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Cerimônia de formatura da primeira
turma de Relações Internacionais da USP: cidadãos
do mundo
A Secretaria de Relações Internacionais
da Prefeitura do Município de São Paulo ganhou um
novo assessor, Adalberto Felício Maluf Filho. O curso de
Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da USP acaba de receber mais uma mestranda,
Camila Lissa Asano. Por outro lado, Fábio Cereda tenta uma
vaga na concorrida terceira fase de provas do Instituto Rio Branco,
órgão responsável pela seleção
e treinamento de diplomatas brasileiros. O que esses e outros jovens
talentos têm em comum não é só a área
de atuação, mas também o fato de pertencerem
à primeira turma de formandos do curso de Relações
Internacionais do Instituto de Relações Internacionais
(IRI) da USP.
Nos dias 30 e 31 de março, os recém-formados escreveram
mais uma página de suas histórias e também
da Universidade. Em eventos realizados na sala da congregação
da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
(FEA) e no Anfiteatro Camargo Guarnieri, receberam o tão
esperado canudo, com direito a discursos de experientes profissionais
do ramo.
Costumo dizer que a tarefa da política externa como
uma política pública é traduzir, com criatividade,
as necessidades internas em possibilidades externas, expressou
em seu discurso o patrono da turma, professor Celso Lafer, da Faculdade
de Direito da USP, um dos que primeiro defenderam a criação
do curso de Relações Internacionais na USP.
Feliz quem pode conhecer as causas (das coisas), disse
Lafer, citando o poeta latino Virgílio, e finalizou o breve
discurso: Com base no lastro do curso que estão concluindo,
tenho a certeza de que, nas diversas funções que vierem
a exercer nas múltiplas vertentes hoje abertas para os bacharéis
de Relações Internacionais, vocês saberão
lidar, pelo conhecimento e pela ética, com os desafios que
terão pela frente. Como patrono desta turma, desejo a todos
felicidades, alegrias pessoais e votos de sucesso profissional.
Guido
Soares
Um dos executores e responsáveis pela idealização
do projeto do curso de RI da USP, o professor Guido Fernando Silva
Soares, falecido em 29 de maio de 2005, foi homenageado no evento.
Importante diplomata brasileiro e professor de Direito Internacional
com extensa obra na área de direito internacional público,
esteve representado por familiares e foi citado nos emocionados
discursos de formandos e professores. Responsável por
propor o curso à Comissão de Cooperação
Internacional (CCInt) da USP, Guido tinha um entusiasmo ilimitado
pelo trabalho que estávamos fazendo. Vinha sempre com uma
idéia nova, nem sempre uma idéia prática, pois
nosso Guido era um sonhador, disse a paraninfa da turma, professora
Maria Hermínia Tavares de Almeida, vice-diretora do IRI e
professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH). Seu mote era algo como vamos imaginar o que
queremos, depois pensamos nas dificuldades a enfrentar. Sua
liberdade para imaginar como um bom curso deveria ser, sem dar muita
atenção para limitações concretas, foi
fundamental para um projeto que se pretendia inovador. Creio que
todos os que com ele convivemos, aprendemos que, para criar o novo,
é preciso ter a liberdade de sonhar.
Além do professor Guido, os professores Celso Lafer, Jacques
Marcovitch, Walter Colli e Maria Hermínia também receberam
homenagens. Outros homenageados foram o professor visitante especialista
em Oriente Médio Peter Demand, os professores Rafael Antônio
Duarte Villa, do Departamento de Ciência Política da
FFLCH, Pedro de Abreu Dallari, da Faculdade de Direito da USP, Marcos
Sawaya Jank, da Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade (FEA), e Fernanda Rodrigues Castellano, da FFLCH,
assim como Fabiana Camargo Franco, chefe do serviço de Graduação
e Nelson Zanotti Silva, secretário do curso.
