Desde
que comecei a tomar contato com a Universidade como aluno, e, posteriormente,
como professor, tenho ouvido que o tripé da academia é
constituído pelo ensino, pela pesquisa e, para completar,
pela extensão, mas acredito que tem havido algum equívoco
em relação a esse entendimento. Ouvi recentemente
de uma docente da USP, numa banca de concurso, a seguinte afirmação:
A Universidade não quer um professor que pesquise,
e sim um pesquisador que também ensine. Será
que esse é o pensamento da Universidade?
Não creio que seja. Essa afirmação parece minimizar,
desvalorizar ou pelo menos não considerar a verdadeira importância
do magistério, da atuação do docente em sala
de aula. Se essa assertiva fosse verdadeira, o tripé da Universidade
deveria ser pesquisa, ensino e extensão. Nessa visão,
parece-me que o docente está deixando de aproveitar o que
existe de melhor na profissão, que é garantido pela
satisfação, pelo prazer e pela alegria de poder acompanhar
as mudanças que ele ajudou a promover através do ensino,
do convívio e dos embates acadêmicos e pedagógicos.
Já em suas origens, a vocação de uma universidade
é para a docência, para o ensino, para a transmissão
de conhecimentos e experiências. A pesquisa, parece-me, surgiu
como necessidade para produzir e atualizar conhecimentos.
Existem, muito próximos e interagindo com a USP, diversos
institutos, como o Butantan, o Instituto de Pesquisas Energéticas
e Nucleares (Ipen) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas
(IPT), entre outros, cuja principal finalidade é produzir
pesquisa, básica e aplicada, mas que não têm
como principal objetivo o ensino, a docência, e nem por isso
deixam de ter grande importância para a Universidade e para
a sociedade. Essa também é uma das razões pelas
quais entendemos que a função do profissional que
atua como pesquisador é diferente da do professor, cujo objetivo,
até etimologicamente, é voltado para o ensino, para
a docência (professor, do latim professore aquele que
professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica,
uma disciplina).
A missão da universidade, desde seus primórdios, com
a criação da Universidade de Bolonha, em 1070, salienta
a importância da docência, da transmissão de
conhecimentos e formação de pessoas. A USP aponta,
dentre seus objetivos, desenvolver um ensino vivo, acompanhando
as transformações na área do conhecimento e
mantendo-se em permanente diálogo com a sociedade, numa produtiva
integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
Para haver o binômio ensino/aprendizagem, é necessária
a pesquisa, pois através dela é produzido e enriquecido
o conhecimento. Mesmo que o professor não seja um pesquisador
na verdadeira acepção do termo, necessita ler, estudar
e se atualizar constantemente para sua função de professor,
e precisa, até por determinações estatutárias,
realizar pesquisas e publicá-las. Entretanto, todas essas
exigências não podem suplantar a sua função
docente, que é confundida, de certo modo, com a extensão,
que, em uma análise mais ampla, é o grande objetivo
da universidade, pois ela precisa restituir à sociedade pelo
menos parte do investimento aplicado em sua construção
e manutenção.
Um dos aspectos que também precisam ser lembrados é
o da constante reciclagem do professor, proporcionada por seu contato
diário com o aluno, que é onde ele se aperfeiçoa,
através da emoção de lidar com as mentes curiosas,
inquietas e criativas dos aprendizes, sejam crianças, adolescentes,
adultos ou até idosos. Esse desafio, aprendizado e atualização,
não é proporcionado somente pelo laboratório,
pela biblioteca ou na pesquisa, mas, sim, no contato humano, nos
embates diários e na cumplicidade construída na sala
de aula. A docência, o ensino, nessa perspectiva humana, se
constitui como a principal função do professor, com
todos os aspectos que a envolvem.
Paulo
de Aguiar Prouvot é educador do Centro de Práticas
Esportivas da USP (Cepeusp)
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