Alimentos
enriquecidos com vitaminas, proteínas e minerais, com menores
taxas de gordura e açúcar, estão no centro
das atenções de muitos consumidores, preocupados em
garantir um futuro mais saudável, em meio ao estresse e aos
problemas de saúde que a vida moderna impõe. Foi pensando
em contribuir nesse processo que, desde 1989, quando voltou de um
período de estudos nos Estados Unidos, o professor Cássio
Xavier de Mendonça Jr., especialista em nutrição
e doenças nutricionais de aves do Departamento de Clínica
Médica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
(FMVZ) da USP, vem desenvolvendo, com auxílios obtidos da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo, a Fapesp, uma série de pesquisas para a
obtenção de ovos com menores teores de colesterol.
Essa substância, em excesso no sangue, pode levar ao surgimento
de doenças cardiovasculares. “Nossa meta era a de colocar
no mercado um alimento alternativo que ficasse à disposição
das pessoas que não podem ingerir grandes quantidades de
colesterol”, informa. “O ovo é um alimento extremamente
rico em nutrientes importantes para o nosso organismo, com a vantagem
de que é muito mais barato do que outros produtos de origem
animal, o que o torna mais acessível para a maioria da população”,
explica. “Entretanto, nossas pesquisas, baseadas em alterações
da dieta da galinha, proporcionaram uma redução máxima
de 15% do colesterol, ou seja, de 215 miligramas por ovo, concentração
tida como normal, para 183, o que é pouco significativo.”
O aparecimento,
no mercado, de ovos especiais com rótulos que traziam dados
sobre reduções de colesterol da ordem de 20% a 40%
levou Mendonça a estudar a composição desses
ovos ditos “especiais”, de dez marcas diferentes, incluindo
alguns de codorna, que apresentaram, na média, quantidades
de colesterol iguais ou superiores às dos ovos normais. “Ao
analisar o conteúdo dos ovos vimos que os resultados laboratoriais
nem sempre estavam de acordo com aqueles estampados nos rótulos”,
diz Mendonça. “Mas isso não significa que as
empresas do setor demonstrem intenção de enganar o
consumidor”, afirma. “Isso ocorre porque os granjeiros,
ao mandarem suas amostras para análise, as enviam para laboratórios
não credenciados, não obtendo, portanto, resultados
confiáveis ou, então, comparam seus resultados com
os de ovos normais que tiveram seu teor de colesterol superestimado
em razão da utilização de metodologia ultrapassada,
que considera outras substâncias como sendo colesterol.”
![](ilustras/ilustra08b.gif) |
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Mendonça:
precisamos estimular o consumo de ovos |
Segundo
Mendonça, o Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, preocupado com a questão, criou um grupo
de trabalho formado pelos chefes dos laboratórios capacitados
para fazer esse tipo de estudo – USP, Unicamp, Instituto de
Tecnologia de Alimentos (Ital) e Instituto Adolfo Lutz, entre outros
–, que tem se reunido no sentido de estabelecer normas que
permitam uma padronização da metodologia de análise
e, portanto, acabem com a discrepância dos resultados e possibilitem
ao produtor a inclusão de informações corretas
nas suas embalagens. “Algumas granjas têm nos procurado
para a realização de análises. Por enquanto,
estamos conseguindo atender aos pedidos, mas, se a demanda crescer
muito, isso não será mais possível. O ideal
é que, em um prazo relativamente curto, outros laboratórios
se capacitem para o trabalho”, diz. “É por isso
que, nesses 14 anos de estudos, nós nos esforçamos
para gerar massa crítica altamente capacitada para essas
atividades. Até o momento formamos um total de 30 pesquisadores,
entre alunos de iniciação científica, mestrado
e doutorado, sendo que muitos já estão atuando em
outras instituições de ensino e pesquisa.”
Entretanto,
Mendonça alerta que uma redução maior do colesterol
que o patamar dos 15% é muito difícil. “O colesterol,
além de outras funções importantes, é
precursor da vitamina D e de hormônios sexuais. A redução
drástica de seus valores no ovo pode trazer conseqüências
sérias para o metabolismo das aves, resultando em elevada
mortalidade e parada na produção de ovos, o que inviabiliza
economicamente esse procedimento.”
