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C
om aproximadamente 120 mil pneus sem condições de rodagem ou de reforma, foi possível recuperar uma área, afetada pela erosão, de cerca de 300 metros de comprimento por 10 metros de largura e 4,5 metros de profundidade, na região de Piracicaba (SP). O projeto piloto teve coordenação do professor Gerd Sparovek, do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), a centenária unidade da USP em Piracicaba.

A pesquisa, inédita no Brasil, começou em 1998, quando Sparovek foi procurado por representantes da Cetesb e da Prefeitura Municipal de Piracicaba. Era necessário encontrar um destino adequado para os pneus inutilizados, já que o depósito em que estavam estocados seria devolvido ao proprietário. “Na época, o Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da Esalq já fazia testes experimentais em que pneus eram usados como material de preenchimento, substituindo terra ou entulho”, afirma.

A prefeitura identificou uma erosão em um sítio nas imediações da cidade e a Cetesb acompanhou o projeto. Os pneus, inteiros, foram colocados manualmente dentro da erosão. Uma camada de terra, retirada da área ao redor da erosão, foi colocada por cima, de modo a deixar os pneus totalmente enterrados. Segundo o professor, o total de pneus usados no projeto piloto equivale à produção anual de Piracicaba. A pesquisa previa o preenchimento da erosão, o plantio de capim e o reflorestamento do local. “Agora falta apenas completar a terceira etapa, com o plantio das árvores.” Segundo Sparovek, a técnica representa uma alternativa a mais para a destinação final de pneus. “Ela apresenta benefícios ambientais diretos, pois recupera uma área erodida e auxilia na recuperação de florestas”, afirma.

Segundo dados do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, o passivo ambiental de pneus no Brasil gira em torno de 100 milhões de carcaças. A destinação usual desses pneus é a queima em cimenteiras para recuperação da energia. “Mas, apesar de ser um destino legalmente autorizado e evitar os riscos da estocagem inadequada, entre eles a criação de insetos transmissores de doenças, não há ganhos ambientais diretos, como o controle de grandes erosões ou recomposição florestal”, declara Sparovek.

 

Impacto ambiental

De acordo com o engenheiro agrônomo Dauton Marcelo Cappi, o pneu é um material cujo tempo de decomposição na natureza é indeterminado. Para avaliar se ele causa algum tipo de dano ao solo ou ao lençol freático, Cappi pesquisou o tema em sua dissertação de mestrado, por meio de simulações em laboratório. O estudo foi orientado por Sparovek e foi apresentado em 2004 na Esalq.

O engenheiro trabalhou com 40 colunas de tubo PVC preenchidos com camadas de solo, pneu picado, misturado com solo, e uma última camada de solo. Durante 120 dias, os tubos foram umedecidos com água destilada. O líquido drenado passou por testes para detectar a presença de metais pesados (zinco, cobre, manganês e ferro). “No geral, a liberação desses metais ficou muito abaixo dos índices estabelecidos pela Cetesb”, conta o engenheiro. Após os 120 dias, as colunas foram desmontadas e o engenheiro analisou o material para saber se o solo absorveu os metais. “O teor de zinco foi um pouco alto, mas não chegou a atingir os valores indicados pela Cetesb”, explica.

Em seguida, Cappi colocou o material em vidros hermeticamente fechados, durante 80 dias (teste de respirometria). O procedimento indica se a presença do pneu no solo interferiu em sua microfauna. “Esse teste serve de alerta, pois em um solo contaminado não há respiração dos microoganismos”, conta. Os resultados foram positivos, pois indicaram um estímulo ao crescimento da microfauna.

O engenheiro elaborou uma estimativa em que demonstra que uma única erosão de grande porte de uma área rural de Piracicaba absorveria toda a geração de carcaças de pneus da cidade referente aos últimos 80 anos. “Isso mostra o grande potencial da técnica como alternativa para a destinação final de pneus”, afirma. Para que a metodologia possa ser colocada em prática, é necessário que a legislação aprove a técnica. Sparovek conta que já entrou em contato com o Conama, porém ainda não obteve resposta sobre o assunto.

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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