
O desafio de viver nas grandes metrópoles é
a questão que paira no cotidiano dos arquitetos de todo o
mundo. Desde o último dia 23, a 6a Bienal Internacional de
Arquitetura (BIA), em São Paulo, está apresentando
as pesquisas, os projetos e as intervenções dos urbanistas
e arquitetos para garantir a qualidade de vida e o futuro das cidades.
A edição deste ano da Bienal é uma oportunidade
para aprofundar a reflexão sobre a participação
e colaboração dos arquitetos no processo de qualificação
da vida urbana das cidades brasileiras e da inclusão social
da população, observa Paulo Sophia, presidente
do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).
A mostra, realizada pelo IAB e Fundação Bienal de
São Paulo, deve atrair 200 mil visitantes, expectativa justificada
pela edição de 2003, que recebeu o mesmo número
de pessoas. O evento tem uma dimensão internacional
significativa. Para se ter uma idéia, a Bienal de Veneza,
que é a mostra de arquitetura mais importante do mundo, recebeu,
em sua última edição, 65 mil visitantes,
diz Paulo Sophia.
Sob a curadoria de Pedro Cury e Gilberto Belleza, o foco do evento
é apresentar a arquitetura ao alcance de todos. Queremos
mostrar que a arquitetura não é exclusividade das
elites, como se pensava no passado. A idéia é que
as pessoas percebam como as edificações e, por conseqüência,
as cidades ganham qualidade quando passam pela intervenção
de um arquiteto, afirma Cury. O papel da arquitetura
é o de propor soluções para organizar os espaços
urbanos, harmonizando o caos e as contradições. Para
isso, é preciso conciliar a realidade, decorrente do crescimento
desordenado, e a utopia, que é o pensar idealizado e uma
alavanca para o progresso da humanidade.
A 6a BIA destaca 200 projetos desenvolvidos a partir de 2003, por
arquitetos jovens e experientes que foram selecionados por um júri
especializado. Reúne, ainda, em uma área de 3.450
metros quadrados, profissionais da Itália, França,
Inglaterra, Espanha, Holanda, Alemanha, Canadá e México,
que apresentam também trabalhos de design, paisagismo, comunicação
visual e arquitetura de interiores.
Versatilidade
e qualidade
Sem o paisagismo de Rosa Grena Kliass, a humanização
dos espaços de Décio Tozzi e o desenho criativo de
Carlos Bratke, a cidade de São Paulo, com certeza, não
seria a mesma. Para homenagear o seu trabalho e determinação,
a 6a Bienal reservou salas especiais para que apresentassem os seus
projetos. Além deles, há espaços especiais
para outros brasileiros, como Eduardo de Almeida, João Carlos
Cauduro, Ludovico Martino, Benno Perelmutter, Marciel Peinado, Hector
Viglieca, Paulo Zimbres, Luiz Eduardo Índio da Costa, Joel
Campolina, Campelo Costa, Nelson Forte Netto, Vital Pessoa de Melo,
Siegbert Zanettini, Mário Aloísio, Acácio Gil
Borsoi e Joan Villá. Nossa intenção é
homenagear esses profissionais que representam a diversidade da
produção nacional e atuam em áreas diversificadas,
evidenciando a qualidade e a versatilidade da arquitetura brasileira,
acentua Gilberto Belleza.
Enquanto caminha pelo espaço povoado por projetos, o visitante
vai identificando o desenho das cidades brasileiras. Décio
Tozzi apresenta, em um painel de 3x10 metros, fotografias, plantas
e detalhes de empreendimentos como o Spazio 2222, residencial de
alto padrão onde procurou levar a uma torre de apartamentos
o clima aconchegante das antigas vilas paulistanas. Apresenta também
outros espaços que priorizam o conforto ambiental e o impacto
positivo do entorno.
Com forte atuação nas áreas de planejamento
ambiental, sinalização visual e mobiliário
urbano, o escritório Cauduro Martino, dos arquitetos João
Carlos Cauduro e Ludovico Martino, traz alguns trabalhos curiosos,
como a sinalização visual e o mobiliário urbano
da avenida Paulista e o projeto de sinalização viário-turística
de Salvador.
