por Talita Abrantes
fotos por Cecília Bastos



Abuso na exposição a sons muito altos pode levar a perda de audição. Zumbido é um dos primeiros sinais de alerta

Na rua, no transporte coletivo, ou em quase todo lugar. Os tocadores portáteis de música digital já são parte da rotina dos brasileiros. Na América Latina, segundo pesquisa encomendada pela Intel à Research International, as vendas de MP3 players cresceram 66 % entre 2002 e 2006. Toda essa popularidade, contudo, conspira contra a saúde auditiva. Entre as quase 200 outras possíveis causas para o zumbido, a poluição sonora é a principal, responsável por 35% dos casos.

Há cinco anos, a estudante do segundo ano de licenciatura em Matemática do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, Nayara Aikawa, convive com esse problema. "Sempre que estou sozinha, em silêncio, ouço um suave chiado", conta. Apesar de nunca ter ido a um otorrinolaringologista, a estudante confessa que gosta de ouvir seu MP3 em alto e bom som. "Se você está com os fones certos, a qualidade fica muito boa. Parece que você está em um show. É envolvente", justifica.


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Zumbido pode ser sintoma de diversos tipos de problemas que afetam o organismo. Investigar essas causas é o primeiro passo para a cura

 

Crédito foto: Cecília Bastos
De acordo com a coordenadora do Grupo de Zumbido do Hospital das Clínicas, Tanit Ganz Sanches, o zumbido pode ser o primeiro sinal de perda auditiva


O preço que se paga por essa ilusão sonora pode ser caro. "O zumbido não é uma doença, nem uma causa", afirma a fonoaudióloga Katya Freire. Mas é um sinal de alerta de que algo não está indo bem no seu organismo. Ela diz que o sistema de proteção de nosso ouvido pára de funcionar quando o expomos a elevado nível de barulho por muito tempo. A partir daí, as células da nossa orelha interna ficam suscetíveis a lesões.  "O zumbido e a hipersensibilidade são os primeiros sintomas de quando se inicia o irreversível processo de perda auditiva", observa Tanit Ganz Sanches, otorrinolaringologista e coordenadora do Grupo de Zumbido do Hospital das Clínicas.

As especialistas são categóricas: Percebeu um chiado, ou outro ruído incompatível com o som ambiente? Corra para um otorrinolaringologista.  "Quanto mais cedo começar a tratar, maiores as chances de recuperação", admite a médica.

Ensinar o cérebro a não prestar tanta atenção no zumbido é uma das estratégias para atenuar a sensação. "Na terapia de habituação nós introduzimos um ruído, como cachoeira ou ventilador voltado para a parede, para competir com o zumbido", descreve Katya. Outra terapia baseia-se na amplificação através do aparelho auditivo de sons que mascaram o zumbido. "Mas isso só tem efeito paliativo", aponta.

Para não chegar nesse estágio, o conselho é estar atento para o controle de volume dos aparelhos eletroeletrônicos. Dos dez tocadores analisados pela American Society of Hearing and Audiology (Asha) em 2006, oito ultrapassavam o nível máximo de segurança para uma exposição de 8 horas diárias, 85 decibéis, já a partir da metade de sua capacidade de potência. “O ideal é que a pessoa não passe desse limite e não use mais que 2 horas direto”, ensina Tanit. Confira a lista dos aparelhos e a potência de seu volume aqui.


 

 

Crédito foto: Cecília Bastos
A fonaudióloga Katya Freire admite que o uso de protetores de ouvido é indispensável para pessoas que são expostas a altos níveis de pressão sonora


O problema é que, como Nayara, boa parte dos usuários de MP3 players apreciam ouvir as músicas sem interrupções do ambiente. “Os fones comuns não têm isolamento acústico, por isso, há a tendência de aumentar o volume do aparelho para driblar o barulho externo”, aponta a fonoaudióloga. Uma dica é comprar fones especiais ou protetores personalizados que se acoplam ao fone e que devem ser encomendados com fonoaudiólogos especializados em audiologia.

O mesmo princípio deve ser seguido pelos músicos. Katya, especializada em assessorar esses artistas, conta que vários de seus pacientes já chegaram ao consultório com zumbido devido à exposição prolongada ao barulho dos shows. “Sempre tento convencê-los a utilizar o ponto de retorno com protetores nos dois ouvidos”, afirma. “Aqueles que usam em uma orelha aumentam o volume do retorno para compensar o som da banda. Assim, a orelha que está sem o ponto pode ser lesada pelo barulho externo, enquanto a outra, pelos altos ruídos do fone.”

O tempo máximo que uma pessoa pode ficar exposta a um volume de 110 decibéis é de 15 minutos e, segundo a fonoaudióloga, uma banda geralmente emite ruídos de 120 decibéis. “Além de utilizar os protetores de ouvido, sempre que você for a um local potencialmente agressivo faça um intervalo de 5 a 10 minutos a cada 1 hora”, indica Tanit. E, para o som não ficar abafado, o ideal é usar protetores com filtro de fala.

Som alto, contudo, não é a única causa do zumbido. “Por exemplo, um paciente que vem com zumbido, com tontura, sensação de ouvido tampado. Um exame pode comprovar a suspeita de que ele está com o nível glicêmico alterado”, explica a otorrinolaringologista. “Então, nós tratamos essa alteração e não apenas o zumbido.” Para saber outros fatores que desencadeiam o zumbido, leia a matéria Filho de diversos pais.

 
 
 
 
 
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