texto: Circe Bonatelli
Fotos: Francisco Emolo

©: Francisco Emolo

 

 

 

 

 

 

 

 


©: Francisco Emolo
O desafio está em fazer o adversário “passar” a jogada. Para isso, é preciso calcular através das peças que apareceram na mesa e na própria mão.

 

 

 

 

 

©: Francisco Emolo
O melhor é jogar a “carroça” ou double – pedra com um valor só – pois ela só dá uma opção de jogada. Na foto, o double seis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

reprodução
Com mais pedras na mesa, podem jogar mais do que quatro pessoas. O desafio para calcular as jogadas também aumenta.


Jogar dominó é um costume que os brasileiros compartilham com os vizinhos latinos. Porém, enquanto no Brasil as partidas se concentram em clubes esportivos, eventos municipais e churrascos entre amigos, países como Cuba e México têm federações e jogadores profissionais que viajam o mundo para disputar campeonatos. E mais: na Europa, o dominó é intelectualizado e o desafio está em resolver cálculos matemáticos.

A história aponta a China como berço do dominó, pois lá foram encontradas peças com origem no século 12. Ele teria sido uma invenção para juntar o resultado do lançamento simultâneo de dois dados. Na Europa, os primeiros registros são do século 18. Sugere-se até que o nome derive da expressão latina domino gratia (graças a Deus), dita por padres ao vencer as partidas.

A regra do jogo é simples: vence aquele que baixar todas as sete pedras primeiro. Ele deve associar cada pedra à sua igual em uma extremidade das pedras na mesa. Começa a partida quem tiver o double seis – a peça com dois seis. Podem jogar duas, três ou quatro pessoas, em formato individual ou duplas.

No Restaurante Central, a febre do dominó é crônica. Todo santo dia, é sagrado o dominó no intervalo do expediente, entre as 14h e 15h. A nutricionista responsável pelo Bandeijão, Carmen Mazzelli, trabalha há 20 anos na casa e diz nunca ter visto a turma faltar nas partidas. “Eles jogam desde todo o sempre”, garante.

Quem termina a refeição depois das 14h já deve ter visto a cena: dois ou três funcionários pegam uma mesa, atravessam a porta de saída e se posicionam na sombra ao lado do refeitório das bandejas (lado direito). Outros dois ou três funcionários fazem o mesmo e o agrupamento toma volume. Às 14h15, já são pelo menos dez homens, divididos em duplas, duas em cada mesa. Os demais aguardam para substituir quem perder a rodada. Às 14h20, a única presença feminina surge com uma jarra de café, servindo o pessoal em copos plásticos.

O funcionário Valdemar Pereira confirma: “Só não joga quem já foi embora ou morreu!”. Em seguida, ele levanta a pedra na mão e desce na mesa, arrancando um sonoro “Táá!”. É que durante as partidas, o costume brasileiro sugere bater o dominó na mesa quando for colocá-lo na seqüência do jogo. O barulho “Táá!” não é obrigatório, mas dá um tempero.

As partidas no Bandeijão não têm apostas. “É mais como diversão para tirar o estresse do trabalho. O nosso serviço é bem pesado”, diz o funcionário João Evangelista. Ele também conta que não há brigas. “Às vezes alguém fica bravo e joga o dominó longe. Mas é só. Tem mais é diversão mesmo.” Se, por acaso, o dominó se perder ou quebrar com muitos “Táás”, todos se reúnem e fazem uma “vaquinha” para comprar outro.

Enquanto isso, a maior graça é fazer piada do companheiro quando ele perde a rodada sem somar nenhum ponto. É a chamada “lambreta”. Nos arredores do restaurante, o que mais se escuta é: “Ih, Sassá, não tem um dia sem você tomar lambreta!”, ou “Ei, Tiozinho, como você quer bater se só vai de lambreta?”, ou ainda “Quantos dias levam daqui pro Piauí de lambreta, hein?!”.

Dominó no mundo

Cuba lidera o ranking da FID (Federação Internacional de Dominó ), seguida por Panamá, Venezuela e México. Os países caribenhos se tornaram uma referência para o dominó mundial ao se organizarem com federações nacionais, jogadores filiados e copas com participantes estrangeiros. O Panamá saiu na frente de todos e criou sua federação em 1966. Cuba foi o primeiro a declarar o dominó um esporte, em 2003. A Espanha também avançou e compartilha com os latino-americanos os Congressos Mundiais que estabelecem datas de eventos e aprimoram as regras do esporte. Nos Estados Unidos, a maciça presença dos latinos nos Estados sulistas impulsionou os encontros de jogadores e eventos comerciais. Desde maio de 2006, o canal televisivo ESPN Deportes (canal da ESPN dedicado à América Latina) transmite o torneio de Las Vegas, equipando-o com celebridades, sotaque castelhano e grandes prêmios.

Já no restante da Europa, é bastante comum o dominó duplo-nove, duplo-doze e duplo-quinze. Nessas modalidades, o maior valor de cada pedra não é o seis. Ele se estende até o quinze, aumentando o número de peças em jogo. No duplo-seis, o mais conhecido no Brasil, são 28 pedras. Nos outros são 55, 91 e 136, respectivamente.

Os jogos de muitas pedras têm um caráter mais intelectual e menos festivo/latino. A Alemanha e a Suíça são as maiores potências. Só entre os germânicos, há 168 jogadores profissionais ranqueados.

Dia do Dominó

A celebração desta data, geralmente em novembro, está muito mais relacionada ao show-business do que ao jogo. O Dia do Dominó nasceu com a proposta de um novo recorde. Em 1988, 1,302 milhão de peças foram usadas para montar um efeito dominó de visual arrojado. Surgiu aí a tradição. Em 2006, 90 “empilhadores” de 13 países diferentes se reuniram na Holanda para criar um espetáculo cheio de cores e luzes em que foi estabelecido o novo recorde: 4,002 milhões de pedras derrubadas. Assista ao vídeo.

 

 
 
 
 
 
O Espaço Aberto é uma publicação mensal da Universidade de São Paulo produzida pela CCS - Coordenadoria de Comunicação Social.
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