![](ilustras/p06a.jpg)
“Unidade móvel do Centrinho é fundamental para
que a população com menos recursos tenha acesso a
exames gratuitos de audição: “Muitas pessoas
possuem perda auditiva, mas por dificuldades financeiras não
fazem as avaliações”, constata fonoaudiólogo
Você
ouve bem? A pergunta destacada em grandes letras brancas num cartaz
vermelho chama a atenção das pessoas que passam pela
Unidade Móvel de Avaliação Audiológica
do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais
da USP, o popular Centrinho de Bauru. Alguns apenas observam e seguem.
Outros, interessados na possibilidade de um atendimento gratuito,
param e pedem informações. Ao lado de fora, enquanto
aguardam seus familiares, crianças colorem o ambiente desenhando
com lápis de cor.
A unidade móvel do Centrinho – um
trailer com estrutura completa para a realização de
exames de meatoscopia, triagem audiométrica e imitanciométrica
– tem sua importância resumida em uma palavra simples:
prevenção. O objetivo? Detectar possíveis falhas
na audição e encaminhar as pessoas ao tratamento adequado.
“Muitas pessoas sabem que possuem a perda
auditiva, alguns até mesmo já detectaram a perda,
mas por dificuldades financeiras, principalmente por falta de recursos,
não realizam as avaliações”, explica
a fonoaudióloga Regina Célia Bortoleto Amantini, que
atua no Centro de Pesquisas Audiológicas (CPA) do Centrinho.
Segundo a fonoaudióloga, é comum a equipe ouvir, durante
a triagem, queixas de pessoas que evitam o convívio social
por apresentarem dificuldades de entender as conversas. “Algumas
pessoas relatam dificuldade de compreensão, principalmente
em situação de ruído, o que caracteriza a perda
auditiva nas freqüências agudas”, esclarece.
Quando em ação, a Unidade Móvel
de Triagem Audiológica costuma mobilizar a equipe de fonoaudiólogas
do Centrinho – seja do CPA, seja do Centro de Atendimento
aos Distúrbios da Audição, Linguagem e Visão
(Cedalvi). A unidade também conta com apoio da Fundação
para o Estudo e Tratamento das Deformidades Craniofaciais (Funcraf),
entidade sem fins lucrativos que oferece suporte aos serviços
do hospital. A última jornada de destaque da unidade móvel
ocorreu em Araraquara, no início do mês. O trailer
ficou durante nove dias estacionado em um ponto estratégico
da Feira Agrocomercial e Industrial da Região de Araraquara
(Facira), evento que anualmente reúne cerca de 200 mil pessoas
em suas dependências.
Durante esse período (4 a 12 de agosto),
diariamente, uma equipe formada por fonoaudiólogas e profissionais
de outras áreas do hospital, que atuavam no agendamento das
triagens, se deslocavam cerca de 140 quilômetros para os atendimentos.
Para essas profissionais, sair da rotina de trabalho não
representa um problema. “É gratificante poder orientar
as pessoas corretamente e vê-las saindo satisfeitas”,
comenta a auxiliar-administrativa Cláudia Cristina de Oliveira
Souza, que trabalha na central de agendamento do hospital.
Números – Os números
revelam a dimensão e o sucesso da atividade. Em Araraquara,
foram realizadas 486 triagens auditivas. Desse total, 46 casos apresentaram
alteração no ouvido externo (como a chamada “rolha
de cera”), impossibilitando a realização da
triagem. “Esses casos receberam encaminhamento direto para
remoção da cera”, explica Regina.
Esse foi o diagnóstico do profissional de
serviços gerais José Bento Gomes da Silva, 53 anos.
Convivendo diariamente em sua atividade profissional com pó
e ruídos de motores, ele inicialmente resistiu em fazer a
triagem. Depois, convencido pelos filhos, foi atendido pelas fonoaudiólogas
e apresentou a “rolha de cera”. “Foi importante
passar pelo trailer, agora vou procurar fazer a limpeza”,
justifica.
Outros 102 casos, devido à falha na triagem
audiométrica, foram encaminhados para avaliação
otológica e audiológica com finalidade de diagnóstico.
Foi o caso do comerciante Joel Cardoso dos Santos, 43 anos, que
nunca havia procurado tratamento. Desconfiado de que apresentaria
falha na audição, fez questão de aguardar na
fila seu nome ser chamado para a triagem. “Tenho telefone
celular, mas não uso porque não escuto”, justifica.