O colesterol existente no nosso organismo pode ser proveniente dos
alimentos de origem animal ricos em gordura ou da síntese
hepática (fabricação pelo fígado) a
partir de outros compostos químicos. Fundamental para a estrutura
e o funcionamento das células, notadamente as do sistema
nervoso, é no seu excesso que mora o perigo.
Para
eliminá-lo, o organismo das aves o deposita, sem alterações,
dentro do ovo, onde a substância é uma das responsáveis
pelo desenvolvimento pleno do pintinho. No caso do homem, o fígado,
além de produzir colesterol, também o reutiliza para
a produção de outros elementos, mas boa parte acaba
sendo eliminada nas fezes. O que o organismo não consegue
eliminar ou reaproveitar acaba se acumulando nos vasos sanguíneos,
gerando doenças.
Além
do colesterol, o pesquisador também se voltou para a questão
do enriquecimento dos ovos com ômega-3 – ácido
graxo poliinsaturado que traz inúmeros benefícios
para a saúde, notadamente ao coração e ao desenvolvimento
do sistema nervoso das crianças –, vitaminas A e E,
substâncias também descritas nas embalagens dos ovos.
Com relação aos dois últimos compostos, os
níveis encontrados corresponderam aos anunciados. “Isso
ocorre porque ambas as vitaminas são facilmente introduzidas
na dieta das galinhas e transmitidas para os ovos”, afirma
Mendonça.
Quanto
aos ácidos graxos, são conhecidos quatro tipos: o
DHA, EPA, DPA e o ácido linolênico, dos quais os dois
primeiros são comprovadamente benéficos à saúde,
enquanto o último, embora importante, não revela os
mesmos efeitos do DHA e EPA, existindo em grandes quantidades nas
sementes oleaginosas, como as de canola e linhaça, que podem
ser acrescentadas à ração das galinhas. Quando
ingerido pela ave, apenas parte do ácido linolênico
é transformada em DHA e EPA. “Grande
quantidade de linolênico na dieta das aves faz com que a taxa
de DHA e EPA, ácidos graxos ômega-3 benéficos
à saúde, aumente no ovo, mas não em grandes
quantidades”, afirma o veterinário. O consumidor deve
estar atento, pois nem sempre elevados valores de ácidos
graxos ômega-3 indicam riqueza em DHA e EPA, que apresentam
forte ação na prevenção de doenças.
Atualmente, o docente está pesquisando novas fontes dos tipos
de ômega-3 que são benéficos à saúde.
“Esses ácidos graxos são encontrados em alguns
tipos de peixes e algas. Nossa meta é buscar ingredientes
que possam ser introduzidos na ração com o menor custo
possível para o granjeiro e com maior benefício ao
consumidor.”
![](ilustras/ilustra08c.gif) |
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Criação mantida pela
FMVZ para pesquisas |
As
pesquisas sobre o colesterol continuam. Um segundo teste com as
mesmas marcas será realizado em breve, o qual poder confirmar
ou não os primeiros resultados. Os dados do estudo serão
apresentados em novembro, pelos alunos de Mendonça, durante
a realização do “X Simpósio Internacional
de Iniciação Científica da USP” (Siicusp),
em Piracicaba. Quando finalizadas, as pesquisas serão publicadas
e divulgadas à comunidade e ao Ministério da Agricultura.
Para
Mendonça, independente de os ovos apresentarem mais ou menos
vitaminas e colesterol, seu consumo deve ser incentivado. “Apesar
de sermos o sexto maior produtor mundial de ovos, o consumo interno
ainda é baixo, com cerca de 93 unidades por pessoa a cada
ano, enquanto em países como os Estados Unidos e Japão
esse número é superior a 365 unidades por habitante”,
afirma. “Em um país onde a maior parte da população
é pobre, temos que incentivar, através de campanhas,
o aumento do consumo dessa rica fonte de calorias e proteínas
com ressalvas, é claro, para quem tem problemas de saúde
relacionados ao colesterol.”
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