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Associada
geralmente à terceira idade, a osteoporose é uma doença
que pode se manifestar já na infância e cuja prevenção
deve ser feita nos primeiros anos de vida.
“Adquirimos o pico de massa óssea por volta dos 20
anos de idade. O problema acontece quando esse pico não é
atingido”, diz a professora Rosa Maria Rodrigues Pereira,
coordenadora do Laboratório de Metabolismo Ósseo da
Faculdade de Medicina da USP. Uma dieta que tenha boa quantidade
de cálcio – presente em alimentos como leite e derivados,
peixes e verduras, por exemplo –, a prática de atividades
físicas e a exposição ao sol, fonte de vitamina
D, são fatores fundamentais para que crianças e adolescentes
desenvolvam a melhor qualidade possível de massa óssea
nessa etapa da vida. Essas medidas podem ajudar decisivamente a
evitar fraturas na idade adulta.
A osteoporose é uma doença esquelética caracterizada
pelo comprometimento da resistência óssea, predispondo
o indivíduo a um risco de fratura. O esqueleto humano é
um tecido vivo e complexo que dá suporte aos músculos
e proteção a órgãos vitais. Ele também
armazena o cálcio, mineral essencial para inúmeras
funções. Ao longo da vida, os ossos são constantemente
formados e reabsorvidos. Na infância e adolescência,
a formação ocorre mais rapidamente que a reabsorção
até que o pico de massa óssea seja atingido. A partir
daí, a reabsorção lentamente vai excedendo
à formação. O organismo usa o cálcio
dos ossos quando não há ingestão suficiente
ou quando há necessidade adicional – como na gravidez
ou na lactação.
A mudança do estilo de vida e dos hábitos alimentares
das gerações mais novas preocupa a professora. O consumo
exagerado de refrigerantes, por exemplo, aumenta a reabsorção
óssea. “Em alguns casos, a ingestão de leite,
que é fundamental, praticamente não existe”,
diz Rosa Pereira. Outros fatores também podem trazer prejuízos
no futuro: sedentarismo, não exposição ao sol
(“Muitas crianças não brincam mais na rua, ficam
apenas com jogos eletrônicos em casa”, lembra a professora),
tabagismo (a nicotina tem efeito sobre os osteoblastos, células
que atuam na formação do tecido ósseo) e consumo
de álcool.
A osteoporose pode afetar crianças como doença primária,
embora sua ocorrência seja bastante rara. A osteogênese
imperfecta tem origem genética e a osteoporose juvenil idiopática
costuma aparecer de dois a três anos antes da puberdade. Na
maior parte dos casos nessa idade, entretanto, ela é conseqüência
de outras doenças crônicas, como leucemia, artrite
reumatóide juvenil ou lúpus eritematoso sistêmico.
O tratamento desses males muitas vezes inclui imobilidade, baixa
exposição ao sol ou o uso contínuo de medicamentos
como corticóides, causando interferências no metabolismo
e perda de massa corpórea e muscular – que, por sua
vez, podem favorecer o desenvolvimento da doença.
“É de responsabilidade dos pediatras a identificação
de fatores de risco para osteoporose e a orientação
de seus pacientes quanto a sua prevenção, tratamento
e seguimento”, diz o recente artigo publicado pela professora
Rosa e três colegas da Faculdade de Medicina no Jornal de
Pediatria (edição nº 6, volume 79), da Sociedade
Brasileira de Pediatria, onde podem ser encontradas mais informações
sobre a doença na infância e adolescência.
Menopausa
Os principais problemas decorrentes da osteoporose se manifestam
na idade adulta, principalmente nas mulheres após a menopausa.
“A mulher tem uma perda importante de estrógeno em
muito pouco tempo”, explica Rosa Pereira – o hormônio
é indispensável para a conservação do
osso. Ao redor de 20% de todas as mulheres na menopausa, nos países
ocidentais, preenchem os critérios estabelecidos para a doença
pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No
Brasil, não são muitos os dados confiáveis
e atualizados. Uma iniciativa importante virá nos próximos
meses, quando a Faculdade de Medicina da USP deverá começar
uma pesquisa com o Hospital Universitário da USP. O estudo,
que aguarda aprovação e liberação de
verba da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (Fapesp), vai investigar 900 mulheres acima
dos 65 anos da região do Butantã, na capital, com
relação ao mal de Alzheimer e à osteoporose.
