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A Universidade
de São Paulo quer que nos seus campi se estude, trabalhe
e viva em ambiente saudável. Fumar, usar bebida alcoólica,
brigar em festas e infringir as leis de trânsito não
é saudável. E é por aí que começa
uma campanha em favor de medidas que garantam maior qualidade de
vida na Cidade Universitária. Dia 11 de novembro, o Conselho
do Campus da Capital - órgão presidido pelo prefeito
do campus e composto pelos diretores de unidades, institutos e museus,
pelo superintendente do HU e por representantes de alunos e funcionários
- aprovou medidas visando à proibição do fumo
em ambientes coletivos fechados, a implantação de
sistema de controle e fiscalização do trânsito,
a proibição de comercialização de bebidas
alcoólicas e a regulamentação de festas e eventos
em geral. A criação, ou não, de fumódromos
dependerá de cada unidade. Naquelas em que existirem salas
arejadas, saguão ou área externa, esses espaços
poderão ser destinados às escapadas dos fumantes;
nas unidades que não dispuserem de áreas apropriadas,
os que não conseguem largar o cigarro só poderão
fumar fora dos prédios.
As recomendações aprovadas pelo conselho deverão
ser implementadas mediante portaria do presidente do conselho, o
prefeito. Quanto à campanha de esclarecimento e conscientização
sobre os malefícios do cigarro, álcool e drogas e
sobre programas disponíveis na Universidade para tratamento,
será executada sob a coordenação de grupo de
trabalho integrado por representantes da Prefeitura, Hospital Universitário,
Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea),
Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), Instituto
de Psicologia e Escola de Educação Física e
Esporte. Esboços de peças publicitárias criadas
pelo Departamento de Marketing da CCS foram mostrados, e aprovados,
na reunião do Conselho do Campus. Logo se verão nas
dependências da Universidade avisos do tipo "Proibido fumar",
"Neste prédio não se fuma" (caso da Faculdade de Saúde
Pública e do Instituto de Matemática e Estatística,
por exemplo) ou cartazes similares.
No tocante à proibição de bebidas alcoólicas,
o prefeito Wanderley Messias da Costa destaca que o conselho concedeu
à Prefeitura o poder de fiscalizar com rigor todos os estabelecimentos,
em particular os clandestinos. Os regulares (lanchonetes) já
não comercializavam bebida alcoólica, mas algumas
concessionárias de centros acadêmicos e do Diretório
Central de Estudantes a vendiam. Agora, serão autuadas se
o fizerem. No mesmo item, o professor Messias da Costa lembra uma
informação importante: o conselho autorizou a venda
de bebida alcoólica em estabelecimentos situados fora das
unidades de ensino, tais como o Clube dos Professores, o dos funcionários
e centros de vivência dos estudantes. O argumento para essa
liberação é que em quase todas as universidades
do mundo existem locais de confraternização, com consumo
moderado de bebida alcoólica.
Antes de completar o sistema viário e introduzir a fiscalização
oficial, a Prefeitura fará o cadastramento das ruas da Cidade
Universitária. Elas precisam ser registradas para que as
multas por infração de trânsito possam ser cobradas.
Também a segurança no campus será reforçada
mediante implantação de sistema de monitoramento eletrônico.
Serão instaladas câmaras nas áreas mais críticas
e haverá uma central de controle na Prefeitura. As primeiras
câmaras serão colocadas até o fim de dezembro;
o serviço será completado no próximo ano, atingindo
todas as unidades. Uma das áreas mais vulneráveis
na Cidade Universitária, porque aberta à comunidade
externa, é o estacionamento do HU, que comprovadamente chegou
a abrigar carro roubado, lá deixado à noite por assaltantes.
O importante é que a verba emergencial para a implantação
desse sistema eletrônico já foi aprovada pela Reitoria.
Cumprindo
a lei
De acordo com o médico André Malbergier, coordenador
do Programa de Prevenção e Tratamento do Uso de Drogas
na USP (Produsp) do Grea, regulamentando o uso de tabaco nas suas
dependências a Universidade nada mais faz do que cumprir a
lei, que proíbe fumar em lugar fechado em repartições
públicas. É também uma forma de proteger o
não-fumante e incentivar o fumante a mudar hábitos
e abandonar o vício. Entendimento semelhante foi expresso
pela professora de Direito do Estado Odete Medauar: o campus universitário
se destina ao ensino superior e a atividades correlatas. Se considerar
algumas práticas incompatíveis com a finalidade principal
e a destinação da instituição, a direção
da Universidade pode proibi-las. Assim ocorre com o fumo e o álcool,
sem contar que existem leis que já proíbem o fumo
em escolas, em outros espaços públicos e até
particulares, como restaurantes e cabeleireiros. Quanto ao uso e
comércio de bebida com maior teor alcoólico, a professora
recomenda que a autoridade avalie, além do aspecto legal,
a conveniência de proibir ou liberar.
