Embora reconhecidas como especialidades médicas
no Brasil, a homeopatia e a acupuntura ainda não são
ensinadas na maioria das escolas médicas do País.
O estudo realizado pelo homeopata Marcus Zulian Teixeira, da Faculdade
de Medicina da USP, mostra que 65% dos estudantes dessa unidade
têm interesse em aprender sobre acupuntura e homeopatia e
85% consideram que as duas especialidades deveriam fazer parte do
currículo da graduação. Desses, 67% atribuíram
alto grau de eficácia às especialidades e 35% defenderam
o oferecimento ambulatorial por parte dos serviços públicos
de saúde, enquanto 30% foram favoráveis à disponibilização
em hospitais e 60% acreditam na possibilidade de integração
com a prática médica convencional.
Teixeira concluiu que a maioria dos estudantes de medicina entrevistados
mostrou-se bastante interessada em aprender os fundamentos da homeopatia
e da acupuntura durante a graduação. Eles foram
capazes de observar e reportar a eficácia das duas especialidades
médicas e defenderam a incorporação delas nos
serviços públicos de saúde, ressalta.
A pesquisa foi realizada a partir de um questionário auto-aplicável
para 484 estudantes de medicina, coletando dados entre uma turma
de cada semestre, levando em consideração os seis
anos do curso.
O interesse por essas especialidades ditas alternativas que
incluem a fitoterapia e a medicina ortomolecular, entre outras
tem crescido exponencialmente em várias partes do mundo,
inclusive entre a população brasileira, diz Teixeira.
Segundo ele, esse aumento é devido à insatisfação
com a medicina convencional, com os efeitos adversos dos medicamentos
e com a abordagem organicista da saúde, excessivamente voltada
para o órgão doente do paciente. Já as abordagens
alternativas procuram ver o indivíduo como um todo (espírito,
mente e corpo), favorecendo a relação médico-paciente.
Além disso, trata-se de uma prática barata, pois não
há necessidade de se pagar royalties às indústrias
farmacêuticas e a produção de medicamentos é
baseada em pequenas quantidades da substância básica
diluída em água e álcool.
A Faculdade de Medicina da USP, desde 2002, a partir de uma luta
travada pelo professor Milton de Arruda Martins, introduziu no seu
currículo da graduação as duas disciplinas,
visando a suprir o interesse dos acadêmicos no conhecimento
dos princípios fundamentais, das evidências científicas
e da prática clínica dessas especialidades médicas.
Demora
O pesquisador deixa claro que nenhuma abordagem terapêutica
é infalível. O modelo homeopático também
tem suas dificuldades. Para conseguir o remédio ideal a determinado
paciente, é preciso um tempo maior para investigar o indivíduo
na sua totalidade. Por isso se ouve muito que a homeopatia demora
a dar resultados.
A demora, segundo Teixeira, se dá devido ao tempo que o médico
leva para escolher o remédio correto dentro de uma vasta
gama de opções para uma mesma causa. Por exemplo:
para enxaqueca existem 50 tipos de remédios. O que se leva
em conta, por paciente, é seu humor, o psiquismo, o emocional,
a alimentação, as influências climáticas,
o sono, tentando juntar tudo num único medicamento. A verdadeira
homeopatia trabalha com um remédio para despertar a reação
do organismo como um todo, esclarece.
O Conselho Federal de Medicina passou a reconhecer a homeopatia
e a acupuntura como especialidades médicas em 1980 e 1995,
respectivamente. Teixeira lamenta o fato de que ainda são
poucas as faculdades de medicina que oferecem disciplinas sobre
essas abordagens alternativas. Para ele, isso acaba por privar a
classe médica de esclarecimentos sobre os fundamentos básicos
e das evidências científicas que respaldam essas práticas
terapêuticas. Apesar de os cursos brasileiros de especialização
em homeopatia e acupuntura apresentarem uma carga horária
satisfatória, em torno de 1.200 horas-aula, quando comparados
aos de outros países, eles são administrados por entidades
desvinculadas das universidades.
Teixeira:
homeopatia é a "alternativa terapêutica"
Estados
Unidos
A pesquisa divulgada por Teixeira baseou-se na reprodução
de um levantamento de dados feito em outros países, como
Grã-bretanha, Inglaterra e Alemanha, que buscaram mensurar
o interesse e o conhecimento de acadêmicos de medicina frente
às práticas da medicina alternativa complementar.
Nos Estados Unidos, um levantamento sobre a experiência e
a comunicação com pacientes frente às práticas
não-convencionais em saúde (PNCS) foi respondido por
302 médicos em Denver, Colorado, sendo que 76% dos médicos
informaram que tinham pacientes que usavam PNCS, 59% eram questionados
sobre elas, 48% as tinham recomendado a pelo menos um paciente e
24% tinham usado tais práticas pessoalmente.
Na Universidade de Glasgow, na Escócia, dos 592 acadêmicos
de medicina entrevistados 77% consideraram que as PNCS eram úteis,
com 69% mostrando-se favoráveis à inclusão
delas no currículo fundamental. A pesquisa na Alemanha, com
204 estudantes de medicina da Universidade de Marburg, mostrou alto
interesse dos entrevistados (80%) no aprendizado de PNCS, pois pretendiam
utilizá-las na sua futura prática médica.
Para Teixeira é muito importante o ensino de PNCS para a
classe médica porque ela não se encontra apta a responder
perguntas ou orientar seus pacientes sobre essas especialidades
no que se refere aos mecanismos de ação, às
indicações terapêuticas, às interações
medicamentosas e aos seus efeitos adversos. Ele explica que a incorporação
sistemática sobre as terapêuticas não-convencionais
nos currículos das universidades, com as evidências
científicas que respaldam tais tratamentos, além de
diminuir o preconceito existente, daria aos futuros médicos
as ferramentas e o conhecimento necessários para permitir
que seus pacientes se beneficiem adequadamente dessas práticas,
com riscos limitados.
Política Como forma de responder à demanda
brasileira, o Ministério da Saúde, em conjunto com
setores que vêm desenvolvendo iniciativas na rede pública
como secretarias municipais e estaduais de saúde,
universidades e entidades representativas de classes, por exemplo
, elaborou em 2004 a Política Nacional de Medicina
Natural e Práticas Complementares, com o intuito de incrementar
a assistência, o ensino e a pesquisa em homeopatia, acupuntura,
fitoterapia e medicina antroposófica no Sistema Único
de Saúde (SUS). A política já foi aprovada
nas primeiras instâncias e encaminhada para avaliação
pelo Conselho Nacional de Saúde.
Para Teixeira, a medicina é uma só e a homeopatia,
a acupuntura, a fitoterapia e as demais terapêuticas não-convencionais
vêm para somar. Elas não são uma terapia alternativa,
mas sim uma alternativa terapêutica. Quem ganha com
isso é o paciente.
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