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Edifício Master
 
Cena das filmagens de Edifício Master

Moradores de um prédio em Copacabana expõem sua vida para a câmera, quase sempre estática, do diretor Eduardo Coutinho em Edifício Master – um filme extraordinariamente simples: foram apenas sete dias de filmagem no condomínio Master, que possui 276 apartamentos conjugados, onde moram cerca de 500 pessoas, 37 delas personagens –, que será exibido nesta quarta. Inspirado na vida de João Francisco dos Santos, malandro, transformista, capoerista, cozinheiro, presidiário e pai adotivo, mais conhecido como Madame Satã (1900-1976), o filme de mesmo título de Karim Aïnouz é a atração de sexta. Ambos imperdíveis e exibidos com entrada franca, no Cinusp, seguidos de debates.

A idéia do documentário sobre a vida de moradores de um prédio surgiu no início do ano passado, quando Eduardo Coutinho e Consuelo Lins andavam pela avenida Atlântica, aliás idéia dela e roubo, consentido, dele. Em seguida, o objetivo era encontrar um prédio de apartamentos em Copacabana, que fosse “família”. Encontraram um, mas os condôminos não permitiram as filmagens. Dificilmente os condôminos de qualquer prédio aceitariam. Chegaram ao Master, sugestão de Eliska Altman, amiga do diretor, que havia morado lá durante dois anos. O síndico permitiu e então alugaram um apartamento no prédio.

Durante três semanas, pesquisaram seus moradores. “O processo foi penoso”, como afirma o diretor, contando sobre a dificuldade de tocar a campainha 23 vezes por andar e esperar a resposta no corredor escuro (era época do racionamento), que nem sempre vinha, ou havia recusa, ou ainda a aceitação que levava a um diálogo, às vezes frutífero ou não, ora com revelações confessionais, ora com discursos prontos. O resultado da montagem final: um personagem após o outro, falando de suas alegrias e tristezas, de seus sonhos e decepções.

Já Madame Satã se passa no bairro carioca da Lapa, em 1932, e retrata o cotidiano de João Francisco dos Santos, que passou a maior parte da vida nas ruas do Rio boêmio, e seu círculo de amigos. Mostra um momento crucial na vida do protagonista, o período que antecede a criação do mito Madame Satã, nome tirado de um filme de Cecil B. De Mille de 1930 pelo qual ele se apaixonou. Ao longo de seus 76 anos de vida, 27 dos quais na prisão, João Francisco sempre desafiou as definições de analfabeto, negro, pobre e homossexual. Definia-se como “filho de Iansã e Ogum, devoto de Josephine Baker”, inventando para si vários personagens como Mulata do Balacochê, Jamacy, a Rainha da Floresta, Tubarão, Gato Maracajá.

 
O mito Madame Satã em filme

É o primeiro longa-metragem de Karim Aïnouz, que também assina o roteiro. Segundo o diretor, uma de suas intenções foi captar, através da intimidade cinematográfica, o entusiasmo e as contradições da experiência de um malandro, negro e homossexual no Brasil do começo do século, sem a pretensão de uma abordagem biográfica. “Tentei construir o retrato de um personagem explosivo e complexo, um personagem apaixonado, febril, guiado por uma imperiosa paixão pela vida.” No elenco estão novos atores como Lázaro Ramos no personagem-título, além de Renata Sorrah, Floriano Peixoto e Ricardo Blat, entre outros.

As pré-estréias acontecem às 13h30, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). Devem ser retiradas senhas a partir das 13h, na Administração do Cinusp que fica no favo 37 das Colméias.

 




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