Como a Universidade pode contribuir para a sobrevivência
dos chamados cursinhos comunitários ou pré-vestibulares
que funcionam no campus foi a questão central debatida no
1o Seminário de Cursinhos Alternativos da USP, realizado
no dia 2 de junho no auditório da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo (FAU) da USP. O geógrafo Aziz AbSáber,
a assessora da Pró-Reitoria de Graduação, Maria
Vicentina de Paula do Amaral Dick, o pró-reitor de Cultura
e Extensão Universitária, Adilson Avansi de Abreu,
e o professor da Faculdade de Educação da USP João
Galvão Bacchetto, além de coordenadores de cursinhos
e centenas de jovens, debateram quais os caminhos para esses programas
se inserirem no contexto da Universidade.
Uma ação encaminhada pelo Ministério Público
em 2002 expôs uma situação já prevista
no Estatuto da Universidade e em leis estaduais e federais de educação,
que diz respeito à proibição de cobrança
de mensalidades por programas englobados no contexto de cultura
e extensão de universidades públicas. A partir de
2002, cursinhos que estavam nessas condições na USP
foram obrigados a sair do campus.
Diante de um futuro nebuloso, a idéia do seminário
é tornar público e aprofundar esse debate, porque
existe muita confusão sobre o assunto, afirma Vanessa
Pinheiro, uma das coordenadoras do cursinho do Crusp, graduanda
em Geografia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH) da USP e uma das organizadoras do evento. Há
quem confunda os cursinhos com fundações, por exemplo.
O fato é que eles exercem um papel social importante de inclusão
e educação de jovens pobres e preenchem lacunas deixadas
pela rede pública de ensino. Então o que queremos
é funcionar regularmente dentro da Universidade. Se não
podem ser cobradas mensalidades, uma das alternativas seria a criação
de projetos de extensão e cultura que possam abarcar parcerias,
mesmo porque pretendemos manter a autonomia desses cursos.
Parcialmente vinculado à Universidade, o cursinho do Crusp
atualmente funciona numa escola municipal no bairro do Butantã.
Centenas de alunos se beneficiam das aulas ministradas pelos cursinhos
da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade,
do Instituto de Psicologia, do Centro Acadêmico 11 de Agosto
da Faculdade de Direito e do Núcleo de Consciência
Negra, que também participaram da organização
do seminário.
Para Erik Norio Matsukuma, aluno da FEA e um dos coordenadores do
cursinho daquela unidade, esses programas alternativos ajudam a
inserir diferentes camadas sociais no ensino de nível superior.
Não temos pretensão de realizar um papel que
é do Estado, mas cada um pode colaborar fazendo a sua parte,
diz. Segundo Matsukuma, todos os professores são voluntários
e os alunos pagam apenas taxas de inscrições e matrícula,
que servem para cobrir custos com material didático.
Já o projeto do Instituto de Psicologia optou por professores
remunerados para haver maior comprometimento desses profissionais,
diz o graduando da unidade e um dos coordenadores do cursinho, Guilherme
Gibran Pogibin. Cobramos uma taxa de manutenção
para que o programa não acabe. Por isso estamos buscando
com as Pró-Reitorias e o público formas de financiamento.
Mesmo porque não achamos justo que os jovens paguem mensalidades,
afirma.
Validade
cultural
Aplaudido de pé ao ser apresentado, o professor Aziz AbSáber
defendeu no seminário a validade cultural desses projetos.
Não é hora de caracterizar coletivamente a Universidade
e dizer que ela é reacionária, pois só o fato
de estarmos aqui debatendo esse tema demonstra o interesse em resolver
a questão. Por outro lado, todos temos de reconhecer o valor
cultural desses cursinhos. Muitas pessoas os procuram para se atualizar,
aperfeiçoar a cultura e até para se preparar para
concursos públicos, o que prova que têm valor social
e não se prestam simplesmente a provas de vestibular. Antes
de acabarem com eles, acabem com as fundações,
disse.
O pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária,
Adilson Avansi, lembrou que é recente na história
das universidades a percepção da importância
dessas instituições como transformadoras dos processos
sociais, daí porque muitas iniciativas de extensão
e cultura ainda estão se concretizando. A Universidade
só consolida a doutrina de prestação de serviços
a partir de 1988, quando o conceito foi pela primeira vez mencionado
no Estatuto. Portanto é algo muito recente e especificamente
sobre a questão dos cursinhos já existem algumas ações
em andamento e que representam apenas parte da resolução
do problema. Dentro do Fundo de Cultura e Extensão apoiamos,
por exemplo, o Projeto Redigir, que é executado por alunos,
com orientação de professores, diz.
De acordo com Avansi, a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão
Universitária incentiva que as unidades criem a disciplina
de cultura e extensão, através da qual os alunos desenvolvem
atividades que podem ser incluídas como créditos no
currículo. O professor Avansi acha positivo o papel dos cursinhos
alternativos: Se de um lado são bons porque atendem
a uma parte da população, são ainda melhores
porque atuam no processo de formação do professor,
que tem a chance de amadurecer e desenvolver metodologias e com
isso passa a ser beneficiado, afirma.
Projetos que atuam fora da USP também participaram do evento,
como o Cursinho Popular de Estudantes e o JOC, da Fundação
José Cardin. Alvo de uma disputa judicial pelo uso do nome,
o Cursinho da Poli estava representado por um de seus coordenadores,
o professor Gilberto Giusepone.
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