![©: arquivo pessoal](ilustras/perfil01.jpg)
Maria do Carmo em pé, com a irmã mais nova do lado. Elas
cresceram vendo o desenvolvimento da Escola de Engenharia.
![©: arquivo pessoal](ilustras/perfil02.jpg)
Maria do Carmo durante aula, em 1991.
Maria
do Carmo assinando o termo de posse de diretora da
EESC, em 9 de março.
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![](img_internas/teste.gif) |
![](img_internas/teste.gif)
Primeira mulher a
comandar a EESC, a professora Maria do Carmo é detalhista,
cobra pontualidade e assume que preteriu o papel
de dona de casa.
“Aos pioneiros, por amor muito humano aos temerários,
perdoam-se sempre duas coisas: o ousar e o errar.” A
frase da historiadora Ruth Guimarães foi escolhida
pela professora Maria do Carmo Calijuri – e certamente
não por acaso – para encerrar seu discurso de
posse, no dia 9 de março deste ano. Nesta data,
em cerimônia solene, ela assumiu a direção
da Escola de Engenharia de São Carlos e, por
conseqüência, tornou-se referência
na história da unidade por ser a primeira mulher – e
bióloga – a ocupar o cargo desde sua fundação,
no início da década de 50.
Natural de São Carlos – o que também
a distingue dos demais diretores, a professora tem
mais duas irmãs e cresceu vendo o início
da Escola de Engenharia. “Ainda criança, me
lembro que, quando recebíamos visitas em casa,
meu pai as trazia para conhecer a Escola de Engenharia
e o prédio E-1. Acho que essa relação
de proximidade dos são-carlenses com a Escola
sempre foi muito forte”, recorda Maria do Carmo, 50
anos.
Embora já tivesse nos planos um curso na área
biológica, a professora disse que, de alguma
forma, se via dentro da EESC, principalmente depois
de se matricular em algumas disciplinas oferecidas
no período noturno pelo Caaso, o Centro Acadêmico
da Escola. Mas o início na USP, em março
78, foi através de outro campus: após
concluir o ensino médio no Colégio São
Carlos, administrado por irmãs de uma congregação
francesa, a professora foi aprovada no vestibular para
Biologia, na Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Ribeirão Preto. “Iniciava ali a
realização de um grande sonho; um sonho
que durou muito pouco. Em abril, meu pai faleceu em
um acidente de carro, quando voltava de uma visita
que foi me fazer. Para contenção de despesas,
tive que ajustar os planos e, em julho daquele mesmo
ano, prestei novo vestibular e ingressei no curso de
Ciências Biológicas, da Universidade Federal
de São Carlos.”
Na UFSCar, Maria do Carmo concluiu bacharelado e licenciatura – a última
opção, ela admite que foi por insistência
dos professores – e com a autorização
do chefe de departamento, porque ainda não havia
sido diplomada, se inscreveu para o exame de Mestrado.
Aprovada em primeiro lugar, em três anos defendeu
a dissertação. O próximo passo
foi em direção à Escola de Engenharia
de São Carlos, mais especificamente ao Departamento
de Hidráulica e Saneamento. Ali iniciou o doutorado,
seguindo seu tema de pesquisa (sistemas aquáticos)
e ao mesmo tempo agregando conhecimento de outras áreas. “Eu
queria fazer o doutorado em outra universidade para
diversificar; para acrescentar uma visão diferente.
Foi muito bom. Eu era a única bióloga
da minha classe; o restante, só engenheiros.
E as aulas... eram para engenheiros. Lembro que estudava
todas as noites na biblioteca e eles me ajudavam nas
minhas deficiências. Tive que estudar muito,
mas isso também acrescentou muito à minha
formação.”
Determinada, a professora terminou o doutorado em
dezembro de 88 e, em julho do ano seguinte, foi contratada
pela Escola de Engenharia para ministrar aulas na graduação.
Era o começo do trabalho que cresceu, diversificou
e resultou em sua indicação para o maior
cargo da unidade. As aulas na graduação
se estenderam para a pós-graduação.
