
Desde os tempos em que foi fundado pelo então
secretário de Cultura, Mário de Andrade, o Quarteto
de Cordas da Cidade de São Paulo na época chamado
Quarteto Haydn já mudou de nome e formações,
mas chega agora em 2005 completando 70 anos ininterruptos. A partir
desta semana dois eventos marcam a data: uma homenagem feita pela
Orquestra Sinfônica da USP e apresentações do
Quarteto com o violonista convidado, Edelton Gloeden.
No concerto Quarteto de Cordas da Cidade 70 Anos, que
acontece nesta quarta, a Osusp convida o Quarteto para interpretar
o compositor brasileiro Claudio Santoro com o especial Concerto
Grosso para Quarteto de Cordas e Orquestra. Com um nome simples,
a composição, entretanto, reserva surpresas para o
diálogo que se cria entre os músicos do Quarteto
formado atualmente por Marcelo Jaffé na viola, Robert Suethölz
no violoncelo, Betina Stegmann e Nelson Rios nos violinos
e os músicos da orquestra, que, acrescidos de convidados,
são cerca de cem no palco. A leitura da obra tem um
caráter extremamente dramático. E nós não
temos notícia de sua execução em São
Paulo, sendo provavelmente desconhecida do público,
explica o regente convidado para o concerto, Aylton Escobar, professor
de regência do Departamento de Música da Escola de
Comunicações e Artes/USP. Um dos integrantes do Quarteto,
Marcelo Jaffé, que também é professor de música
na ECA, reitera o diálogo na composição de
Santoro: Os momentos da obra são marcados por passagens
em que o quarteto toca e a orquestra espera, depois a orquestra
toca e o quarteto espera; como se fosse o quarteto versus orquestra,
ou um jogo de sons.
Completando o repertório da noite, a Osusp interpreta Horizontes,
de Ronaldo Miranda, confirmando a recente preocupação
em dar destaque a compositores nacionais com Santoro são
dois compositores contemporâneos a serem executados na primeira
parte da apresentação , e Pássaro de
Fogo, do russo Igor Stravinsky. Essa peça importantíssima
de Stravinsky tem uma linguagem popular russa, por tratar-se de
uma lenda local. A suíte de 1945, que é a que vamos
executar, é a mais recente, a mais completa e a mais rara
de se ouvir. Geralmente a mais executada é a suíte
de 1919, principalmente no balé, comenta Escobar. Por
ser uma peça longa, sem interrupção (cerca
de 30 minutos), ela não é facilmente escolhida para
interpretação no concerto da Osusp ela toma
conta do segundo bloco inteiro. Com estas obras, o maestro frisa
que a apresentação no geral é dedicada ao século
20, mas com ordem cronológica inversa: primeiro o compositor
mais novo (Miranda compôs Horizontes em 1997), seguido de
Santoro e Stravinsky, que iniciou Pássaro de Fogo em 1910.

O
quinto instrumento
O violonista Edelton Gloeden, de volta de uma turnê recente
pela Europa, é convidado pelo Quarteto para prestar uma homenagem
aos duzentos anos de morte do compositor italiano Luigi Boccherini.
O artista, que viveu no século 18 e se tornou célebre
aos 13 anos de idade, foi um dos maiores compositores de música
instrumental de sua geração e, depois de Haydn e Mozart,
foi o maior compositor de música de câmara do seu tempo;
na imensa maioria, suas composições são dedicadas
aos quartetos de cordas. A obra interpretada será Quinteto
Fandango para violão e cordas, que tem uma clara influência
da época em que Boccherini viveu na Espanha, onde permaneceu
até sua morte, em 1805. O Fandango é basicamente
uma dança folclórica espanhola, tanto que no meio
da obra, possivelmente, o próprio Boccherini parasse para
tocar castanholas: no meio da partitura há trechos com a
inscrição castanhetes, completa Gloeden, também
professor do Departamento de Música da ECA/USP.
São quatro apresentações com Gloeden que acontecem
ao longo de junho, sendo a primeira em São Paulo agora nesta
quarta. No repertório, o Quarteto de Cordas da Cidade de
São Paulo também interpreta mais uma obra de Boccherini
(Quartettino) e Quarteto no 2, de Camargo Guarnieri.
Em relação aos planos para o ano de comemorações,
O Quarteto de Cordas está programando uma turnê pela
França, além de viagens para os EUA, Argentina e provavelmente
México (todos no segundo semestre). Em todos eles, o grupo
segue com a harmonia que é necessária para que um
quarteto de cordas dê certo. Instrumentos de uma mesma
família propõem timbres semelhantes, basicamente são
quatro instrumentos que soam como um só. Parece fácil,
mas é isso que gera um grau altíssimo de exigência
na perfeição sonora, explica Jaffé, que
relembra que a integração é uma prática
minuciosa e constante; no caso, exercitada pelo grupo cerca de três
horas por dia, todo dia.
Quarteto
de Cordas da Cidade 70 Anos acontece nesta quarta, às
21h, na Sala São Paulo (Praça Júlio Prestes,
s/nº, tel. 3337-5414. Ingressos: R$ 10,00 a R$ 30,00). O Quarteto
de Cordas da Cidade de São Paulo toca com Edelton Gloeden
nesta quarta, às 12h30, na Galeria Olido (av. São
João, 473, Centro, tel. 3334-0001. Entrada franca), no próximo
dia 21, às 12h30, no Auditório do Departamento de
Música/USP (av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443,
Conjunto Arquitetônico das Artes, Cidade Universitária,
tel. 3091-4680. Entrada franca), no dia seguinte, dia 22, às
21h, no Espaço Promon (av. Juscelino Kubitschek, 1.830, tel.
3847-4111. Ingressos: R$ 20,00) e dia 25 de junho, às 17h,
no Teatro Municipal (Praça Ramos de Azevedo, s/n º,
tel. 222-8698. Ingressos: R$ 5,00 ).
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