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Está aberto o debate sobre a reforma universitária.
O Ministério da Educação lançou
uma série de encontros com intelectuais, pesquisadores, estudantes
(que representam a comunidade acadêmica de instituições
públicas e privadas), políticos e outros representantes
da sociedade. Os primeiros debates da série aconteceram em
Brasília. Até o próximo mês de setembro,
serão realizadas reuniões no Recife, Belém,
Belo Horizonte, Porto Alegre e Goiânia.
O objetivo do ministro da Educação, Tarso Genro, é
conhecer o pensamento e ouvir as propostas de toda a sociedade para
lançar as diretrizes para a reforma. A meta do governo é
ter a proposta pronta em novembro e, ainda neste ano, encaminhar
ao Congresso Nacional a Lei Orgânica que tratará da
reforma. Uma teleconferência marcou o primeiro encontro, realizado
no auditório do Ministério da Educação,
no dia 31 de março. Participaram da mesa-redonda o
ministro da Educação, Tarso Genro, o secretário
de Educação Superior do MEC, Nelson Maculan, os professores
José Geraldo de Sousa Júnior (da UnB) e Edson Nunes
(representando uma instituição privada, a Universidade
Cândido Mendes) e a vice-presidente da União Nacional
dos Estudantes (UNE), Fabiana Costa.
No segundo encontro, realizado em 5 de abril, o auditório
do Ministério das Relações Exteriores ficou
lotado. Embaixadores, secretários de Educação
de alguns países, parlamentares, reitores, professores e
estudantes de várias universidades assistiram à palestra
do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos,
cuja presença enfatiza a preocupação do governo
brasileiro em ampliar o debate.
Pela
mão da sociedade
Uma conversa tranqüila, com base na obra Pela mão de
Alice, publicada em 1996. Assim foi a participação
de Boaventura de Sousa Santos no evento. Sentado ao lado do ministro
Tarso Genro e do professor Jairo Jorge da Silva, Boaventura, que
é doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale,
nos Estados Unidos, recuperou as idéias do livro: não
há uma reforma consistente da universidade sem a reestruturação
de um projeto de país. Para isso, a universidade
deve superar as crises de hegemonia, ideologia e legitimidade.
Para Boaventura, é preciso repensar a universidade,
especialmente no sentido de atender a cinco áreas: acesso,
extensão, pesquisa, ecologia dos saberes e educação
como bem divisível. O sociólogo considera importante
a universidade como um bem público e como tal deve ser cuidada
pelo Estado. Na opinião de Boaventura, a universidade do
século 21 será menos hegemônica, mas não
menos necessária. É um bem necessário que precisa
estar vinculado a um programa de governo. A universidade é
o grande sinal para onde vai a reforma do Estado, acredita.
Segundo o sociólogo, o único modo eficaz de enfrentar
a mercantilização do conhecimento é a globalização
alternativa, termo que ele usa para se referir à necessidade
de aproximação dos grupos sociais organizados com
a universidade pública, vinculada a um projeto nacional de
política. Os sujeitos da reforma são, portanto, a
universidade, o governo e os grupos sociais organizados, de acordo
com o sociólogo. O principal aliado é o olhar
nacional.
Propostas
do governo
Tarso Genro revelou que as propostas do governo estão vinculadas
às idéias de Boaventura, com quem o ministro mantém
uma antiga relação de amizade. Entre os principais
aspectos da reforma, o ministro destacou a ampliação
das portas de acesso à universidade; a criação
de um sistema de financiamento eficaz; e o fortalecimento
da universidade pública, vinculando-a a um projeto nacional,
com o objetivo estratégico de tornar a reforma um projeto
de país.
Na opinião do professor José Geraldo de Sousa Júnior,
que organizou o Seminário Universidade XXI, realizado em
Brasília em novembro do ano passado, a linha da reforma
tem de passar por uma revisão cultural para entender o significado
das várias crises que permitem a sua reformulação.
Mesmo dentro do Estado, é preciso entender os elementos que
podem sustentar a reforma. E questionou: Que categorias
novas vão definir esse princípio? Universidades mais
leves, em rede, atuando com horizontalidade, com estruturas menos
hierarquizadas, não-corporativas. O professor lembra
que a necessidade da observação dos aspectos culturais
tem sido colocada pelo ministro Tarso Genro e pelo secretário
de Educação Superior do MEC, Nelson Maculan.
Observador atento das palavras de Boaventura na palestra, o professor
Luiz Síveres considera a percepção do sociólogo
positiva. Recém-doutor pelo Programa de Desenvolvimento
Sustentável da Universidade de Brasília, Síveres
acredita que a reforma deve colocar questões importantes
de compromisso da universidade com a sociedade: A
universidade deve mergulhar naquilo que, de fato, ela é:
casa do pensamento, construindo conhecimentos mais criativos, mais
críticos e se comprometendo com a sociedade por meio de um
empenho por justiça, disse o autor da tese Princípios
políticos e filosóficos de uma universidade comprometida
com a sociedade.
Os
estudantes
A vice-presidente da UNE, Fabiana Costa, acredita que a reforma
deve estar articulada com o desenvolvimento nacional. Ao falar mais
especificamente sobre o que deve mudar dentro das instituições
de ensino, ela sugere a criação de um plano de assistência
para que o estudante possa dedicar-se aos estudos e concluir o curso.
A estudante de Filosofia Cristina Lino disse que a abertura da discussão
é o principal aspecto que a reforma apresenta. Para Adson
Boaventura, estudante de Jornalismo, a reforma da universidade faz
parte do ambiente de mudança que marca o governo Lula. Há
uma articulação com outras áreas e isso é
positivo, afirmou.
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