
Na escalada esportiva também é possível participar
de competições dentro e fora do Brasil. Em 2006,
atletas brasileiros foram os primeiros sul-americanos a chegar
ao torneio mundial, que foi realizado na Eslovênia.

Bertuzzi: “Isso é musculação e ioga direto
na parede.”

Uma vez por semana, o ex-politécnico Carlos sai do trabalho
e vai escalar. “É sagrado, esqueço até o happy
hour ”.

O analista de sistemas Luiz Massonari escala há oito anos.
No indoor, ele se prepara para encarar a rocha.
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Encarar um paredão
com dez metros de altura, subindo de agarra em agarra
por caminhos inclinados. Na escalada indoor,
a satisfação está em vencer os
desafios para alcançar o topo. E depois, começar
tudo de novo em uma outra parede ou por um novo trajeto,
ainda mais específico. O esporte exige muita
concentração e uma parcela de resistência
física. Ao contrário do que se pensa,
adrenalina e juventude não são requisitos
para iniciar na modalidade. Homens na faixa dos 30
e 40 anos em busca de entretenimento correspondem a
uma boa parte dos praticantes.
Derivada do alpinismo, a escalada indoor surgiu
como uma opção de treino e diversão
para os dias em que o clima estava pouco favorável
nos morros e montanhas. O objetivo é realizar
a subida nos simuladores de rocha, como os muros de
alvenaria e estruturas de aço revestidas de
placas. Essas superfícies são cobertas
por várias agarras feitas de resina criadas
para imitar a pedra.
A modalidade chegou ao Brasil por volta de 1987. Nos últimos
anos, ocorreu um aumento de academias que procuram
fazer da escalada indoor um diferencial para
atrair mais clientes. Assim, instalam um paredão
simples no canto das salas. Outra alternativa em São
Paulo e no interior é procurar ginásios
mais aprofundados no assunto (veja dicas no final
da matéria). Eles oferecem cursos para
o aluno aprender a dominar os movimentos de subida
no muro, e também fazem o trabalho de preparação
para saídas na rocha de verdade, onde o risco é iminente.
“Como no futebol ou basquete, a escalada indoor também
oferece um certo risco, mas é coisa muito pequena.
A pessoa está sujeita a torções
ou mau-jeitos, mas nada perigoso”, explica Rômulo
Bertuzzi, atleta da modalidade e doutorando da EEFE
(Escola de Educação Física e Esporte)
que elaborou uma tese de mestrado sobre a fisiologia
e gastos energéticos da escalada. “Já a
subida em meio à natureza tem o perigo absoluto
de pancadas na rocha, quedas e a própria morte.
Não tem segunda chance para negligência.
Só que a filosofia do outdoor é outra,
carrega a sensação do contato do homem
com a natureza.”
O equipamento completo é obrigatório
e garante a segurança do praticante. Sapatilhas
(dão mais aderência e sensibilidade de
tato aos pés), cadeirinha, mosquetão,
corda (para suporte) e saco de magnésio (diminui
a umidade das mãos) são indispensáveis.
Com R$ 400,00 é possível comprar todos
esses itens. Quem optar por não gastar tudo
isso, pode ir aos ginásios, onde o equipamento é disponibilizado
para uso nos cursos ou diárias.
Dentro da escalada indoor, há diferentes opções
para subida. Pode-se escolher as paredes altas, onde
o acesso só é permitido com o equipamento
e auxílio de um amigo que segura a outra extremidade
da corda. Outra opção é as escalada
em superfícies mais baixas e tortuosas, em que
o chão é coberto por colchões.
Crianças a partir dos 12 anos podem participar.
As contra-indicações valem apenas para
indivíduos com problemas na articulação,
coração, alto grau de obesidade, ou medo
excessivo de altura.
Filosofia e xadrez
Praticante do esporte há quase 20 anos, Paulo
Gil é proprietário de um dos dois amplos
ginásios existentes em São Paulo. Ele
entende a escalada como uma modalidade ligada à satisfação
em vencer desafios e ao divertimento da subida, não
determinada pela exigência da superação
física. “A escalada indoor é uma
atividade essencialmente mental. O corpo só vai
atrás”, diz. “E não tem muito desse lado
radical como se fala por aí. Fazer uma travessia
com alto grau de dificuldade é como resolver
uma equação matemática ou jogar
xadrez. Precisa ter paciência e atenção.”
O grau de dificuldade é medido pela inclinação
da parede, que pode ser chamada positiva – inclinada
para frente do praticante – ou negativa – para trás,
chegando a tirar o apoio para os pés. E também
existe o desafio das vias específicas. Separadas
por cores, as agarras determinam onde é permitido
se segurar, deixando mais fácil ou difícil
o caminho. Isso garante um vasto leque de oportunidades
para uma única parede.
O ex-aluno da Escola Politécnica, Paulo Yamaguchi,
conta os motivos que o levam para a escalada. “Primeiro,
porque libera o estresse. Além disso, é um
esporte que me diverte. E ainda tem o círculo
social, a gente faz e encontra vários amigos.”
O analista de sistemas da Faculdade de Medicina Veterinária
e Zootecnia da USP Luiz Eduardo Massonari conheceu
o esporte em 1998. “Tem mesmo essa coisa de ser uma
grande família, mas cada um procura seu foco – treino,
exercício, diversão, etc. O comum para
todos é a grande experiência corporal
e a oportunidade do auto conhecimento pelo uso da mobilidade,
concentração, centro de gravidade e relação
de confiança. Depois, a gente percebe que o
importante da viagem não é a chegada,
mas sim o caminho.” |