
Com 146 dissertações de mestrado e teses
de doutorado defendidas e 12 turmas formadas, o Programa de Pós-Graduação
em Ciência Ambiental (Procam) da USP comemorou, entre os dias
24 e 26 de outubro, 15 anos de existência. O evento incluiu
debates sobre temas ligados ao ambiente e a apresentação
dos resultados desses anos de trabalho. Houve também o lançamento
da quarta coletânea de dissertações e teses
do programa, intitulada Caminhos de uma ciência ambiental,
publicada pela editora Annablume, com organização
do presidente do Procam, professor Waldir Mantovani.
No primeiro dia do evento os palestrantes prestaram homenagens ao
químico Franco Levi e ao arquiteto Philip Oliver Mary Gunn,
professores da USP falecidos recentemente. Eles foram responsáveis
pela construção do que é hoje o Procam,
disse Mantovani.
Para a professora Yara Schaeffer Novelli, do Instituto Oceanográfico,
o programa, por sua característica inovadora e por ser ainda
muito jovem, está em permanente construção
e representa um desafio constante. Era uma idéia muito
nova dentro da Universidade e felizmente pudemos contar com um colega
tão estimulante como Levi, que sempre apresentava um caminho
diferente para trilharmos e para o qual não estávamos
preparados, disse a professora. Para Yara, a diversidade dos
candidatos dos últimos exames de admissão, com formações
que vão de zoólogos e biólogos a arquitetos,
engenheiros e comunicadores, revela o sucesso da proposta de formar
profissionais das mais diversas origens.
O pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária,
professor Adilson Avansi de Abreu, disse acreditar que as dificuldades
pelas quais o Procam passou, em razão de sua inovadora característica
administrativa e acadêmica, provavelmente tenderão
a mudar. Na sua opinião, os estudos interdisciplinares têm
sido cada vez mais valorizados na academia e a perspectiva é
de que a Universidade reveja alguns pontos de sua doutrina. Imagino
que isso possa avançar porque, como se fala muito na revisão
do Estatuto, certamente esta é uma questão que deverá
ser considerada, disse o professor, referindo-se à
estrutura administrativa, acadêmica e de poder necessária
ao aperfeiçoamento de cursos de graduação e
programas de pós que são interdisciplinares.
Quando a USP surgiu, em 1934, a doutrina predominante era a do conhecimento
especializado e da verticalização do saber, apoiada
numa estrutura administrativa centrada em departamentos e unidades,
lembrou Avansi. Com as modificações trazidas a partir
dos Estatutos de 1969 e, especialmente, de 1988 que introduziu
a idéia da interdisciplinaridade, com a criação
dos núcleos de apoio à pesquisa e à cultura
, os estudos propondo a integração de diferentes
campos do saber ganharam importância. Os órgãos
de integração, como museus e institutos especializados,
passaram por um processo progressivo de valorização,
segundo o pró-reitor. Mas, para essas dificuldades
serem realmente superadas, é preciso dar um passo ainda mais
forte no sentido de reconhecer que esses programas têm necessidades,
da mesma forma que os disciplinares. E para superar isso é
preciso criar estruturas administrativas e orçamentárias
que viabilizem uma atividade permanente desses cursos, acrescentou
Avansi.

O
encontro no Procam: propostas efetivas para preservar o ambiente
Interdisciplinaridade
Os
conceitos e dificuldades metodológicas que permeiam os estudos
interdisciplinares foram tópicos debatidos, no encontro do
Procam, pelo professor Dimas Floriani, da Universidade Federal do
Paraná, e pela professora Leila da Costa Ferreira, do Núcleo
de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp). Com intermediação do coordenador
de doutorado do Procam, Pedro Roberto Jacobi, o debate contou com
a participação da platéia, que quase lotou
o Auditório das Colméias.
A professora da Unicamp vê no Brasil conceituações
da interdisciplinaridade inspiradas nas mais variadas fontes, passando
pela perspectiva construtivista e também pelo enfoque marxista
e do materialismo do sociólogo francês Émile
Durkhein (1858 1917), entre outros. Ela ressaltou que as
ciências ambientais são interdisciplinares por natureza.
Impossível pensar a questão ambiental dissociada
da social e esta da questão biogeoquímica. Não
se trata de abrir mão dos enfoques disciplinares, mas de
buscar uma análise mais ampla. Um geógrafo nunca deixará
de ser um geógrafo, mas, se formado sob uma perspectiva interdisciplinar,
certamente sairá do curso como um pesquisador totalmente
diferente, com uma visão mais rica da realidade e da ciência,
afirmou Leila.
Para Floriani, é um privilégio que as ciências
sociais estejam se comunicando com outras práticas. Acredito
que estamos percebendo a importância dos sentidos e das representações
que damos aos fenômenos e às coisas. Quem faz os sentidos
neste mundo? Que armadilhas nos estão reservadas quando tentamos
nomear ou definir um fenômeno? As ciências ambientais
estão nesse limiar de produção de sentido,
disse Floriani. Para o professor, a interdisciplinaridade é
uma forma de articular as diferentes disciplinas para a melhor compreensão
dos conflitos. É um confronto dos diferentes saberes
organizados e disciplinares que desenvolvem uma estratégia
diferente daquela que seria realizada dentro do saber disciplinar.
Publicações
As 344 páginas da coletânea Caminhos de uma ciência
ambiental trazem os resumos dos estudos defendidos em 2003 no Procam
e enfocam vários temas sobre o ambiente. Na apresentação,
o professor Mantovani destaca que o livro mostra a consolidação
das duas linhas de pesquisa desenvolvidas pelo programa, que são
A biodiversidade como trunfo no processo de desenvolvimento:
instituições e atores e Gestão
de recursos comuns: dimensões institucionais, sociais e territoriais.
Os 14 trabalhos que compõem este livro são respostas
a inquietações teóricas, a problemas ambientais
reais ou a questões metodológicas, constituindo a
produção que sintetiza o conjunto das dissertações
defendidas em 2003 no Procam, escreve Mantovani.
No livro, a pesquisadora Ivone Gorete Lucena destaca que a gestão
ambiental nas empresas e a certificação ISO 14.001
devem responder essencialmente a questões ambientais ou econômicas,
ou ambas. A audiência pública como instrumento de gestão
ambiental é enfocada por Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer.
Arranjos institucionais e potencialidades do co-manejo para a gestão
de recursos pesqueiros no Amapá foi o tema de estudo de Luciana
Sonnewend Brondízio. Outros trabalhos abordam estudos de
casos sobre sociedades sustentáveis, gestão de resíduos
sólidos e projetos de conservação ambiental.
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