![Crédito: Cecília Bastos](ilustras/perfil01.jpg)
“Quando estava no primeiro ano do curso preparatório da Escola Politécnica,
assisti a um filme sobre a vida de Pasteur que me causou uma mudança gostosa.”
![Crédito: Cecília Bastos](ilustras/perfil04.jpg)
“O apoio da Fundação Rockefeller foi muito importante para
a ciência brasileira. Eu fui um dos muitos privilegiados.”
![Crédito: Cecília Bastos](ilustras/perfil05.jpg)
“No 1º semestre em Brasília, passava a maior parte do tempo
discutindo com os políticos o número e o valor das bolsas de mestrado
e doutorado.”
![Crédito: Cecília Bastos](ilustras/perfil06.jpg)
Segundo Pavan, qualquer lado de observação é válido
para suas obras, “você escolhe o que acha mais gostoso”.
![Crédito: Cecília Bastos](ilustras/perfil02.jpg)
Nas horas vagas, o professor faz esculturas com raízes de árvores.
Um dos destaques na sala de sua casa é a Mulher Perfeita. O nome é uma
brincadeira de Pavan, pois “ela tem três pernas, três braços
e uma cabeça pequenininha”.
![Crédito: Cecília Bastos](ilustras/perfil03.jpg)
Pavan com o troféu Guerreiro da Educação.
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![](img_internas/teste.gif) |
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Crodowaldo Pavan é Professor
Emérito da USP e da Unicamp há mais
de uma década. Aos 87 anos, continua buscando
novas descobertas como pesquisador voluntário
no Instituto de Ciências Biomédicas.
O curioso é que a escolha pela biologia
foi influenciada pelo cinema. Depois de assistir
a um filme, protagonizado por Paul Muni, sobre
a história de vida de Luis Pasteur, Pavan
decidiu: “Quero fazer o que Pasteur fazia”.
A família do biólogo era dona de
uma indústria de porcelana em Mogi das Cruzes,
o que o levou a ingressar no curso preparatório
da Escola Politécnica. Mas no primeiro ano, “assisti
a um filme sobre a vida de Pasteur que me causou
uma mudança”. Estava semeada no coração
do jovem a vontade de pesquisar.
“Fui a uma palestra do professor de biologia
André Dreyfus e perguntei para ele o que fazer
para ser como Pasteur. Ele disse ‘quem?’ – devo
ter pronunciado um Pasteur meio atrapalhado –,
expliquei ‘esse do filme do Paul Muni.’” Poderia
estudar na Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras, cursando História Natural. E assim
o fez. Em 1938, aos 19 anos, se tornou aluno do curso
indicado por Dreyfus.
Para se divertir, Pavan e um colega da Faculdade
de Medicina tinham o hábito de conhecer cabarés, “não
para fazer farra, só por curiosidade”.
Como não tínhamos dinheiro, íamos
já que abria e os donos gostavam que tivesse
fregueses para atrair outros. Colocavam uma garrafa
de cerveja e copos vazios, como se já tivéssemos
tomado, e ficávamos conversando com as meninas”,
conta Pavan.
Em 41, quando terminava a graduação,
a Fundação Rockefeller mandou um representante
para sondar pessoas interessadas em receber auxílio
para pesquisa. “O apoio da Rockefeller foi
muito importante para a ciência brasileira.
De 42 a 62, ajudou no desenvolvimento da biologia,
da química, da física, da matemática.
Eu fui um dos muitos privilegiados.”
Nessa época, Pavan trabalhava como técnico
no laboratório de Dreyfus, quando o professor
Theodosius Dobzhansky veio para o Brasil estudar
a genética das moscas de fruta. Em 45, uma
bolsa levou Pavan a passar um ano e meio no laboratório
do Dobzhansky na Universidade de Columbia em Nova
York. Nessa viagem, “conheci duas personalidades
extraordinárias, os filhos do José Ermírio
de Moraes, Antonio Ermírio e José Ermírio
de Moraes Filho, que estavam indo estudar nos Estados
Unidos”. Os três ficaram amigos durante
as longas paradas do avião.
Assim que retornou dos Estados Unidos, em 1946,
Pavan casou-se com a namorada que deixara no Brasil
e ex-aluna Maria de Lourdes de Oliveira Pavan. Quando
terminou o curso de História Natural, o professor
se prontificou a dar aulas gratuitas de preparação
para o vestibular. “Dentre os alunos apareceu
uma que me impressionou.” Da união,
que durou até 1988, quando Maria de Lourdes
faleceu, resultaram três filhos e cinco netos.
Em 49, durante uma excursão ao litoral,
Pavan trouxe algumas larvas que encontrou. “Dois
dias depois estava no laboratório, às
23h, quando vejo as larvas querendo sair do vidro,
tiro uma delas, faço uma lâmina e pela
primeira vez vi o maior cromossomo politênico
da minha vida.” Essas moscas, Rhynchosciara angelae,
têm algumas características extraordinárias
que já renderam mais de 50 teses.
Em 53, os pesquisadores Watson e Creek descobriram
que os cromossomos são feitos essencialmente
de DNA. Foi, então, criado o dogma da genética
mundial de que todas as células de um mesmo
organismo têm os mesmos gens e a mesma quantidade
de DNA. “Analisando o desenvolvimento dessas
larvas, verifiquei que durante o desenvolvimento
da Rhynchosciara acontecia o aumento de
DNA no cromossomo. Isso era um absurdo genético.” Pavan
levou oito anos para que a comunidade científica
aceitasse sua hipótese.
O incansável professor teve tempo ainda
de entrar na política para defender a ciência,
de 86 a 90 foi presidente do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). "No 1º semestre em Brasília,
passava a maior parte do tempo discutindo com os
políticos o número e o valor das bolsas
de mestrado e doutorado.” O resultado foi que
nos três primeiros anos de Pavan à frente
do CNPq foram concedidas mais bolsas do que nos 31
anos anteriores da instituição.
Hoje, como pesquisador voluntário no ICB,
Pavan estuda as bactérias presentes em ovos
de aves, principalmente galinha, e sementes de plantas.
Segundo o pesquisador, um terço do peso da
gema são bactérias benéficas
relacionadas à regeneração das
células. “Quero colocar células-tronco
de camundongo no ovo e ver o que acontece. Se a célula
se desenvolver com a goma produzida pelas bactérias,
vai dar muito pano para mangas”, prevê.
O pesquisador recebeu recentemente o Prêmio
Professor Emérito 2006 – Troféu
Guerreiro da Educação, concedido anualmente
pelo Centro de Integração Empresa-Escola
(Ciee) e pelo jornal O Estado de S. Paulo. O que
fez brotar a reconhecida paixão do biólogo
pelo conhecimento não se pode determinar,
mas com certeza a temporada de um ano na casa da
avó em São Paulo colaborou. “Essa é uma
história interessante que marcou minha vida.” A
família ainda morava em Mogi das Cruzes, quando
Pavan, aos dez anos, veio para São Paulo morar
com a avó para tratar do amarelão.
O português, língua que a avó falava
muito bem, era proibido, pois queria que o neto aprendesse
italiano. “Ela me disse uma coisa fantástica: ‘Fazendo
isso você vai aprender italiano e tudo que
a gente coloca na cabeça como aprendizado
ninguém tira de nós.’”.
Além disso, o menino gostava muito de consertar
coisas, como fechaduras, cortinas, e a avó o
incentivava. “Ela nunca reclamou quando eu
quebrava alguma coisa e sempre dizia: ‘Só não
quebra quem não faz nada.’”.
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