texto: Daniel Fassa
Fotos: Cecília Bastos e Arquivo Pessoal

 

arte com imagens do arquivo pessoal de angelita e foto de Cecília Bastos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

©: arquivo pessoal
Quando garoto, Lage-Marques foi contra-baixista da banda Os Aranhas.

 

 

 

 

 

©: arquivo pessoal
Lage-Marques em sua viagem a Bom Jardim – PE, pelo Projeto Rondon.

 

 

 

 

©: arquivo pessoal
Capitão Lage-Marques e o cacique Tacumã, no Posto Leonardo da Reserva Indígena do Xingu, onde prestou serviços no período em que esteve na FAB.

 

 

 

 

 

 

©: arquivo pessoal
Lage-Marques participa de evento da IADR em Baltimor, nos EUA. No centro, Hector Lanfranch, Presidente da Federação latino-americana da IADR; à direita, Olga Zambrano, Presidente da Divisão da Venezuela.

 

 

 

 

 

 

©: arquivo pessoal
Lage-Marques em passeio com os filhos ainda pequenos.


Desde muito jovem, José Luiz Lage-Marques valoriza a promoção de políticas públicas na área de saúde. Não por acaso, escolheu a carreira de odontologia para colocar em prática um de seus principais valores: o serviço. Nessa caminhada, passou por projetos universitários de assistência a populações carentes, ajudou a trazer para o Brasil uma tecnologia que revolucionou o tratamento odontológico e se tornou um dos diretores da principal associação de pesquisa em odontologia do mundo.

Natural de São Paulo, Lage-Marques sempre estudou em escolas públicas da capital paulista. Durante o primário e o ginásio, foi um grande praticante de esportes e chegou a ser jogador federado de vôlei pelo Palmeiras. “Eu joguei uma boa parte no mirim, no infantil e princípio do juvenil. Quando terminei o ginásio, me desliguei definitivamente. Vários dos colegas que continuaram jogando foram campeões pela seleção brasileira, como o Willian Carvalho.”

O dentista se lembra até hoje do professor que o encaminhou para o esporte: “No colégio, tive excelentes professores de educação física. Um deles foi o Pedrão ( Pedro Henrique de Toledo ), que é aposentado aqui na EEFE (Escola de Educação Física e Esporte da USP). Ele foi técnico do João do Pulo, depois foi preparador físico da seleção de basquete”.

Também no período de colégio, Lage-Marques atuou como músico profissional e se tornou contrabaixista da banda Os Aranhas, formada por “jovens músicos que se diziam talentosos”, como ele mesmo a descreve. O grupo era contratado de um programa da TV Bandeirantes chamado Miniguarda, mas também se apresentava em outros canais de televisão. “Nós tínhamos algumas músicas próprias e fazíamos cover de Beatles, Rolling Stones, entre outras. Até hoje, somos um grupo bem fiel de amigos-irmãos: um médico, um engenheiro, um publicitário, um pesquisador e um dentista”, revela.

O ingresso na faculdade de odontologia transportou Lage-Marques para uma nova realidade. Agora, esporte e música não seriam mais vivenciados como atividades profissionais: continuariam a fazer parte de sua vida, porém como hobby. Em seu lugar, o engajamento político e social teriam prioridade. Foi então que Lage-Marques se tornou presidente do Centro Acadêmico da PUC de Campinas, onde estudava, sempre procurando viabilizar a prestação de serviços de saúde para a coletividade.

Com essa mesma intenção, ele participou do Projeto Rondon, que leva universitários de diversos campos do conhecimento a atender populações instaladas em áreas carentes de profissionais. “Fiz atuações locais (Santo Antônio de Posse – SP), que eram atuações iniciais de treinamento. Depois tive duas incursões para o Nordeste (Bom Jardim e Água Preta – PE)”, relembra.