O motivo de sua queixa foi confirmado. Ao apresentar falha na triagem,
foi encaminhado ao Centro de Saúde Auditiva de Araraquara,
unidade ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS), parceira
do Centrinho na atividade.
![](ilustras/p06c.jpg)
Solidariedade: objetivo é detectar falhas
na audição das pessoas
Outros números que chamam a atenção
são da última triagem realizada pela equipe de fonoaudiólogas
do Centrinho em Bauru, em parceria com o Serviço Social da
Indústria (Sesi). Na ocasião, no final de junho, foram
atendidas em um único dia 122 pessoas com idades entre 4
e 79 anos. Segundo a fonoaudióloga Adriana Sampaio de Almeida
Meyer, do Cedalvi, apenas 28% delas passaram pela triagem sem apresentar
perda auditiva. Entre os casos diagnosticados com falha, 19,5% apresentaram
a chamada “rolha de cera”.
É por estatísticas assim que o trailer
segue sua trajetória. “Assim como pacientes de todo
o País vêm para o Centrinho, esperamos que as pessoas,
principalmente as que estão mais próximas, tenham
conhecimento do nosso trabalho e sigam em busca de tratamento”,
diz a fonoaudióloga Regina Bortoleto.
Casos – Natan da Rocha Brito, 7 anos, é uma criança
como qualquer outra. Como grande parte dos meninos da sua idade,
costuma assistir à televisão e jogar videogame em
pé, próximo da tela. “Desconfiei que ele poderia
ter algum problema de audição ou visão”,
ressalta a mãe Alessandra da Rocha Brito, 31 anos. Natan,
no entanto, passou pela triagem da unidade móvel em Araraquara
sem apresentar falha.
Esse também é o caso de Eduardo de
Santana da Silva, 13 anos, adolescente que adora assistir à
televisão com o volume no alto. Inquieta com o costume do
filho, a mãe Adeilda Rodrigues de Santana, 35 anos, também
procurou as profissionais do Centrinho que trabalhavam na triagem.
Mais uma vez não se constatou falha. Assim como Alessandra
e Adeilda, inúmeras outras mães procuram a unidade
móvel do Centrinho desconfiadas de possíveis deficiências
auditivas em seus filhos. Mas, diferentemente delas, há muitos
casos que realmente merecem atenção especial.
Em Araraquara, por exemplo, a triagem detectou
um caso de perda profunda em uma criança de 2 anos. “A
mãe nos procurou já com alguns exames realizados,
sabendo da presença de perda auditiva de seu filho. Ela ainda
não havia procurado tratamento porque não sabia como
chegar ao Centrinho para concluir o diagnóstico, testar aparelhos
e realizar a adaptação ou encaminhamento a outros
locais que realizam o mesmo trabalho”, afirma Regina Bortoleto.
“Nesse grau de perda, deve ocorrer a intervenção
o mais cedo possível, pensando principalmente no desenvolvimento
da linguagem da criança”, acrescenta a fonoaudióloga.
Outro destaque do atendimento oferecido pela Unidade
Móvel de Avaliação Audiológica do Centrinho
é a procura por pessoas de todas as idades e classes sociais.
“A visão das pessoas, muitas vezes, é de que
tudo que lhes traga algo de bom terá custo. E não
é isso, o que queremos passar para as pessoas é que
elas possuem condições de ir atrás”,
completa a Regina. Além do Centrinho, o SUS mantém
programas de saúde auditiva em todo o País.
Etapas – A triagem realizada
pela equipe de fonoaudiólogas do Centrinho na Unidade Móvel
apresenta três etapas. Inicialmente, as fonoaudiólogas
fazem a meatoscopia, em que é verificado se há algum
tipo de alteração no chamado ouvido externo. Nessa
fase, as profissionais avaliam se é possível a realização
da triagem auditiva completa. Alguns casos são impossibilitados
devido à presença da “rolha de cera”.
Na segunda etapa ocorre a triagem imitanciométrica.
Trata-se de uma breve avaliação relacionada ao ouvido
médio. Pacientes que apresentam alterações
também são encaminhados para avaliação
com profissionais da área de otorrinolaringologia.
Na terceira e última etapa do atendimento,
as fonoaudiólogas fazem a triagem audiométrica. Com
ajuda de um audiômetro, são emitidos sons por meio
de um fone, em uma sala com isolamento acústico, apresentando
estímulos sonoros em cinco diferentes freqüências
sonoras. Os indivíduos que apresentam limiares acima de 20
decibéis são encaminhados para avaliação
otorrinolaringológica, audiológica, seguindo a conduta
adequada.
|