por Daniel Fassa
Fotos por Cecília Bastos e Francisco Emolo

Muito mais que uma moradia estudantil

Foto crédito: Cecília Bastos
“Havia no ar  a idéia de se criar algo à semelhança de Princeton, fundada para atrair  personalidades perseguidas, como Einstein”, conta Carlos Guilherme da Mota, sobre a criação do IEA

Há 21 anos, Instituto de Estudos Avançados é protagonista na interdisciplinaridade e reflexão crítica

Reativar dentro da USP o debate sobre a contemporaneidade e os problemas nacionais, em perspectiva multidisciplinar; trazer as vanguardas de pensamento para a Universidade e promover a integração entre seus diversos departamentos. Foram esses os ideais que nortearam a criação do Instituto de Estudos Avançados, 21 anos atrás. De lá para cá, grandes nomes passaram pelo instituto e trabalhos de peso foram desenvolvidos. Em 2007, o IEA assinou uma cátedra com a Universidad de la Frontera, do Chile, buscando contribuir para encurtar as distâncias culturais entre o Brasil e os demais países da América Latina.

O Instituto de Estudos Avançados foi fundado em 26 de novembro de 1986, no início da redemocratização do Brasil, que acabara de passar por uma ditadura de mais de 20 anos, encerrada em 1985. Muitos professores da USP haviam sido cassados no período, como Mário Schenberg, Octavio Ianni e Paul Singer. O IEA conseguiu trazer esses e outros docentes de volta, além de recolocar a USP na trilha das vanguardas da pesquisa internacional.

Foto crédito: Cecília Bastos
“O IEA é interdisciplinar por natureza, é cultural por natureza, então é o lugar ideal para trazer o conhecimento cultural sobre a América Latina para a USP e, ao mesmo tempo, virar um canal para que a América Latina se insira no Brasil.” Hernan Chaimovich

 

 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
Aziz Ab'Sáber


“Havia no ar a idéia de se criar algo à semelhança de Princeton, fundada para atrair personalidades perseguidas, como Einstein”, conta Carlos Guilherme da Mota, o primeiro diretor do instituto. “Éramos cerca de quarenta a cinqüenta pessoas selecionadas e empenhadas, como Newton da Costa, Aziz Ab'Sáber, Erney Camargo e Oswaldo Ubríaco. Antonio Candido atuou muito no início. Foi um belo reencontro de tanta gente de alto nível, todos escarmentados com a situação do País e com o sufoco da Universidade.”

Ao longo de sua trajetória, o IEA possibilitou à comunidade acadêmica e ao público externo à USP o contato direto com inúmeras personalidades brasileiras e estrangeiras da ciência e da cultura, além de produzir propostas para áreas essenciais ao desenvolvimento científico, social e econômico do País. Entre elas estão os projetos Educação para a Cidadania, Revisão Constitucional e Fórum Capital-Trabalho. “Preocupamo-nos com questões muito singelas, porém fundamentais, como a da fome, da habitação, do pensamento político no Brasil, da chamada globalização”, revela Mota, que atualmente tem o título de professor honorário do instituto.

O IEA possui uma estrutura acadêmica diferente das demais unidades da USP e não ministra cursos de graduação ou pós-graduação. A participação nas atividades é aberta a pesquisadores e profissionais com projetos relacionados aos temas em estudo, sejam eles brasileiros ou estrangeiros, integrantes ou não da USP, portadores ou não de título universitário. Há quatro vagas para professores visitantes, que desenvolvem pesquisas por um ou dois anos. Outros pesquisadores são integrados temporariamente em função das atividades específicas de projetos e cátedras do instituto.

Já contribuíram com o IEA personalidades como John Kenneth Galbraith, Jürgen Habermas, Aziz Ab'Sáber, Antonio Candido, José Saramago, Fernando Henrique Cardoso, Milton Santos, Jacques Derrida, José Arthur Giannotti, Edgar Morin e Peter Burke, entre muitos outros. “Combatemos o burocratismo, trazendo intelectuais sem títulos, como Raymundo Faoro, Jacó Gorender e José Paulo Paes. Até Paulo Autran participou daquele momento de criação” explica Mota.


 

Foto crédito: Cecília Bastos
Antonio Candido

 


Em 2008, o IEA assinará um convênio com a Universidad de La Frontera, do Chile, com o objetivo de dar início a uma maior integração cultural entre o Brasil e os demais países da América Latina. No final do ano passado, a reitora Sueli Vilela e o coordenador de pesquisas do IEA Hernan Chaimovich reuniram-se com o reitor Sergio Bravo Escobar e outras autoridades da universidade chilena para discutir a criação da cátedra, que se chamará Bernardo O'Higgins.

“Cada vez começou a ficar mais clara para mim a imensa distância cultural entre o ser brasileiro e o ser chileno, o ser argentino, o ser paraguaio, o ser colombiano. Há uma distância cultural grande”, revela Chaimovich, que nasceu no Chile, mas vive há muitos anos no Brasil. “As universidades têm uma responsabilidade nesse jogo, que não pode ser somente pessoal, isto é, não pode ser reduzida a trabalhos em colaboração, seminários. Tem que ser uma atividade permanente.”

Nesse contexto, surgiu a idéia da cátedra, que possibilitará a vinda de pesquisadores chilenos ao Brasil para realizar estudos em todas as áreas do conhecimento. Com isso, pretende-se conhecer melhor a cultura chilena e, ao mesmo tempo, dar a conhecer a cultura brasileira. “O IEA é interdisciplinar por natureza, é cultural por natureza, então é o lugar ideal para trazer o conhecimento cultural sobre a América Latina para a USP e, ao mesmo tempo, virar um canal para que a América Latina se insira no Brasil”, finaliza Chaimovich.

 

 


 
 
 
 
A Espaço Aberto é uma publicação mensal da Universidade de São Paulo produzida pela CCS - Coordenadoria de Comunicação Social.
Todos os direitos reservados®
e.mail: espaber@usp.br