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Vivemos
numa era de negócios. Não só no sentido econômico,
etimologicamente também: a palavra, que ganhou força
com a Revolução Industrial, significa negar
o ócio. Quem, tendo uma tarde livre, não é
assaltado por uma necessidade automática de arranjar o que
fazer? Tomando como tema o homem moderno e sua inaptidão
para fazer nada, o Grupo Vagão elaborou O Ócio, espetáculo
teatral que mistura dança, circo, música e dramaturgia.
Na peça, a personagem Ela, uma malabarista, é interrompida
em sua volta para casa após o trabalho. A partir daí,
inicia uma turbulenta viagem interior em busca do ócio, para
ela personificado na figura de uma socialite que na verdade
preenche obsessivamente seu tempo promovendo eventos sociais. Esta
e outras personagens entram e saem de cena conforme Ela mistura
a razão e o delírio em sua trama.
Não há coxia, a platéia senta-se praticamente
dentro do palco e precisa acompanhar com atenção as
mudanças de espaços. Como os objetos cênicos
se resumem a três grandes carretéis de madeira, um
telefone e uma pia, estes são reutilizados em contextos diferentes.
O que era uma mesa em uma cena pode ser virado, levantado
e passar a representar uma geladeira, exemplifica Roberto
Morettho, diretor do Grupo Vagão e aluno do Departamento
de Artes Cênicas da ECA/USP. Isso chama o espectador
a participar do espetáculo, dando sua interpretação
ao que acontece. Morettho trouxe esta técnica do teatro
de animação, área na qual recebeu uma bolsa
de iniciação científica da Fapesp, em 2000,
tendo como orientadora a professora Ana Maria Amaral.
O Ócio foi construído através do processo colaborativo,
no qual cada elemento do grupo interage diretamente na criação
da peça. Os dois músicos que acompanham o espetáculo,
por exemplo, tanto compuseram para cenas prontas quanto sugeriram
climas que deram origem a novos trechos. Além disso, dois
pintores foram chamados para criar painéis cenográficos.
Eles não participaram de toda a criação,
mas conseguiram traduzir muito bem em imagens as sensações
da peça, diz o diretor.
Apresentações
neste sábado, às 21h30, e domingo, às 20h30,
na Sala Protótipo do Departamento de Artes Cênicas
da ECA/USP (av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Conjunto
Arquitetônico das Artes, Cidade Universitária, tel.
3091-4375).
Criticando
a fé de resultados
Estréia
neste sábado, no Teatro Célia Helena, a peça
Bodas de Lata. É mais um trabalho do Núcleo Eurípedes,
dirigido pelo professor do Departamento de Artes Cênicas da
ECA/USP Hamilton Saraiva, que tem por característica tratar
do espiritismo em suas montagens. Mas nunca de forma intrusiva,
panfletária: fazemos espetáculos para serem apreciados
como teatro, afirma o diretor. Nossa maior preocupação
é falar do assunto sem impingir a adesão da platéia,
como costuma ser a praxe do teatro vinculado à religião.
Para isso, o grupo se esquiva dos enredos simplesmente moralizantes,
enveredando pela crítica dialética. Bodas de Lata, por
exemplo, é uma comédia de costumes sobre seis recém-casados
que se dizem bons espíritas, mas usam a religião para
os seus próprios fins. Dois deles chegam até a contratar
um ator para interpretar, como médium, espíritos convenientes.
O que ninguém sabe é que o ator de fato é médium,
e suas recepções acabam causando uma grande
confusão. Através das piadas, queremos lembrar
a verdade do ridendo castigat mores, ou seja, que é pelo riso
que criticamos os costumes, diz Saraiva.
Bodas
de Lata fica em cartaz até 2 de junho, no Teatro Célia
Helena (r. Barão de Iguape, 113, tel. 279-0470), sábados
às 21h e domingos às 18h. Ingressos por R$ 12,00,
com meia-entrada para estudantes e idosos.
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