A área de relações internacionais vem ganhando
tanta projeção que o curso da USP, criado em 2001,
tem sido um dos mais concorridos do vestibular da Fuvest. Não
tínhamos idéia de quais seriam os resultados, mas
eles superaram as nossas expectativas. O curso tem tido uma das
notas de corte mais altas do vestibular, ao lado de outros tradicionais
como Medicina, por exemplo, diz o presidente do Instituto
de Relações Internacionais, professor Walter Colli.
A juventude hoje está percebendo que a leitura do Brasil
depende de uma leitura das mudanças internacionais. Por ser
um país-continente, o Brasil poderia ser considerado auto-suficiente.
Mas a era da terceira globalização, que é a
digital, exige uma melhor leitura desse mundo em que as relações
econômicas, políticas, sociais e ambientais passam
por rápidas transformações, disse o professor
da FEA e ex-reitor da USP, Jacques Marcovitch. Partidos políticos
estão em crise e confrontos sociais são cada vez mais
corriqueiros, mesmo em países desenvolvidos, como vem ocorrendo
nos últimos dias na França. Se há excesso de
recursos de um lado, há escassez de outro. Isso pode mostrar
que o mundo vive momentos de grandes oportunidades, desde que feita
a leitura correta. O Brasil precisa desses profissionais e os jovens
estão percebendo que esta é uma área de oportunidades.
Marcovitch comanda os Seminários de Relações
Internacionais, disciplina ministrada no primeiro semestre do curso
e que se compõe de palestras com renomados profissionais
das mais diversas áreas de atuação.
Mundo
em mudanças
Para se ter uma noção da importância da atuação
do profissional de relações internacionais para o
País, basta lembrar alguns casos que ganharam a mídia
nos últimos meses. Alguns exemplos disso são as vitórias
brasileiras no combate contra os subsídios do governo norte-americano
ao algodão e contra os incentivos econômicos da União
Européia à reexportação do açúcar
produzido nas suas ex-colônias.
No mundo globalizado, tudo indica que a importância desses
profissionais tenderá a aumentar. Segundo dados do Ministério
das Relações Exteriores, no período de 1995
até setembro de 2001 o Brasil esteve envolvido em 21 contenciosos,
sendo 14 como reclamante e sete como reclamado. Dos 21 casos, 13
envolveram regras de defesa comercial, como antidumping, anti-subsídios
e salvaguardas sobre produtos industriais e agrícolas.
No total, foram encerrados 13 casos, sendo que o Brasil conseguiu
resultados positivos em 11 deles, ou seja, foi bem-sucedido em 85%
deles. Em dois, ou 15%, houve ganhos parciais, uma vez que cada
um envolve uma série de questões que podem ser avaliadas
como parcialmente positivas, segundo dados do Ministério.
Tudo isso só para ficar no campo comercial. Se o trabalho
da equipe brasileira na Organização Mundial do Comércio
(OMC), em Genebra, tem garantido mais equilíbrio no comércio
realizado com pesos-pesados da economia mundial, outros setores
também têm sentido a diferença da atuação
desses negociadores.
Nas relações ligadas ao ambiente, o Brasil vem sendo
protagonista desde 1992, com a condução diplomática
da Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, em junho de 1992). Assim como quando
da assinatura do Tratado de Assunção, com Argentina,
Uruguai e Paraguai, visando à criação do Mercosul,
entre outros tratados importantes. O bacharel em Relações
Internacionais tem uma gama de atuações possíveis:
assessor e negociador em casos da OMC, diplomata, representante
comercial do Brasil no exterior e agente de promoção
comercial e de cooperação internacional, entre outras
funções.
Foi justamente movido pelas constantes mudanças globais e
pelo perfil requerido para esse profissional que se estruturou o
curso da USP. A idéia que norteou o projeto do curso
foi a formação multidisciplinar, para que o aluno
possa compreender os desafios do presente, valorizar as diferenças
e agir com uma disposição permanente ao diálogo,
disse o professor Colli.
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