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São imagens de um recanto. Simples e tranqüilo. Um lugar que poderia ser em qualquer outro lugar, onde a beleza fica por conta do céu azul. E os olhos mergulham levemente. Sem sonhos, sem preocupações, buscando só o descanso. É esse recorte que o fotógrafo italiano Mauro Rombi foi buscar na Sardenha, onde nasceu. E, sob a curadoria do artista plástico Fernando Durão, apresenta numa seqüência de 11 fotos no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo.

“O Recanto”, como sugere o nome da exposição, é hoje a ilha de São Pedro que, para os gregos antigos, era Hierakon e, para os púnicos, “a ilha dos gaviões”. “Diz a lenda que essa ilha foi o refúgio de São Pedro surpreendido no mar por uma forte tempestade”, conta Rombi. “É uma ramificação da Sardenha ao longo da costa sudoeste. Durante a Revolução Francesa, tornou-se laboratório social para a criação de uma pequena república inspirada pelos princípios revolucionários.”
Hoje, a ilha de São Pedro está na rota do turismo internacional. “No entanto, não abandonou suas próprias raízes culturais, a própria língua e os costumes.” Rombi foi buscar as peculiaridades da região. Observou as habitações rurais espalhadas pelo campo. “As casas são um testemunho precioso da história dessa pequena comunidade que empresta a cor e a forma da cultura mediterrânea.”

Apesar da paisagem generosa da Sardenha, Rombi fechou o foco na casa caiada de branco contrastando com o azul do céu. Um recanto com a brisa salgada exalando aromas típicos da vegetação e, como o fotógrafo descreve, “ora com a predominância de zimbro, ora de figo ou da vinha”. O fotógrafo lembra que o recantu é o refúgio da alma. “Representa o traço de uma cultura milenar aberta ao mundo, porém protegida pelo isolamento que apenas a ilha de uma ilha pode garantir. Como restituir o sentido de tempo, de natureza, de um saber tão antigo?”

Rombi diz que a fotografia não conseguiria refletir um sentido tão amplo. Preferiu, então, seguir por aproximações de formas e luzes, focalizando a percepção sobre os aspectos que caracterizam a paisagem mediterrânea. O resultado está na seqüência de fotos. Ao contrário do que imaginava, Rombi conseguiu restituir o sentido de tempo e de natureza, priorizando só as linhas geométricas, buscando o azul na sua essência. E o homem na sua sabedoria, na sua cultura, também está presente. Suas impressões estão na textura dos muros que parecem ter recebido uma nova mão de cal. Ou na bandeira da Itália, que foi hasteada no ponto mais alto da casa. Ou ainda na cortina da pequena janela feita das sobras da rede de um pescador. “Sob aquele céu, uma cultura milenar elaborou formas e modos de habitar na natureza que ainda hoje representam um milagroso equilíbrio e um admirável respeito ao ambiente”, diz Rombi. “Uma cultura fundada sobre o respeito às coisas e aos outros, lembrando a harmonia e a serenidade em um mundo dominado por lógicas de domínio e exploração dos recursos que a natureza generosamente coloca à disposição.”

Olhar de artista – Com a curadoria do artista e também fotógrafo Fernando Durão, as 11 imagens contam uma história. Começa com um muro de pedras e duas linhas em um ângulo do céu. Ou seja, é o desenho exato de um recanto. O enredo fica por conta da janela, que parece minúscula para uma construção tão grande. Fica a dúvida: como será o interior dessa casa? E a luz, como se espalha? A impressão é que a arquitetura, diante do sol escaldante do lado de fora, priorize a penumbra própria de um recanto. Na última foto, surge, enfim, uma árvore frondosa, sombreando a paisagem.

Na aparente ausência de informações, Fernando Durão extraiu o sonho do fotógrafo. “Rombi enquadra sabiamente o cotidiano de uma realidade que fica congelada sob o efeito de um clique”, avalia o curador. “Capta um instante subjetivo, pessoal, poético, que aborda a questão dos limites e das fronteiras visuais entre o passado e o presente.”

Para Durão, as fotos oferecem uma leitura impregnada de códigos estéticos, onde o significado do tempo remete para um território comum ao imaginário do observador. “São recortes focados no espaço e na temporalidade plástica, expressos por uma construção de planos estruturados para dentro e para fora, na intenção explícita de subverter conceitos da pós-modernidade que tratam a antiga representação do homem como valores a serem escondidos ou transformados.”

“O Recanto” está em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo (avenida Europa, 158, Jardim Europa), de terça a domingo, das 12 às 20 horas. A entrada é grátis. Mais informações pelo telefone (11) 3062-9197.


Fotoclubismo brasileiro

Outra opção do Museu da Imagem e do Som (MIS) para este fim de semana é a mostra Fotoclubismo Brasileiro, movimento que, na história da fotografia moderna, teve sua parcela de contribuição na modernização da linguagem e na aproximação com o conceito de obra de arte. Depois de viver um período de auge no Brasil, entre os anos 40 e meados dos anos 60, o fotoclubismo amargou um processo de declínio para ganhar novo fôlego.

Esses momentos de auge e retomada são os fios condutores da mostra, dividida em duas exposições paralelas. Uma delas, a “24a Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em Preto e Branco”, está instalada no primeiro andar e foca a produção contemporânea. Enquanto a outra, “Retrospectiva Fotoclubistas Brasileiros dos anos 40 a 70”, encontra-se no segundo andar. Através de 200 imagens, o público pode apreciar a história do movimento do fotoclubismo e também repensar o seu futuro num mundo onde a fotografia está cada vez mais acessível com o advento da tecnologia digital.

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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