por Marcos Jorge
fotos por Cecília Bastos


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Foto crédito: assessoria de imprensa
"A escola particular, na sua maioria, não adotou o sistema utilizado pela rede pública”, diz José Augusto de Mattos Lourenço


Ainda que propostas pela Secretaria da Educação, escolas particulares não adotam as mesmas medidas das públicas

Há um consenso geral na sociedade de que a escola particular é mais eficiente na educação das crianças e adolescentes. Exames e avaliações, sejam eles em nível federal, estadual ou mesmo o famigerado vestibular, parecem confirmar esta teoria ao constatar um melhor desempenho do aluno da rede privada em comparação à rede pública.

Para o professor Paro, do Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação da Faculdade de Educação, a diferença é que a escola pública de antigamente podia escolher seus alunos, à custa de inúmeros outros que nem sequer conseguiam ingressar nela. “Hoje a escola particular faz exatamente isso. Ela escolhe pela condição econômica, mas também conta com um estudante diferenciado, que muitas vezes tem professor particular, cursos de idiomas e pais com curso superior”, diz. “A escola apresenta um monte de conteúdo e obriga que ele estude, e o aluno aprende apesar da escola”.

Quanto ao currículo, metodologia e estrutura de ensino, a escola privada atua independentemente do que é proposto pela Secretaria da Educação. É o que diz o professor José Augusto de Mattos Lourenço, presidente da Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares), “a escola particular, na sua maioria, não adotou o sistema utilizado pela rede pública. Os alunos são avaliados, há notas bimestrais ou trimestrais, com trabalho sério na recuperação de alunos em defasagem com os conteúdos programáticos”, explica.

Maria do Carmo Brant, coordenadora-geral do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária), afirma que de fato o foco principal das secretarias, Ministério e demais entidades envolvidas com a educação é a escola pública. “Afinal de contas, ela tem 40 milhões de estudantes no Brasil todo, é uma população maior que a de muitos países do mundo”, afirma.


 

 

Foto crédito: Cecília Bastos
“Há hoje uma consciência na sociedade, que a educação não vai bem e nós temos que melhorar, (...) coisa que não havia no passado”, afirma Maria do Carmo Brant


Cenpec

Criado em 1987, o Cenpec surgiu em meio ao processo de redemocratização no país. Notava-se nesse período a necessidade de rever a educação numa sociedade que demandava melhor escolaridade da população brasileira. Ao longo de seus 20 anos, a ONG, formada por profissionais intimamente relacionados com o ensino, colaborou inúmeras vezes com o poder público na forma de elaboração de projetos, avaliações e pesquisas.

Com a propriedade de quem trabalha há anos com educação e encabeça uma equipe de professoras, ex-diretores de colégio e pedagogas, Maria do Carmo destaca a formação do professor. “O aluno não recebe instrumentos para ser professor em competências claras. Por exemplo, como ensinar as operações, como alfabetizar, como trabalhar pedagogicamente em sala de aula.”

Assessora de Maria do Carmo na coordenadoria-geral do Cenpec, Maria Amabile Mansutti, que teve uma longa experiência como diretora de escolas públicas antes de dedicar-se à ONG, avalia as recentes ações da Secretaria da Educação. Se a princípio algumas medidas resultaram ineficazes, ao menos estabeleceram um padrão a ser seguido pelas escolas públicas. O próximo passo agora é partir para ações mais específicas. “Houve vários momentos na educação, como a Progressão Continuada, programas de aceleração, etc. Porém, de dois anos para cá se estão cercando os problemas pontualmente”, explica Maria Amabile.

Entre os principais problemas nota-se uma distorção idade-série muito grande e problemas de alfabetização dos alunos. Espera-se que essas ações pontuais sejam mais eficientes na solução dessas questões. À essa política de acompanhamento do dia-a-dia em sala de aula soma-se o pacto da sociedade civil, que se uniu no intuito de melhorar a educação e ajudar o Estado no cumprimento de metas estabelecidas no compromisso Todos pela Educação. “Há hoje uma consciência na sociedade, que a educação não vai bem e nós temos que melhorar. Logo, há muito recurso sendo investido para dar conta dessas metas, que são concretas, coisa que não havia no passado”, conclui Maria do Carmo.

 
 
 
 
 
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