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Os Sertões na montagem do Teatro Oficina

Atualmente, a área de artes cênicas está mais organizada: existem alguns programas de pós-graduação, como o da própria Universidade de São Paulo, criado em 1982, a Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas e ainda um pequeno número de revistas acadêmicas sobre teatro em todo o Brasil, uma delas a Sala Preta. “Essa é a primeira revista em 30 anos do Departamento de Artes Cênicas (da Escola de Comunicações e Artes, ECA/USP). Já existiram alguns periódicos, mas não nesse formato”, diz um dos idealizadores e editores da revista, Luiz Fernando Ramos, ao lado de Sílvia Fernandes, ambos professores do departamento. Em seu segundo número, a publicação reflete as pesquisas nacionais em artes cênicas. É quase um livro sobre teatro, que tem periodicidade anual com perspectiva de se tornar semestral a partir do próximo ano.

Um dos destaques da revista é o dossiê Os Sertões, do Teatro Oficina, comemorando o centenário do livro de Euclides da Cunha, que traz um relato sobre a Guerra de Canudos, e ainda antecipando o espetáculo que o grupo, com seus 50 anos de existência, estréia nesta semana (veja nota abaixo). O dossiê abre com texto inédito de Maria Thereza Vargas localizando a obra de Euclides na história do Teatro Oficina, seguido de uma entrevista com o seu fundador, José Celso Martinez Corrêa, que fala sobre as dificuldades de adaptação dramatúrgica e da encenação de Os Sertões, além de um encarte com a iconografia e as diversas apresentações que de alguma forma foram inspiradas no livro. Ainda completam o dossiê a abordagem do tradutor alemão de Os Sertões, Berthold Zilly, texto no qual José Celso se inspirou para fazer a adaptação, e também um texto inédito de Oswald de Andrade, publicado em 1943 no Diário de São Paulo, em que o escritor compara as contribuições de Euclides da Cunha e de Gilberto Freyre à formação da cultura brasileira.

A seção Teatro Educação, coordenada e editada pela professora Maria Lúcia Pupo, reúne artigos de especialistas do Brasil sobre pesquisas em torno das questões do jogo, do aprendizado e da ação cultural, além de um texto do professor francês Roger Deldime, uma das autoridades mundiais da chamada pedagogia do espectador. Em Interpretação, que reflete a produção interna dos pesquisadores do Departamento de Artes Cênicas, está a pesquisa, que conta com o apoio da Fapesp, de Antonio Januzelli, coordenador das atividades do Lince (Laboratório do Ator), e da atriz Juliana Jardim sobre as metodologias da prática do ator no Brasil e a instalação do Centro Latino-Americano de Práticas do Ator no campus da USP. Ator e Cena traz artigos de pesquisadores da USP de várias áreas, como Literatura Comparada, Letras Orientais e Letras Modernas, que estudam o teatro, entre eles o texto da professora Iná Camargo Costa sobre as proximidades e diferenças entre Stanislavski e Brecht, e de Cristiane Takeda que expõe, minuciosamente, as correspondências do Teatro de Arte de Moscou.

Teatro Brasileiro traz um depoimento de J. Guinsburg sobre Jorge Andrade em homenagem aos 80 anos de seu nascimento, e uma incursão inédita de Elizabeth Azevedo nos artigos publicados pelo dramaturgo na Folha de S. Paulo, além de um texto de Sérgio de Carvalho que aponta um novo olhar para o teatro no Modernismo brasileiro (antecipando as conclusões de sua tese de doutorado que está defendendo na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP) e de Daniela Rinow, lembrando o professor Eudinyr Fraga. Dramaturgia Contemporânea traz vários ensaios como de Antônia Pereira que discute a obra de Armand Gatti em paralelo com a de Augusto Boal, ou de Rogério Toscano, que descobre na dramaturgia política de Osvaldo Dragún traços precoces do pós-modernismo. A última seção, Livros, traz os lançamentos editoriais recentes no âmbito das artes cênicas, além de uma resenha de Ruth Rohl sobre Brecht na pós-modernidade, de autoria de Ingrid Dormien Koudela.

O objetivo, segundo o editor, é que a revista se consolide como espaço de discussão e pesquisa na área teatral, além de fazer um intercâmbio entre a produção acadêmica e cultural. O terceiro número vai tratar da Teoria e Prática no Teatro, com artigos de especialistas nacionais e internacionais. O título da revista refere-se a uma ligação afetiva com a USP, quando o departamento ainda funcionava no Bloco C, local onde está sendo construída a nova área de Audiovisual da ECA, e lá uma sala toda pintada de preto era palco das apresentações de todos os trabalhos, a famosa Sala Preta.

O número 2 da revista Sala Preta (335 págs., R$ 25,00) conta com o apoio financeiro do Departamento de Artes Cênicas e da Comissão de Pós-Graduação da ECA. A publicação pode ser adquirida no próprio departamento e nas Livrarias da Vila e Cultura. Mais informações na secretaria pelo tel. 3091-4127.

 

 

 

Os Sertões

Nesta segunda, a obra de Euclides da Cunha completa cem anos, com mais de 50 edições em língua portuguesa e traduções em pelo menos nove línguas. Para abrir caminhos para a leitura da obra a Publifolha lança também nesta segunda Os Sertões, da série Folha Explica (97 págs., R$ 9,90), com autoria de Roberto Ventura, evento só para convidados, que inclui ainda a pré-estréia da peça Os Sertões, de José Celso Martinez Corrêa. O espetáculo entra em cartaz no sábado, no Teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, tel. 3106-2818).

 




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