![créditos: Richard Murphy](ilustras/p09a.jpg)
Se
você protege o oceano, protege você mesmo. Com essa
mensagem, Jean-Michel Cousteau – filho do famoso oceanógrafo
Jacques Costeau, morto em 1997 – veio ao Brasil oficializar
sua parceria com o Instituto Oceanográfico da USP no projeto
Embaixadores do Meio Ambiente. O projeto, desenvolvido por Jean-Michel
Cousteau e sua equipe, tem como público-alvo alunos do ensino
fundamental e médio, de 8 a 14 anos, e visa à educação
sobre o oceano, sua biodiversidade e a integração
do homem com o ambiente.
![créditos: Richard Murphy](ilustras/p09b.jpg)
Projeto dirigido por Murphy e Costeau (abaixo) leva estudantes
para bases
oceanográficas, a fim de que tenham contato direto
com a fauna e flora marinhas: objetivo é que meninos
e meninas sintam experiências com o oceano que vão
marcá-los para o resto de suas vidas, transformando-os
em adultos conscientes da importância de reservar o
ambiente |
Para tal, os alunos são levados a bases
oceanográficas, onde aprendem na prática sobre a fauna
e flora marinhas locais. Os acampamentos duram cerca de cinco dias
e são realizados com pequenos grupos de até dez crianças,
sempre acompanhadas de um professor e um monitor. Durante esse período,
eles realizam atividades didáticas como jogos, oficinas,
sessões de filme, palestras e excursões à beira-mar
ou em embarcações. “Nós trazemos crianças
da cidade para o ar livre para fazê-las se sentir mais confortáveis
nesse meio, conectá-las à natureza”, explica
Richard Murphy, biólogo marinho e membro da equipe do projeto.
Todas essas atividades são planejadas
não só para educar sobre o oceano, mas também
para ensinar os princípios do desenvolvimento sustentável
e da preservação dos recursos hídricos e dos
ecossistemas marinhos. “O objetivo desse projeto é
tornar cada cidadão consciente da sua ação
em defesa da preservação do meio marinho. As atividades
são divertidas e levam ao conhecimento ecológico dos
oceanos, das relações humanas, das atitudes de proteção”,
diz a professora Elisabete Saraiva, presidente da Comissão
de Cultura e Extensão do Instituto Oceanográfico e
responsável pelo projeto no Brasil.
Após o período do acampamento
na base, as crianças continuam participando do projeto através
do acompanhamento dentro das escolas. “Aprender sobre o oceano
é importante. Mas, se parar aí, ainda não faremos
nosso trabalho. As crianças devem conversar com outras crianças,
falar em suas comunidades sobre o que aprenderam. Nós queremos
fazer com que entendam as lições que passamos e que
levem essas lições para suas comunidades e as transformem
em ações”, afirma Murphy.
O projeto será oferecido tanto a escolas
públicas como a instituições privadas, mas
o foco inicial serão os alunos do ensino público próximo
de Ubatuba. Os alunos de escolas particulares pagarão uma
taxa para participar, enquanto para os estudantes do ensino público
será gratuito. “Como não há fins lucrativos
no projeto, a idéia é que os alunos de escolas particulares
paguem pela participação dos alunos das públicas”,
explica a professora Ana Maria Vanin, diretora do Instituto Oceanográfico.
Por ser um projeto com alto custo, uma das
prioridades é conseguir patrocinadores. “Custa dinheiro
para ir a esses projetos e nós sabemos que as escolas públicas
não têm recursos. Já temos patrocinadores no
Brasil que estão interessados em financiar as escolas públicas”,
explica Jean-Michel. “Mas o que fazemos é misturar
escolas públicas com privadas. Crianças são
crianças e há um momento em que não há
diferença entre crianças ricas e pobres”, completa.
![créditos: Cecília Bastos](ilustras/p09c.jpg)
Lata de lixo – Embaixadores
do Meio Ambiente é um dos diversos projetos desenvolvidos
pela Ocean Future Society, entidade de atuação mundial
criada por Jean-Michel Cousteau para a proteção dos
oceanos. Ela é fruto do profundo interesse sobre os oceanos
herdado de seu pai, Jacques Cousteau, com quem Jean-Michel explorou
as águas de todo o mundo. “Eu passei a maior parte
da minha vida navegando e explorando o oceano e fui testemunha de
como nós usamos o oceano como uma lata de lixo. Tudo está
conectado e quando poluímos os oceanos, poluímos todo
o planeta”, conta Jean-Michel.
Foi por causa da preocupação
com a devastação humana no meio marinho que Jean-Michel
criou o Embaixadores do Meio Ambiente. Segundo ele, educar as crianças
para a preservação ambiental gera adultos responsáveis,
com ações efetivas de desenvolvimento sustentável.