Depois veio a coordenação de dois programas
de pós-graduação e, em 2002, assumiu
seu último cargo antes da diretoria: o de presidente
da Comissão de Pós-Graduação
da EESC, com 19 áreas de concentração
e cerca de 1.300 alunos. “Assumi quando tinha acabado
de ser implementado o regimento da pós-graduação
na USP. Era muito difícil, porque os professores
não estavam adaptados ao novo sistema, mas acredito
que fiz um bom trabalho. Durante esses quatro anos,
participei de várias comissões na Pró-Reitoria
e tudo isso me deu uma experiência muito grande,
possibilitando que eu entendesse melhor como funcionava
a Universidade. Ainda não sei tudo”, disse.
Se o plano de estudante era ser bióloga e se
dedicar à pesquisa, as atividades desempenhadas
em sua carreira mostraram também afinidade para
a administração. O desafio maior, segundo
ela, no entanto, foi acatar a recomendação
de alguns professores e se lançar candidata à diretoria. “Não
foi fácil tomar essa decisão. Eu imaginava
que seria quase impossível por não ser
engenheira e por ser mulher, já que os votantes,
na grande maioria, são homens. Vou dizer a verdade:
a ficha realmente caiu no dia da votação.
Entrei no anfiteatro e me perguntei: Maria do Carmo
o que você está fazendo aqui? Aí só pensei:
acho que sou uma baixinha de muita coragem por ter
chegado aqui”, relembra ela, primeira da lista tríplice.
A indicação da nova diretora foi feita
pela professora Suely Vilela, que também deixa
seu registro como a primeira reitora da USP. Maria
do Carmo não se incomoda com esse destaque dado
ao fato de ser a primeira diretora, mas ressalta: “No
começo, logo depois de ser escolhida, ficou
um pouco complicado porque muitos colocavam assim: ‘Agora
as mulheres estão ocupando o lugar dos homens'.
E não é nada disso. A pessoa está lá porque é eficiente.
Na Universidade, todo mundo sabe exatamente o que a
gente faz”.
Em dois meses de administração – oficialmente
ela está no cargo desde 24 de fevereiro – a
professora já faz a analogia de que “a Escola
de Engenharia é um sistema ecológico
bastante equilibrado” e diz que, agora, o foco principal é dar
mais visibilidade nacional e principalmente internacional à EESC.
Diz também estar confiante em sua equipe. “O
mais importante quando você vai assumir um cargo é saber
quem são as pessoas da sua equipe de trabalho.
Me informei sobre o pessoal que já vinha trabalhando
para que pudesse confiar plenamente neles e trouxe
ainda os professores Márcio Corrêa e Fábio
Guerrini para me assessorar”, explica a professora,
que demonstra estar otimista com o desenvolvimento
do plano de gestão da Universidade, abordando
a desburocratização. “Eu gostaria que
muitas coisas acontecessem mais rápido na USP”,
arremata Maria do Carmo, que se diz ansiosa.
E essa característica não é a única
declarada pela diretora. “Tudo que eu posso agilizar
eu faço. Em cima da minha mesa não tem
um papel para assinar. Nada fica de um dia para o outro.
Meus alunos e as pessoas que trabalham comigo também
sabem que sou detalhista – até por culpa da
minha formação, – super-pontual – prazo é prazo – e
extremamente metódica (risos). Às vezes,
até me irrita, mas nesta idade não consigo
mais mudar.”
Levar teses e relatórios para casa era rotina,
mas com o novo cargo o número ficou maior. As
atividades de dona de casa ficam reservadas à mãe,
dona Carmen. Ela é quem administra tudo. “A
assistência que eu posso dar é em tempo
curto. Na verdade, nunca fui ligada em casa e parte
dessa culpa é da minha mãe mesmo. Ela
dizia sempre que o primeiro marido das filhas seria
o diploma. Fomos criadas para sermos profissionais
(a irmã mais velha é professora titular
na UFV e a mais nova médica).”
Ela, que não tem filhos, diz que o marido,
José Luiz de Genova, cirurgião-dentista,
compreende muito bem a dedicação à profissão. “Eu
me casei só depois do doutorado. Como começamos
a namorar no primeiro ano de faculdade, foram 11 anos.
Ele casou sabendo.... (risos). Então, a minha
dedicação foi essa. Muito excepcionalmente
eu vou ‘para a cozinha'; se tiver um restaurante aberto,
melhor”, brinca ela. |