Por Maria Clara Matos
Fotos por Cecília Bastos

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Do pãozinho que comemos ao hospital que freqüentamos. A saúde pública abrange mais setores do que se pode imaginar

A saúde pública no Brasil é uma questão mais do que complicada. Isso é consensual na sociedade brasileira, mas o professor Paulo Capel Narvai chama a atenção para os equívocos em relação a esse conceito e destaca ações e trabalhos, que para muitas pessoas, estão fora do universo da saúde pública.

Segundo Narvai, é muito comum que as pessoas tenham uma visão de saúde pública como aquilo que se refere apenas aos serviços estatais de saúde. Mas ele é enfático ao afirmar: “Na verdade, ela diz respeito a todos os serviços de saúde, sejam estatais ou privados”. Além disso, é um tipo de ação que “deve contar com todas as pessoas, é de caráter coletivo e de responsabilidade pública”.

Assim, os esforços organizados da sociedade funcionariam na direção de prevenir doenças, tratar doentes, desenvolver a educação para a saúde e o autocuidado. Outro erro freqüente sublinhado pelo sanitarista é a atribuição de culpa às pessoas que estão em más condições e para ilustrar esse comentário cita a questão da obesidade. “É comum ouvir dizer que as pessoas obesas não sabem se alimentar, que comem demais”, mas o especialista logo rebate: “Nós organizamos a vida em sociedade de maneira a não tornar as escolhas mais saudáveis, escolhas mais fáceis.” Ele diz isso se referindo a maior facilidade em encontrar nas cidades restaurantes fast food em detrimento de comidas mais saudáveis que privilegiam frutas e verduras em seus cardápios.


 

 

 

 

Foto crédito: Cecília Bastos
“Aqui na cidade de São Paulo, por exemplo, cerca de 50% das crianças em idade escolar não têm e nunca tiveram cárie”, salienta Narvai


Mas as distorções que atingem o sistema de saúde pública não param por aí. No Brasil, é comum o fato dos indivíduos recorrerem a hospitais e órgãos de saúde mais especializados, buscando cuidar de doenças simples que poderiam ser sanadas em unidades básicas, como postos e centros de saúde. “Às vezes as pessoas são internadas por conta de uma deficiência do funcionamento dessa chamada rede básica de saúde”, afirma.

Narvai destaca que as pessoas precisam ser bem atendidas e isso às vezes não ocorre, porque as chamadas unidades básicas não dispõem de uma tecnologia de atendimento que consiga atendê-las eficientemente. “Certas vezes associamos o termo tecnologia a equipamentos sofisticados e computadorizados, mas tecnologia é também o modo de atendimento, como organizar uma fila, por exemplo.”

Além disso, a saúde pública não se preocupa somente com indivíduos doentes. O professor fala com orgulho do Programa Nacional de Imunizações, que segundo ele é um “um dos melhores projetos de vacinação do mundo e escola para agentes de saúde pública”. As vacinas estão disponíveis em todas as unidades do sistema de saúde brasileiro e a essa rotina de serviços é acoplada as campanhas de vacinação que costumam mobilizar diversos setores da comunidade. Narvai comenta que há a comoção de diversas pessoas, desde um dono de posto de gasolina que auxilia na campanha, ou mesmo os supermercados que montam postos de vacinação.

O especialista, no entanto, comenta: “Saúde pública é mais do que assistência aos indivíduos, há coisas que as pessoas não solicitam individualmente aos serviços de saúde. Ninguém procura um médico para dizer, que ele precisa cuidar melhor do pão que comemos, por exemplo.” Associa-se o Sistema Único de Saúde (SUS) a prontos- socorros e filas imensas, mas hoje, nós todos nos beneficiamos do trabalho que o SUS realiza”. Ele ainda ressalta: “O pão, o leite e o queijo que comemos no café da manhã passam pela análise da vigilância sanitária que é o SUS quem realiza. É o que chamamos de SUS invisível”.

 

 


 
 
 
 
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