No O projeto Reproposta está de cara nova. O que
era um jornal em tamanho ofício, impresso em papel-jornal,
agora passa a ser uma revista, com capa colorida, em papel couché.
Produzida pelo grupo de alunos idosos da disciplina Reproposta:
Narrativas da Terceira Idade, ministrada na Escola de Comunicações
e Artes (ECA) da USP pela professora Cremilda Medina, a revista
traz também artigos de especialistas que estudam o problema
do idoso, como geriatras e sociólogos.
O
projeto surgiu em dezembro de 1997, durante a disciplina Aventura
de Fazer Jornal, ministrada pelo professor Manuel Carlos Chaparro,
do Departamento de Jornalismo da ECA, hoje aposentado. “O
jornal Reproposta brotou não só do professor, mas,
principalmente, do grupo de alunos da disciplina-oficina, esta sim,
uma idéia que gerei e durante alguns anos acalentei, felizmente
com sucesso”, relata Chaparro.
A
capacidade de sonhar e realizar seus sonhos não se esgota
aos 60 nem aos 70 anos. Acreditando nisso, os 40 idosos que comparecem
semanalmente às aulas elaboram o conteúdo da revista,
que percorre temas como felicidade, tempo, ócio, solidão,
medo, sexualidade, relatos de experiências, saúde,
situação econômica e aposentadoria, entre outros.
Na nova edição da revista, o texto “Lazer e
participação social”, da socióloga Lilia
Ladislau, trata das dificuldades enfrentadas pelos idosos em muitas
situações corriqueiras, mostrando que a indiferença
os anula. “A marginalização do idoso ocorre
tanto na esfera doméstica quanto em outros espaços
sociais. A opinião do velho não é respeitada
no âmbito familiar, sua voz não é ouvida e sua
presença incomoda. A cidade tenta disfarçar sua existência
na profusão de estímulos visuais e no apelo para que
se observe de novo, mas é sobre ela que intermináveis
filas de aposentados perturbam a (des)organização
urbana e seguem gratuitamente transportados nos coletivos, silenciados
por essa ‘gratidão’ e pela indiferença
que os anula.”
A
revista também apresenta textos que falam de experiências
bem-sucedidas voltadas para os idosos, como os espaços de
lazer. É o caso do artigo “O Centro de Referência
da Cidadania do Idoso e seu espaço, o Vale do Anhangabaú”,
de Neuza Guerreiro de Carvalho e Reizo Takabayashi, que retrata
a inauguração daquele centro, instalado pela Secretaria
Municipal de Assistência Social na rua Formosa, no Vale do
Anhangabaú, em São Paulo, e oferece oficinas, encontros
e festas.
O
Congresso da Terceira Idade, ocorrido recentemente em Aracaju, que
contou com a participação de idosos de todo o Brasil,
é descrito no artigo “Os estudantes da terceira idade
num encontro interdisciplinar”, de Sônia Bícego.
“O 9o Fórum Nacional da Terceira Idade e o 8o Encontro
Nacional dos Estudantes da Terceira Idade foram um sucesso, e os
participantes puderam fazer uma proveitosa reflexão sobre
o envelhecimento que temos e o que queremos numa visão interdisciplinar”,
conta o artigo.
Estímulo
– Mesmo com altos e baixos, a Reproposta insiste em viver.
Não foi a falta de dinheiro para pagar as edições
nem a mudança de alguns integrantes para outras atividades
que fizeram a equipe esmorecer. Esther Alves Martirani, no artigo
“Jornalistas e jornaleiros”, conta, em tom de narrativa,
a história da publicação. Ela lembra a edição
número 18, de julho de 2004, a última sob a responsabilidade
de Chaparro, em que à tristeza da despedida do idealizador
do jornal se somou a notícia da morte repentina do marido
de uma das redatoras.
No segundo semestre daquele mesmo ano, a professora Cremilda assumiu
a disciplina, dando novo estímulo para a equipe. Primeiro
foi criado um website (www.reproposta.org),
uma vez que os problemas econômicos persistiam. No entanto,
alguns integrantes não tinham acesso à internet e
queriam que a Reproposta continuasse sendo impressa. Em 2005, Cremilda
passou a fornecer suporte teórico e prático para o
aperfeiçoamento do estilo narrativo, com aulas da disciplina
Narrativas da Contemporaneidade, e com isso as alunos começaram
a se familiarizar com o estilo reportagem, que seria daí
em diante a meta da revista.
Reproposta
tem 150 páginas, é publicada semestralmente e conta
com apoio do Fórum Permanente Interdisciplinar, que também
abrange o Projeto São Paulo de Perfil, da ECA. “No
microcosmo de uma disciplina da ECA, em meio ao mar de tantas outras
experiências lideradas por meus parceiros uspianos, posso
atestar que os idosos mal se seguram para transitar criativamente
no presente. Bastam oportunidades acadêmicas, programáticas?
Pouco importa como chamemos esse laboratório que transforma
o presente fugidio numa nova idade”, diz Cremilda. A disciplina
Reproposta: Narrativas da Terceira Idade é oferecida todo
semestre. Acontece todas as quartas-feiras, das 14 às 17
horas, no Departamento de Jornalismo e Editoração
da ECA, sala 38.
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