Também o pernambucano Mário Aloísio Melo, que
vive em Maceió, apresenta, através de maquetes e vídeos,
trabalhos de diferentes usos. Os seus projetos se destacam pela
forma como as edificações se adaptam à cultura
e à maneira de viver de seus usuários e também
pelo compromisso em criar obras de caráter social, democrático
e acessível. Um exemplo é o novo Aeroporto Internacional
Zumbi dos Palmares, em Maceió, inaugurado em setembro deste
ano, com 22 mil metros de área construída em formato
que lembra um caranguejo.
A arquitetura sustentável aliada à qualidade de vida
de Siegbert Zanettini é exibida com destaque. O público
pode ver, através de amplos painéis de fotografias,
edifícios como o Centro de Pesquisas da Petrobras, na Ilha
do Fundão, no Rio de Janeiro, que previu, além de
uma construção industrializada, que gera pouco entulho
e desperdício, soluções para uso racional de
água e energia, tratamento de águas servidas e reúso
de águas de chuva, além de revitalização
da paisagem local.
Os visitantes poderão conferir ainda como se produz arquitetura,
a partir de uma idéia ou demanda até o projeto pronto.
Carlos Bratke expõe sua metodologia de trabalho através
de maquetes, plantas e croquis em computador. Bratke é o
responsável pela transformação da avenida Luiz
Carlos Berrini, em São Paulo. Concebeu, na região,
cerca de 60 edifícios, todos caracterizados pelo desenho
moderno e futurista.

A
6a Bienal Internacional de Arquitetura está aberta no Pavilhão
da Bienal do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, até
11 de dezembro, de terça a sexta-feira, das 12 às
22 horas, sábados e domingos, das 10 às 22 horas.
O ingresso custa R$ 12,00.
Novas
cores
A alegria que as cores são capazes de transmitir está
no projeto de Ruy Ohtake. Com muita criatividade, ele pintou, após
dez meses de trabalho, 278 casas das duas principais ruas da favela
Heliópolis, em São Paulo. Cores vibrantes, escolhidas
pelos próprios moradores, em uma composição
que se tornou símbolo da reivindicação por
cidadania, inclusão social e solidariedade. O projeto pode
ser visto através de painéis fotográficos,
vídeos, textos e depoimentos.
As pesquisas também serão debatidas e apresentadas
na 6a BIA. Nestor Goulart dos Reis Filho, professor da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, irá mostrar um sério
fenômeno urbano que atinge toda a região metropolitana
do Estado de São Paulo. Por meio da comparação
de imagens de satélites realizadas entre 1930 e 2001, o visitante
pode compreender o que é a urbanização dispersa,
sua evolução e efeitos. As regiões metropolitanas
de São Paulo estão formando uma macroaglomeração,
com cerca de 28 milhões de habitantes, semelhantes à
que existe na costa leste dos Estados Unidos, entre Boston e Washington,
esclarece Reis. A pesquisa mostra que, nesses locais, as áreas
urbanas se misturam ao campo, formando um novo tipo de tecido urbano.
Essas mudanças tornam obsoletos quase todos os nossos conhecimentos
e práticas sobre urbanismo e planejamento urbano. Trata-se
de um processo semelhante ao que está acontecendo na Europa
ocidental neste momento.
O fenômeno está sendo observado por pesquisadores da
FAU desde o ano passado. O trabalho se estenderá pelos próximos
quatro anos e envolverá outros temas, como novas formas de
habitar e a perspectiva histórica do mercado imobiliário
brasileiro. As áreas analisadas compreendem a região
metropolitana de São Paulo, a de Campinas, a Baixada Santista
e o Vale do Paraíba.
Um dos destaques da Bienal é o trabalho de Cristiano Mascaro,
um arquiteto com mestrado e doutorado na USP, mas que nunca desenvolveu
um único projeto. No entanto, ninguém registrou e
documentou tanto a cidade das últimas quatro décadas
como ele. Mascaro está sendo homenageado pelo seu trabalho
de fotógrafo e olhar de arquiteto. A sua mostra de fotos
da paisagem e da gente de São Paulo está logo na entrada
da exposição, recepcionando os visitantes.
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