Nos Estados Unidos, estima-se que 1,3 milhão de fraturas
por ano são decorrentes da doença, o que custa ao
país quase US$ 18 bilhões anuais em tratamento. Na
Inglaterra e País de Gales, pacientes com fratura de quadril
ocupam 20% dos leitos ortopédicos – 98% dessas fraturas
ocorrem em pessoas acima dos 35 anos, 80% delas com mulheres. Com
o crescimento da expectativa de vida, os gastos devem aumentar dramaticamente
nas próximas décadas. A ausência de políticas
públicas específicas para a terceira idade, especialmente
na área da saúde, será cada vez mais sentida
também no Brasil, onde o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) acaba de mostrar que o envelhecimento da população
é irreversível. Em 2020, o número de idosos
no País será de 25 milhões de pessoas, 11%
da população total – hoje o índice é
de 9,3%. “Com o passar do tempo, surgem mais doenças
que aumentam muito a chance de quedas e fraturas, como acidente
vascular cerebral, Parkinson, problemas de labirintite, déficit
de equilíbrio e outras”, explica a professora. Quanto
maior a idade do paciente, maior a possibilidade de que não
resista às conseqüências das fraturas: a imobilidade
e o surgimento de infecções aumentam a mortalidade
nesses casos.
Rosa chama a atenção para uma mudança recente
em relação ao uso da terapia de reposição
hormonal (TRH) com estrógeno e progesterona. O estudo “Women’s
health initiative”, publicado pelo Journal of the American
Medical Association em 2002, mostrou que a TRH tem resultado positivo
na prevenção da osteoporose e na redução
de fraturas vertebrais e de quadril. Entretanto, aumentou muito
o risco do surgimento de doenças coronarianas e de câncer
de mama nas mulheres que utilizavam a terapia. “No momento
não se recomenda a TRH se for apenas para o tratamento de
osteoporose”, diz a professora. “Há outras opções
que tratam a doença com menor risco.”
Maior
parte das quedas ocorre em casa |
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A osteoporose
é uma doença silenciosa, pois a perda óssea
pode ocorrer sem sintomas – até mesmo fraturas
vertebrais podem não ser notadas. Estudos já mostraram
que uma proporção significativa de idosos com
deformidades vertebrais, mesmo detectadas em exames de raio
X, não é identificada clinicamente.
Prevenir as fraturas decorrentes de quedas é a principal
medida para evitar as conseqüências da osteoporose,
principalmente entre as pessoas mais idosas. Em primeiro lugar,
é preciso lembrar que a maioria dos acidentes ocorre
dentro de casa. Por isso, medidas simples e práticas
devem ser tomadas na própria moradia. Rever hábitos
alimentares e de vida também é importante. Veja
abaixo algumas recomendações:
- não ter pequenos tapetes soltos pela casa para evitar
escorregões e tropeços;
- deixar alguma luz acesa à noite para o caso de precisar
se levantar, e ter cuidado na hora de sair da cama;
- se possível, cortar o uso de medicamentos que provoquem
sonolência;
- instalar corrimãos e barras, inclusive no box do banheiro,
para ajudar no deslocamento;
- não deixar o piso da casa muito liso ou encerado; optar
por pisos antiderrapantes;
- evitar subir em escadas ou cadeiras para pegar objetos em
cima de armários ou lugares altos. Sempre que possível,
pedir ajuda;
- usar sapatos ou chinelos confortáveis, com solado antiderrapante;
- na rua, usar sapatos sempre bem amarrados e só subir
nos ônibus quando eles estiverem completamente parados;
- praticar alguma atividade física faz parte da prescrição
médica – por exemplo, caminhadas de 40 minutos,
três a quatro vezes por semana;
- a alimentação deve ser equilibrada e rica em
cálcio, principalmente pela ingestão de leite
e derivados, peixe e verduras;
- exposição freqüente ao sol (fonte de vitamina
D); embora não necessariamente por períodos longos;
- abandono do álcool e cigarro. Estudos demonstram que
mulheres que fumam um maço por dia atingem a menopausa
com um déficit de 5% a 10% de densidade óssea,
o suficiente para aumentar o risco de fratura. A mulher fumante
tem a menopausa um a dois anos mais cedo e perde massa óssea
mais rapidamente do que a não-fumante. |
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