
Internacionalização,
inserção social, investimento em pesquisa, expansão
de vagas, administração mais ágil, maior participação
de alunos e funcionários nos processos decisórios
da Universidade: assuntos como esses estiveram presentes nos debates
realizados ao longo de toda a campanha para a eleição
da nova gestão da Reitoria da USP. A cada processo
eleitoral nós renovamos os debates e rediscutimos a Universidade,
o que é sempre muito importante, diz Myriam Krasilchik,
professora da Faculdade de Educação da USP e vice-reitora
na gestão de Flávio Fava de Moraes (1993 1997).
Os debates sinalizam não apenas os temas que constavam dos
programas dos candidatos, mas apontam para os desafios que a Universidade
tem pela frente nos próximos quatro anos.
Para o reitor que deixa o cargo, a continuidade do processo de expansão
e a manutenção da excelência que fez
da USP a única universidade brasileira e uma das duas únicas
da América Latina incluídas numa lista das 200 melhores
instituições do mundo, de acordo com ranking do jornal
britânico The Times divulgado no final de outubro são
os pontos fundamentais para a nova etapa. O grande desafio
da USP é manter o padrão de qualidade em todas as
suas áreas, diz Adolpho Melfi. Tivemos programas
vitoriosos, como na expansão, especialmente com a criação
do campus da zona leste. A próxima gestão deverá
envidar esforços para sua consolidação,
completa.
A universidade, no mundo todo, está passando por uma
reavaliação e vive momentos de grandes mudanças.
Vários paradigmas foram suplantados nas últimas décadas
e um novo projeto está se definindo, em diferentes partes
do planeta, pondera Vahan Agopyan, diretor da Escola Politécnica
da USP. O maior desafio da próxima gestão, na
minha opinião, é trazer essa discussão para
dentro da USP e prepará-la para os novos desafios que estão
se manifestando. Para Agopyan, a USP, como instituição
de referência nacional, deve iniciar essas discussões
pensando no sistema de educação superior do País
de forma global.
Um desafio muito importante é manter a excelência
da pesquisa, avaliada por padrões internacionais, pondera
a professora Maria Tereza Leme Fleury, diretora da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.
O que traz diferenciais é a qualidade e relevância
da nossa pesquisa, defende. Nesse ponto, uma discussão
que deve ser travada é a questão do financiamento
da universidade pública que se mantenha dentro desses padrões
internacionais. Para a professora, a pesquisa feita no Brasil
deve ser de primeira linha e relevante para o País,
mas também precisa dialogar com os grandes centros internacionais.
O intercâmbio constante, docente e discente, é
muito importante no processo de formação. Isso traz
uma diversidade de visões de mundo riquíssima para
alunos e professores e, nesse sentido, não devemos
procurar apenas os Estados Unidos e a Europa, mas prover um olhar
muito mais abrangente, afirma.
Pesquisa
Com a experiência de quem se debruçou intensamente
nos últimos quatro anos sobre temas cruciais para o desenvolvimento
científico e tecnológico, o pró-reitor de Pesquisa
da USP, Luiz Nunes de Oliveira, afirma que os dois principais problemas
a atacar para aprimorar o setor são a melhoria do trabalho
cooperativo, com foco em áreas multidisciplinares, e a disparidade
da qualidade do trabalho. Há grupos com padrão
internacional e outros muito abaixo disso, afirma. Precisamos
torná-los homogêneos de baixo para cima, com propostas
que venham das unidades, defende.
Quem está na linha de frente da pesquisa é testemunha
dos problemas a enfrentar. Um exemplo é dado pelo professor
Carlos Roberto Ferreira Brandão, diretor do Museu de Zoologia
da USP. Uma vez que a pesquisa em zoologia muitas vezes envolve
retirar organismos da natureza, ele pergunta: Como balancear
a atenção cada vez maior que precisamos dedicar à
obtenção de documentos e certificados antes de iniciar
a coleta de dados de um projeto científico, em qualquer nível,
com a liberdade que a prática já mostrou fundamental
para o sucesso de toda agenda de investigação?.
