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Nas escadas rolantes
e paredes das estações de Metrô,
em São Paulo, um anúncio publicitário
chama a atenção com os dizeres: “Apatia?”, “Irritabilidade?”, “Desinteresse
sexual?” Por último: “Isso pode ser andropausa” e
o endereço da clínica médica.
Andropausa existe, mas é bem diferente do
que o nome ou a propaganda acima levam a crer.
“O termo é biologicamente incorreto”, explica
o urologista Aguinaldo Nardi, do Centrinho (Hospital
de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais)
da USP em Bauru. “Ao contrário do que acontece
nas mulheres durante a menopausa, o homem não
vive a interrupção [pausa] na produção
de seu hormônio sexual, a testosterona.” O
médico explica que o fenômeno masculino
está relacionado à alteração
nos níveis desse hormônio no sangue,
mas não à sua parada total. Por isso,
não pode ser comparado com a menopausa (veja
mais diferenças na imagem abaixo).
Junto dessa mudança, aparecem diversos sintomas,
além dos mencionados na propaganda do Metrô:
dificuldades de concentração, de ereção,
problemas de memória, insônia, depressão,
aumento da gordura corporal, osteoporose e perda
de pêlos. No entanto, um diagnóstico
exato não pode ser feito apenas através
dos sintomas. Problemas de coração,
uso de medicamentos, estresse e cansaço também
são grandes causadores de reações
parecidas. Portanto, somente a consulta médica
pode confirmar o quadro.
“É uma coisa muito subjetiva. Eu trabalho
e estudo a noite, ando cansado o tempo todo”, diz
o bem-humorado Reginaldo Mariano da Silva, 48 anos,
funcionário da Escola Politécnica. “Cheguei
a ir ao geriatra. Fiquei sabendo que ainda sou muito
novo para uma consulta com ele. Mas deixou claro
que é preciso saber envelhecer. Isso significa
entender o que é natural.” |
![Cecília Bastos](ilustras/comporta03.jpg)
“Nos Estados Unidos,
o mercado de anabolizantes e testosterona movimenta
US$ 2 bilhões por ano. É uma exploração”,
diz o professor Miguel Srougi.
![](ilustras/comportamento04.jpg)
“A dieta também é muito importante como preventivo dos sintomas
da andropausa. Os homens nesta faixa etária devem restringir o colesterol
e o açúcar, além de comer alimentos com maior teor de sais
minerais e vitaminas, tais como hortaliças em geral e frutas.” Jocelem
Salgado, professora de nutrição da Esalq (Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz)
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A expectativa de vida cresceu significativamente
nas últimas décadas e a longevidade
deixa mais evidente nos homens os efeitos da diminuição
do testosterona ao longo dos anos. Por isso, fala-se
mais em andropausa hoje em dia. Alguns médicos
consideram o fenômeno responsável direto
pela perda de qualidade na vida masculina, e julgam
necessário iniciar o tratamento com reposição
hormonal. Outros, no entanto, entendem que a reposição
deve ser feita apenas em indivíduos afetados
pelo Daem, isto é, quando existe uma alteração
comprovadamente anormal.
“Como a andropausa não é algo muito
claro, e a reposição da testosterona
pode causar transtornos, só deve ser usada
em casos fora do comum para os homens”, recomenda
Miguel Srougi, urologista e professor da Faculdade
de Medicina da USP. Ele também cita um artigo
de outubro do New England Medicine Journal,
uma das publicações médicas
mais importantes no mundo científico. O artigo
coloca em xeque os resultados da reposição
hormonal, geralmente utilizada para combater os sintomas
da andropausa - perda de libido, aumento da gordura
corporal e descalcificação óssea.
Segundo os estudos divulgados, o uso de testosterona
só é capaz de amenizar a descalcificação.
Isso confirma o equívoco na utilização
do hormônio para garantir bom desempenho sexual,
como muitos consumidores desavisados pensam ao comprar
medicamento sem recomendação médica.
A caminho do consultório
Um tratamento adequado com reposição
hormonal não provoca câncer. A contra-indicação é feita
somente em caso de pessoas que já possuem
um tumor na próstata.
O não acompanhamento da andropausa e do Daem
implica na convivência com sintomas muito perturbadores
para o homem. A irritabilidade, apatia e desinteresse
sexual atrapalham a qualidade de vida. “A consulta
ao médico vai certificar que as perturbações
não foram causadas por fatores psicológicos.
Aí tem início o tratamento”, explica
o urologista Aguinaldo Nardi.
Por isso, é importante quebrar o tabu que
afasta homens do consultório médico. “Meu
marido só faz consultas porque é uma
exigência da empresa”, acusa Leonor Andrade,
bibliotecária da Escola Politécnica. “Ele
tem medo de descobrir que tem algum problema no organismo”,
completa. Na USP Leste, a secretária Rosana
Cunha afirma: “É preciso entender que ir ao
médico é uma coisa natural”.
Reginaldo Mariano da Silva, da Escola Politécnica,
concorda que existe o tabu: “Acho até um defeito.
A gente nunca vê um grupo de homens falando
sobre isso. Por conseqüência, tem menos
divulgação das informações.” Por
outro lado, João Notoriano, funcionário
da Reitoria, em resposta à enquête da
revista Espaço Aberto, deu
uma luz: “ Desconheço qualquer menção
a esse tipo de preconceito. Seria descabido e inconseqüente,
pois nada melhor que procurar atendimento médico
nesses momentos. A opção pela dor e
sofrimento por conta da desinformação é aceitável,
mas por preconceito, é ignorância pura”. |