No final da faculdade, como não tinha condições de abrir um consultório particular, Lage-Marques prestou concurso e se tornou cirurgião-dentista da Força Aérea Brasileira. Nessa ocasião, teve seu primeiro contato com aquilo que se tornaria sua especialidade pelo resto da carreira, a endodontia (área que trata do âmbito interno do dente, fazendo tratamento de canal, por exemplo): “Qual não foi o meu espanto quando, na apresentação, o chefe de serviço perguntou qual de nós gostaria de ser responsável pelo serviço de endodontia do 4º Comando Aéreo Regional. E eu brinco que até hoje não sei se eu dei o passo à frente ou se os outros que estavam comigo deram o passo atrás”.

A partir de então, o dentista aprofundaria cada vez mais seus conhecimentos, com muita leitura, cursos e seminários. Em 1981, iniciou um curso de especialização em endodontia na Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas. Pouco depois, passou a fazer parte da equipe do professor responsável pelo curso, João Humberto Antonizzi, como assistente clínico. O início da vida acadêmica se daria, por sua vez, na Universidade de Taubaté, onde começou a lecionar em 1983 e atua até hoje, como encarregado da pós-graduação. Com o ingresso no mestrado da USP, em 1985, Lage-Marques passa a ocupar o cargo de auxiliar de ensino na Universidade. Daí para a conclusão do doutorado e do pós-doutorado passaram-se 12 anos. Em 1997, o dentista torna-se livre-docente da USP.

Lage-Marques aproveitou seu pós-doutoramento – que foi feito na Universidade de Showa, no Japão – para, juntamente com o professor Carlos de Paula Eduardo, trazer ao Brasil uma nova tecnologia de tratamentos odontológicos baseada na utilização de laser. “Nós fomos ao Japão na busca de alternativas para a instalação de um centro aqui na Faculdade de Odontologia da USP (FO/USP). A nossa idéia não era só experimentar, mas reconhecer a infra-estrutura e sonhar com instalação aqui na FO. Com auxílio da Fapesp, em 1995 nós já tínhamos um centro de pesquisa e atendimento de laser na faculdade”, comemora.

O trabalho de Lage-Marques não se restringe apenas às universidades nas quais leciona e pesquisa. Entre 2000 e 2002, ele foi presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica e, em 2004, passou a fazer parte da diretoria da Associação Internacional para Pesquisa Odontológica (IADR, sigla em inglês). Além disso, em 2006, tornou-se o primeiro brasileiro a ser presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional da IADR, cuja função é avaliar projetos de pesquisa e distribuir verbas entre eles. Finalmente, em 2007, o dentista também foi convidado a compor uma comissão de 12 membros que visa a otimizar as ações regionais da IADR.

Apesar das tantas atribuições, Lage-Marques é casado, tem três filhos – duas meninas, já formadas, e um menino, cursando a faculdade – e vive um bom relacionamento familiar: “Sempre procurei cumprir as minhas obrigações de pai, de marido buscando conciliar o máximo possível. Vivemos muito bem porque existe um respeito muito grande sobre as atividades prazerosas, as atividades profissionais e os riscos que às vezes quero assumir. Na maioria das vezes, tudo é discutido, conversado”.

Na educação dos filhos, o pai e professor buscou estimular a independência. “Eu sempre tentei criar autonomia e fazê-los entender que eles tinham que solucionar seus próprios problemas. Hoje, isso me ‘incomoda', porque, como eu digo aos meus alunos, você se sente um bom professor quando percebe que está sendo dispensável. Criar autonomia, desligar a dependência é fundamental. Para os dias de hoje, a gente tem que criar os filhos bons para o mundo.”

Nesse ponto, Lage-Marques deixa transparecer um dos principais valores que nortearam sua própria vida: “Uma pessoa boa para o mundo é aquela que tem valores de doação, que é líder, mas um líder que serve, um líder que está pronto, está disponível, que valoriza a própria missão e oferece benefícios aos próximos. Para isso, você precisa ter muita paz, começar com você e, a partir daí, procurar oferecer o máximo possível para as pessoas que estão ao seu lado. Não custa nada dizer ‘obrigado', ou ‘gostei dessa ação', ou ‘está legal, mas precisa dar uma sintonizada'. Acho que isso é fundamental”.

 

 


 
 
 
 
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