O desafio que proponho para a USP tem duas facetas: como,
ao mesmo tempo em que vivemos em ambiente de acelerada degradação
e obedecemos à legislação, podemos contribuir
para seu aperfeiçoamento, paulatino em alguns casos, extremo
e radical em outros? A segunda faceta diz respeito ao papel que
esta universidade pode e deve ter nesse processo. Não temos
capacidade de identificar cientificamente grande parte dos organismos
que aqui ocorrem, embora vivamos no país detentor da maior
diversidade de animais, plantas e microorganismos do planeta,
lembra. O conhecimento sobre a biodiversidade brasileira é
estratégico e já concentramos pessoal capacitado,
coleções, bibliotecas e laboratórios em número
e qualidade significativos, diz Brandão. Se a
USP assumir o papel que dela se espera, em pouco tempo nossa posição
de referência nacional e internacional se consolidará.
Participação
Tornar mais leves e ágeis as estruturas administrativas e
decisórias da Universidade é outro desafio citado
pelos professores ouvidos pelo Jornal da USP. Tendo os nossos
objetivos gerais bem traçados, aí sim, podemos planejar
as nossas atividades-fim, acredita Vahan Agopyan. Para
que elas se concretizem, devemos organizar as atividades-meio. Deve
ficar claro que, para uma gestão eficiente, o controle é
centralizado, mas as ações, necessariamente, são
descentralizadas e ágeis, afirma o diretor da Politécnica.
O modelo de gestão terá que ser repensado para
ser mais ágil e descentralizado, concorda a professora
Maria Tereza Leme Fleury, da FEA. Nesse processo é necessário,
entretanto, contemplar a diversidade das unidades e dos campi.
O aumento da participação de estudantes e funcionários
foi uma demanda presente no último pleito. Para o reitor
Adolpho Melfi, esse debate terá uma etapa importante na próxima
reunião do Conselho Universitário, no dia 13 de dezembro.
O que determinados segmentos querem é que a USP faça
eleição direta e paritária. Não vejo
condições de que isso passe no Conselho. Universidades
que fizeram isso não tiveram nenhum sucesso, diz o
reitor. Melfi considera, no entanto, que algumas mudanças
podem ocorrer, como o atendimento da proporção determinada
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) no
colégio eleitoral, chegando à proporção
de 70% de docentes, 15% de funcionários e 15% de estudantes.
Isso é perfeitamente viável de ser discutido,
acredita Melfi.
Para a pró-reitora de Graduação, professora
Sonia Penin, o diálogo das diferenças deve ocorrer
de forma democrática para que a USP possa cumprir melhor
sua função social. No Brasil, considera, a
Universidade e o ensino universitário têm uma tarefa
muito importante para ajudar a levar o País na direção
do desenvolvimento sustentável.

As
eleições para a Reitoria da USP: momento de rediscutir
os rumos da Universidade
Alunos
querem discutir critérios das bolsas
Aprofundar
as discussões sobre a Pós-Graduação
na USP, especialmente no que se refere aos critérios
para concessão de bolsas e à ampliação
dos programas, são os principais tópicos defendidos
pelos estudantes da pós na Universidade para a próxima
gestão. Uma das idéias, de acordo com Rubens
Chagas, representante discente (RD) no Conselho Universitário,
é solicitar à Pró-Reitoria de Pós-Graduação
a criação de um conjunto de regras gerais que
contenham alguns princípios básicos para os
critérios de distribuição de bolsas.
Para isso, os alunos defendem a criação de comissões
de bolsas nas unidades em que elas ainda não existem,
com a participação dos RDs. Ao mesmo tempo,
também é necessário reivindicar às
agências de fomento o reajuste e um aumento do número
de bolsas para mestrado e doutorado.
Os pós-graduandos querem ainda a ampliação
dos debates sobre o Programa de Aperfeiçoamento de
Ensino (PAE), reavaliando a obrigatoriedade do estágio
para bolsistas de doutorado da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes). Queremos promover uma ampla discussão
sobre os sistemas de avaliação USP e Capes,
defendendo uma avaliação baseada na qualidade
dos programas, com eqüidade no tratamento dos diferentes
cursos, diz Chagas, que faz pós em Ecologia no
Instituto de Biociências. Outros temas também
estão na pauta de debates que os estudantes querem
levar ao Conselho de Pós-Graduação. Entre
os assuntos, lista Chagas, estão o doutorado direto,
os programas interunidades, os mestrados profissionalizante
e interinstitucional e a especialização via
cursos pagos na USP.
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