texto: Circe Bonatelli
Fotos: Francisco Emolo/ Cecília Bastos

Gettyimages.com

Créditos: Cecília BastosA caderneta é para uso do próprio idoso. Ele é quem autoriza o médico a checá-la .

 

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“A caderneta não é resolutiva nela própria, claro. Mas é uma das medidas que podem ajudar a ampliar a qualidade de atendimento ao idoso.”

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“É uma medida que vai na contramão da história”, diz Jacob.

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“Pessoas de idade tem um longo histórico que esquecem de contar”, diz a geriatra Liz, do HU.

 

Crédito: Franisco Emolo

A partir de janeiro, os indivíduos com mais de 60 anos vão receber a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa. O documento faz parte de um pacote de medidas lançadas pelo governo há dois meses, com foco na terceira idade. Na caderneta ficará registrado o histórico clínico do idoso. A idéia de imprimir mais um documento para o cidadão é que as informações ali presentes permitam ao médico uma ação mais ágil e abrangente.

O Ministério da Saúde prepara um lote inicial com cerca de 5 milhões de exemplares. O número é suficiente para atender 29,5% da população idosa no Brasil, estimada em 17 milhões, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

As cadernetas serão distribuídas primeiramente para os cadastrados no Programa Saúde da Família, durante consultas ou visita domiciliar da equipe do programa. Em seguida chegarão às demais pessoas através de outros locais de atendimento, como os postos de saúde.

O livreto é um documento que o idoso deve portar sempre. Ele vai conter nome, endereço, quem avisar em caso de emergência, tipo sangüíneo, entre outros. Além dessas informações básicas, também vão constar dados médicos: internações e cirurgias recentes, ocorrência de quedas e fraturas, alergias, uso de medicamentos, vícios (cigarro, bebidas) e atuais problemas de saúde.

“A caderneta cabe no bolso. Onde o idoso estiver, vai facilitar o atendimento, porque o médico não começará uma consulta a partir do zero”, explica a professora da Escola de Enfermagem da USP Yeda Duarte. Ela participou do projeto coordenando a redaçã o dos manuais que orientam profissionais da saúde sobre como preencher a caderneta.

Outra vantagem, que Yeda cita, é a tentativa de agilizar o atendimento emergencial, quando o idoso está desorientado e não consegue informar a própria identidade ou o contato de familiares.

Ela completa: “Também é trabalhada a noção de continuidade do tratamento. Com o histórico da saúde em mãos, espera-se que os médicos sejam mais pró-ativos e não aguardem um resultado ruim para iniciar intervenções preventivas”.

Contraponto

Ainda é cedo para afirmar se a iniciativa do governo vai dar certo. No entanto, o médico Wilson Jacob, diretor do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas, ressalta alguns pontos que considera extremamente falhos.

“Só quem acompanha pacientes do SUS sabe o quanto é difícil a nossa população preservar e portar documentos, exames clínicos, carteira de vacinação, etc. O caminho correto é informatizar as informações e fornecer uma senha. Assim, o paciente e/ou seu responsável legal poderá abrir um prontuário eletrônico via internet onde constarão todos os dados fundamentais ao atendimento do paciente.”

Jacob também acha que a caderneta deixa vulneráveis informações pessoais que deveriam ser sigilosas. “ Como garantir que os idosos terão condições de discernir quem pode acessar sua caderneta de saúde?”

Idade frágil

Segundo informa a assessoria do Ministério da Saúde, a caderneta pretende abranger a possibilidade de cuidados com os idosos frágeis. São considerados frágeis aqueles com doenças causadoras de incapacidades funcionais, os hospitalizados recentemente por quaisquer razões, os que passam a maior parte do tempo na cama, e os maiores de 75 anos. São consideradas autônomas as pessoas capazes de tomar banho, alimentar-se, pegar transportes, organizar medicamentos e cuidar de outras necessidades básicas sozinhas.

A geriatra Liz Yoshihara, do Hospital Universitário, lembra que uma das dificuldades que pacientes idosos apresentam é explicar todas as suas fragilidades na saúde. Por isso, deixa algumas recomendações (veja abaixo) para quem toma conta de pessoas de idade avançada.

 

Certifique-se que o idoso não está impedido de se alimentar corretamente por causa de problemas com a prótese dentária.

Incentive medidas profiláticas como a vacinação. No caso da gripe, a vacinação foi prejudicada pelo boato de que ela serviria “para matar velhinhos”.

Preste atenção às condições de visão e audição. Com essas percepções afetadas, o idoso participa menos do círculo social.

Evite ao máximo as quedas. Fraturas e cirurgias são responsáveis por um alto índice de óbitos nos meses seguintes. Mesmo na recuperação, a experiência da queda deixa a insegurança de uma nova queda.

Organize os medicamentos: deixe bem indicado os horários e quantidade a ser tomada. Se necessário, pinte os frascos com cores diferentes para facilitar a identificação.

 

 

 
 
 
 
 
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