“Nos últimos 33 anos, eu e Richard Murphy desenvolvemos
esse projeto e vimos como isso afetava as crianças. Hoje
essas crianças são adultas, têm família,
têm filhos e nos contam que a experiência que tiveram
quando jovens impactou suas decisões em todos os níveis”,
relata, sobre sua experiência em outros países.
Atualmente, o projeto tem sedes nos Estados
Unidos (na Califórnia e no Havaí), Caribe, França,
Grécia e Pacífico Sul. O próximo passo é
a instauração da sede no Brasil, através da
parceria com o Instituto Oceanográfico da USP.
O instituto fornecerá ao projeto a
infra-estrutura da base oceanográfica de Ubatuba, no litoral
norte paulista, para a realização das atividades,
e seus alunos de graduação trabalharão como
monitores do projeto. Alunos e professores do Instituto Oceanográfico
trabalharão com Richard Murphy na adaptação
do projeto à especificidade da fauna e flora brasileiras.
Privilegiado – Uma
infra-estrutura adequada e conhecimento profundo do local foram
os diferenciais que atraíram o interesse da Ocean Future
para o instituto nesta sua primeira empreitada no Brasil. “Se
você não fornecer a estrutura adequada, o projeto não
sai. Nós mandamos algumas fotos e Jean-Michel Cousteau verificou
que havia uma correspondência entre o que ele pratica em outros
lugares e o que poderá praticar no Brasil”, afirma
Elisabete Saraiva. “O instituto foi realmente privilegiado
com essa escolha e esperamos que a parceria seja ampliada para seus
outros programas.”
Para o Instituto Oceanográfico, o
Embaixadores do Meio Ambiente oferece um projeto de sucesso comprovado
e a oportunidade de resultados grandiosos no trabalho com a comunidade.
“Nós temos projetos pequenos em que envolvemos escola
e professores. Mas o problema é que são atividades
muito difusas, que não conseguem se estruturar. Com esta
parceria, teremos um produto muito mais sólido do que nossas
ações em comunidades isoladas”, comemora Elisabete
Saraiva. “Além disso, nossos alunos poderão
trocar experiências e desenvolver produtos com a Ocean Future.
Poderemos colocá-los mais próximos de uma equipe que
já tem uma experiência internacional, algo inédito
para nós.”
Mesmo tendo uma afinidade maior com o meio
marinho, Jean-Michel Cousteau quer desenvolver o Embaixadores do
Meio Ambiente também no meio de água doce. Para isso,
busca uma parceria com a Universidade de Maringá, que tem
uma base no rio Paraná.
Com a USP, o projeto tem uma duração
prevista de três anos, prazo no qual a Ocean Future pretende
construir uma sede própria no Guarujá. “Vamos
participar, em princípio, oferecendo nossa base de Ubatuba,
nossos laboratórios e, em troca, nossos alunos receberão
treinamento para participar do projeto. Depois a idéia é
que o projeto tenha uma sede própria”, resume Ana Maria
Vanin.
Apesar de ser o primeiro projeto implantado
no Brasil, a relação de Jean-Michel Cousteau com o
País é antiga. “Há 25 anos eu vim ao
Brasil com meu pai e mais 45 pessoas. Passamos 20 meses na Amazônia.
Nós produzimos sete horas de projetos de televisão
e conhecemos muitas pessoas, fizemos muitos contatos e criamos muitas
relações. Desde então voltei diversas vezes.
Há muito que podemos aprender através de sua cultura
e de sua natureza e do fato de que contribuem enormemente com a
emissão de gás carbônico”, destaca.
Por causa dessa relação afetiva
com o Brasil, a Ocean Future resolveu desenvolver seu projeto no
País. “Nós convidamos o Brasil a implementar
esse conceito aqui. Para haver mais crianças que se interessem
por ciência e, mais importante, crianças que crescerão
como cidadãos responsáveis, que entendem por que devemos
ter limites no uso, na devastação da natureza e todas
essas outras questões ambientais que causam problemas mundiais,
como o aquecimento global”, explica Richard Murphy.
Enquanto o Embaixadores do Meio Ambiente
aguarda a aprovação do Conselho de Cultura e Extensão
Universitária da USP para sua oficialização,
Jean-Michel Cousteau planeja filmar oito documentários no
Brasil. Os dois primeiros serão sobre a Amazônia. “O
Brasil é um país fascinante, um país muito
rico e, como nação poderosa, é uma das maiores”,
elogia. A previsão é que já em novembro a primeira
turma de alunos esteja embarcando para Ubatuba.
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