempre ser favorecido”,
explica o professor Dallari. E para não
ficar só no tempo do Brasil colônia,
basta lembrar do lema do partido republicano,
escandalosamente divulgado já no século
20:
“Para os amigos, tudo. Para os inimigos,
a lei”. |