![Créditos: Cecília Bastos](ilustras/comportamento02.jpg)
“A criança precisa de uma agenda folgada. É importante suprir o
tempo com qualidade ao invés de quantidade”, avisa Macedo
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![](img_internas/teste.gif) |
![](img_internas/teste.gif)
Agenda cheia durante
a maior parte da semana não é exclusividade
de gente grande. Muitas crianças acordam
cedinho e, além da escola, ainda ficam ocupadas
o dia todo com aulas de idioma, informática,
esporte, dança e outras várias disciplinas
complementares. É tudo de que precisam para “vencer
na vida” quando estiverem adultas, certo? Errado.
As crianças precisam, essencialmente, de
tempo livre. Sem isso, chegam a sofrer de estresse
como adultos.
“É na folga da infância que a criança
vai brincar, criar e fazer experimentações
de acordo com os seus interesses. Esse contato permite
que ela conheça a realidade do mundo”, explica
o professor e coordenador do Laboratório de
Psicopedagogia do IP (Instituto de Psicologia), Lino
de Macedo. “Se ela não tiver tempo livre,
perderá uma oportunidade única no seu
processo de desenvolvimento, pois é um momento
de exploração livre, sem compromisso,
pressão dos horários ou do grupo”,
completa.
Macedo também alerta, ao contrário
do que os pais costumam crer, que as aulas da escola
voltadas para atividades recreativas não servem
para substituir o tempo livre. “Não é a
mesma coisa. Na escolinha, a criança é dirigida
por um adulto. De certo modo, isso vira uma obrigação.
O bom é ela poder escolher como brincar, segundo
seus critérios próprios.”
Apesar do alerta do professor, é complicado
resolver o dilema. A necessidade de compensar as
aulas fracas do colégio leva muitas crianças
aos cursos particulares. Enquanto isso, os pais estão
longe do lar, enfrentando a jornada de trabalho ou
dedicados a especializações. Ainda
que o excesso de atividades na infância seja
prejudicial, a situação tornou-se solução
para uma classe privilegiada com recursos para bancar
a ocupação da criançada. Ao
mesmo tempo em que os pais arrumam um adulto qualificado
para cuidar das crianças, garantem que os
pequenos estejam sendo preparados para o competitivo
mercado de trabalho lá na frente.
“Eu gostaria que minha filha pudesse fazer mais
coisas à tarde”, conta Cássia Eliane,
funcionária da clínica da Faculdade
de Odontologia. Mãe de uma já pré-adolescente,
ela sofreu nas vezes em que precisou deixar a menina
sem companhia em casa. E ao mesmo tempo, Cássia
tem a preocupação com o futuro profissional
da garota. “Minha filha quer se preparar. Agora,
está procurando um curso de inglês que
vai ser dado pelo governo. Não são
todos que têm condições de pagar”,
conta.
O estresse
Segundo a pesquisadora Roselene Crepaldi, do Laboratório
de Psicopedagogia, o ritmo da sociedade provoca o
afastamento dos pais, mesmo que todos tenham a real
vontade de passar mais tempo com seus filhos. “O
problema é o convívio esquecido. As
famílias acabam por transmitir a responsabilidade
da educação para as escolas, que oferecem
um aprendizado cheio de regras e fórmulas.
Onde ficam os valores humanos que se aprendem em
casa?”, questiona. |
![créditos: João Neves](ilustras/comportamento01.jpg)
“Melhor deixar a correria para os adultos. Senão, quando elas vão
poder ser criança?” Clélia Cardoso.
![créditos: João Neves](ilustras/comportamento03.jpg)
Sandra precisa organizar a vida dos três filhos. Para evitar
aulas extras, procurou uma escola com período estendido
e mais atividades. Quem não pode pagar, precisa de outra
solução.
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O resultado do
afastamento são crianças com agenda completa
para compensar essa ausência. Então, de
maneira natural e impensada, os pequenos procuram estratégias
forçadas para conseguir algum tempo livre. É aí que
surgem as birras, manhas e fingimentos, além
dos sintomas do estresse como falta de concentração,
irritabilidade e carência.
A funcionária Clélia Camargo Cardoso,
do Centro de Informática do campus de Ribeirão
Preto (Cirp), testemunhou esses casos durante um
período em que trabalhou como professora antes
de chegar à Universidade. “Eu via muitos alunos
com tempo contado. Depois da aula eles já tinham
outras coisas marcadas, viviam numa correria igual
a de adultos.”
O professor Lino de Macedo, do IP, ressalta que
a tendência é exatamente essa: crianças
imitando adultos. “Eu entendo a preocupação
dos pais em organizar a agenda dos filhos. Mas, a
agenda cheia na infância provoca hábitos
idênticos aos dos mais velhos: chegar em casa
e deitar no sofá, ficar assistindo à TV,
ir dormir, etc. Enfim, a criança fica passiva.”
De acordo com o psicopedagogo, o recomendado é que
meninos e meninas de até 12 anos não
fiquem mais que seis horas do dia ocupados. “São
quatro horas de escola e mais duas com atividades
programadas. Esse valor é variável,
há crianças mais tranqüilas e
outras mais excitadas. O importante é que
tenham tempo livre em um ambiente familiar, com companhia
e brinquedos, podendo exercitar, sem compromissos,
a própria realidade.”
A funcionária da seção de eventos
do IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica),
Sandra Nava, procurou um modo de amenizar a distância
dos três filhos, um com sete anos, e os gêmeos,
com quatro. “Eu sei que eles sentem minha falta,
e eu não confio em babás ou empregadas
para cuidar deles.” A solução de Sandra
foi procurar uma escola em período semi-integral,
onde já são oferecidas todas as aulas
que costumam ser complementadas em cursos particulares,
como inglês, informática e natação. “Eu
fico aliviada ao deixa-los sob cuidados de adultos
bem orientados. Já em casa, para suprir nosso
afastamento, eu e meu marido pensamos em atividades
para fazer os filhos participarem da nossa vida.
Eles me ajudam a preparar a mesa do jantar, lavar
uma salada, e eu os ajudo com lição
de casa ou brincamos de desenhar. Quando estão
mais cansados, eu leio uma história ou rezamos.” |