Atenção especial merecem as festas em que há
consumo de álcool. Odete lembra ter presenciado, na sua própria
escola - a Faculdade de Direito -, atos de depredação
de vitrais históricos e de outras partes do prédio
tombado. Prevendo-se ações semelhantes, é claro
que convém não autorizar comemorações
regadas a bebida alcoólica. Coisa parecida se pode dizer
da abertura ou fechamento do campus para o público em geral:
toda a área da Universidade destina-se a uso especial, isto
é, o ensino e a pesquisa, ficando implícito que a
sua finalidade principal não é o lazer. Mesmo assim,
antes de decidir pelo fechamento ou pela abertura ao público
nos finais de semana, o reitor deveria avaliar a conveniência
de fazê-lo.
Voltando à campanha de esclarecimento, o Grea participa dela
com debates nas unidades, sempre que procurado pelos diretores.
A propósito dos fumódromos, Malbergier diz que na
reunião do Conselho do Campus da Capital venceu o espírito
conciliador em relação ao fumante inveterado. As dúvidas
diziam respeito à natureza das futuras áreas destinadas
aos fumantes: se deveriam ser confortáveis, dispondo de cinzeiros,
sofás, poltronas e cadeiras; ou se conviria montá-las
toscamente, sem conforto, de forma a desestimular o seu uso. No
final, ficou decidido que tudo fica a critério das unidades.
O que não depende de outros é a evidência de
que o uso de fumo, álcool e outras drogas faz mal à
saúde. Ao uso prolongado de fumo se atribuem de 60% a 70%
dos casos de câncer, tanto do pulmão quanto da cavidade
oral e da bexiga. Associado a outras causas de morte, o fumo responde
por 4 a 5 milhões de óbitos/ano no mundo inteiro.
São enfartes, enfisemas, bronquites crônicas, isquemias,
gastrites, úlceras e aterosclerose do pênis, que causa
impotência no homem.
O Grea fez pesquisas com alunos da USP em 1996 e 2001, perguntando
três coisas: se já experimentaram tabaco, se o usaram
no último ano e se o usaram no último mês. Ficou
provado que aumentou o número de pessoas que já experimentaram
o cigarro, mas caiu o uso continuado dessa droga lícita.
Cerca de 20% dos alunos fumam, o que quase bate com o hábito
da população brasileira em geral: entre os que têm
grau melhor de educação (e de renda) 20% fumam; na
faixa mais pobre e com escolaridade menor, 25% fumam.
Malbergier considera que a regulamentação do uso de
álcool na Universidade é mais complicada que a do
fumo, porque a lei federal (número 9.294, de 1996) exclui
da proibição a bebida com teor alcoólico inferior
a 13 graus, que é o caso da cerveja. A decisão sobre
a liberação do uso ou a proibição deve
ser política. Sobre malefícios do álcool é
que ninguém tem dúvidas. Os acidentes de carro, muitas
vezes motivados por ingestão de bebida alcoólica,
são a segunda causa de morte de jovens entre 18 e 25 anos
(a primeira, na periferia, é o homicídio). No próximo
ano, o Grea fará nova pesquisa para determinar a relação
existente entre bebida e acidentes de trânsito. Em 2001, 92%
dos alunos da USP disseram que já tinham provado bebida alcoólica;
81% a usaram no último ano e 70%, no último mês.
Dos pacientes do Produsp, 56% eram usuários de tabaco, 39%
de álcool (portanto, 94% usuários de drogas lícitas)
e um pouco mais de 6% de drogas ilícitas. O serviço
recebe em torno de 100 novos casos por ano, observando-se estabilidade
nos últimos quatro anos. Casos que exigem internação
- no Hospital das Clínicas ou no Recanto Maria Teresa, em
Cotia - são exceções.
Além de representar risco no trânsito, o uso crônico
de álcool pode causar alterações no fígado
(cirrose hepática), pancreatite, diabetes, diarréias
crônicas, úlceras, gastrites, neuropatias, miocardiopatias
e demência.
Lembrando que não existe modelo ideal de vida, o coordenador
do Produsp espera que a regulamentação do uso de álcool
e fumo nos campi (todos têm conselhos) concorra para melhorar
o desempenho de alunos e professores em sala de aula e a freqüência
de funcionários no trabalho.
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