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“Unidade móvel do Centrinho é fundamental para que a população com menos recursos tenha acesso a exames gratuitos de audição: “Muitas pessoas possuem perda auditiva, mas por dificuldades financeiras não fazem as avaliações”, constata fonoaudiólogo

Você ouve bem? A pergunta destacada em grandes letras brancas num cartaz vermelho chama a atenção das pessoas que passam pela Unidade Móvel de Avaliação Audiológica do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, o popular Centrinho de Bauru. Alguns apenas observam e seguem. Outros, interessados na possibilidade de um atendimento gratuito, param e pedem informações. Ao lado de fora, enquanto aguardam seus familiares, crianças colorem o ambiente desenhando com lápis de cor.

A unidade móvel do Centrinho – um trailer com estrutura completa para a realização de exames de meatoscopia, triagem audiométrica e imitanciométrica – tem sua importância resumida em uma palavra simples: prevenção. O objetivo? Detectar possíveis falhas na audição e encaminhar as pessoas ao tratamento adequado.

“Muitas pessoas sabem que possuem a perda auditiva, alguns até mesmo já detectaram a perda, mas por dificuldades financeiras, principalmente por falta de recursos, não realizam as avaliações”, explica a fonoaudióloga Regina Célia Bortoleto Amantini, que atua no Centro de Pesquisas Audiológicas (CPA) do Centrinho. Segundo a fonoaudióloga, é comum a equipe ouvir, durante a triagem, queixas de pessoas que evitam o convívio social por apresentarem dificuldades de entender as conversas. “Algumas pessoas relatam dificuldade de compreensão, principalmente em situação de ruído, o que caracteriza a perda auditiva nas freqüências agudas”, esclarece.

Quando em ação, a Unidade Móvel de Triagem Audiológica costuma mobilizar a equipe de fonoaudiólogas do Centrinho – seja do CPA, seja do Centro de Atendimento aos Distúrbios da Audição, Linguagem e Visão (Cedalvi). A unidade também conta com apoio da Fundação para o Estudo e Tratamento das Deformidades Craniofaciais (Funcraf), entidade sem fins lucrativos que oferece suporte aos serviços do hospital. A última jornada de destaque da unidade móvel ocorreu em Araraquara, no início do mês. O trailer ficou durante nove dias estacionado em um ponto estratégico da Feira Agrocomercial e Industrial da Região de Araraquara (Facira), evento que anualmente reúne cerca de 200 mil pessoas em suas dependências.

Durante esse período (4 a 12 de agosto), diariamente, uma equipe formada por fonoaudiólogas e profissionais de outras áreas do hospital, que atuavam no agendamento das triagens, se deslocavam cerca de 140 quilômetros para os atendimentos. Para essas profissionais, sair da rotina de trabalho não representa um problema. “É gratificante poder orientar as pessoas corretamente e vê-las saindo satisfeitas”, comenta a auxiliar-administrativa Cláudia Cristina de Oliveira Souza, que trabalha na central de agendamento do hospital.

Números – Os números revelam a dimensão e o sucesso da atividade. Em Araraquara, foram realizadas 486 triagens auditivas. Desse total, 46 casos apresentaram alteração no ouvido externo (como a chamada “rolha de cera”), impossibilitando a realização da triagem. “Esses casos receberam encaminhamento direto para remoção da cera”, explica Regina.

Esse foi o diagnóstico do profissional de serviços gerais José Bento Gomes da Silva, 53 anos. Convivendo diariamente em sua atividade profissional com pó e ruídos de motores, ele inicialmente resistiu em fazer a triagem. Depois, convencido pelos filhos, foi atendido pelas fonoaudiólogas e apresentou a “rolha de cera”. “Foi importante passar pelo trailer, agora vou procurar fazer a limpeza”, justifica.

Outros 102 casos, devido à falha na triagem audiométrica, foram encaminhados para avaliação otológica e audiológica com finalidade de diagnóstico. Foi o caso do comerciante Joel Cardoso dos Santos, 43 anos, que nunca havia procurado tratamento. Desconfiado de que apresentaria falha na audição, fez questão de aguardar na fila seu nome ser chamado para a triagem. “Tenho telefone celular, mas não uso porque não escuto”, justifica. O motivo de sua queixa foi confirmado. Ao apresentar falha na triagem, foi encaminhado ao Centro de Saúde Auditiva de Araraquara, unidade ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS), parceira do Centrinho na atividade.


Solidariedade: objetivo é detectar falhas na audição das pessoas

Outros números que chamam a atenção são da última triagem realizada pela equipe de fonoaudiólogas do Centrinho em Bauru, em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi). Na ocasião, no final de junho, foram atendidas em um único dia 122 pessoas com idades entre 4 e 79 anos. Segundo a fonoaudióloga Adriana Sampaio de Almeida Meyer, do Cedalvi, apenas 28% delas passaram pela triagem sem apresentar perda auditiva. Entre os casos diagnosticados com falha, 19,5% apresentaram a chamada “rolha de cera”.

É por estatísticas assim que o trailer segue sua trajetória. “Assim como pacientes de todo o País vêm para o Centrinho, esperamos que as pessoas, principalmente as que estão mais próximas, tenham conhecimento do nosso trabalho e sigam em busca de tratamento”, diz a fonoaudióloga Regina Bortoleto.
Casos – Natan da Rocha Brito, 7 anos, é uma criança como qualquer outra. Como grande parte dos meninos da sua idade, costuma assistir à televisão e jogar videogame em pé, próximo da tela. “Desconfiei que ele poderia ter algum problema de audição ou visão”, ressalta a mãe Alessandra da Rocha Brito, 31 anos. Natan, no entanto, passou pela triagem da unidade móvel em Araraquara sem apresentar falha.

Esse também é o caso de Eduardo de Santana da Silva, 13 anos, adolescente que adora assistir à televisão com o volume no alto. Inquieta com o costume do filho, a mãe Adeilda Rodrigues de Santana, 35 anos, também procurou as profissionais do Centrinho que trabalhavam na triagem. Mais uma vez não se constatou falha. Assim como Alessandra e Adeilda, inúmeras outras mães procuram a unidade móvel do Centrinho desconfiadas de possíveis deficiências auditivas em seus filhos. Mas, diferentemente delas, há muitos casos que realmente merecem atenção especial.

Em Araraquara, por exemplo, a triagem detectou um caso de perda profunda em uma criança de 2 anos. “A mãe nos procurou já com alguns exames realizados, sabendo da presença de perda auditiva de seu filho. Ela ainda não havia procurado tratamento porque não sabia como chegar ao Centrinho para concluir o diagnóstico, testar aparelhos e realizar a adaptação ou encaminhamento a outros locais que realizam o mesmo trabalho”, afirma Regina Bortoleto. “Nesse grau de perda, deve ocorrer a intervenção o mais cedo possível, pensando principalmente no desenvolvimento da linguagem da criança”, acrescenta a fonoaudióloga.

Outro destaque do atendimento oferecido pela Unidade Móvel de Avaliação Audiológica do Centrinho é a procura por pessoas de todas as idades e classes sociais. “A visão das pessoas, muitas vezes, é de que tudo que lhes traga algo de bom terá custo. E não é isso, o que queremos passar para as pessoas é que elas possuem condições de ir atrás”, completa a Regina. Além do Centrinho, o SUS mantém programas de saúde auditiva em todo o País.

Etapas – A triagem realizada pela equipe de fonoaudiólogas do Centrinho na Unidade Móvel apresenta três etapas. Inicialmente, as fonoaudiólogas fazem a meatoscopia, em que é verificado se há algum tipo de alteração no chamado ouvido externo. Nessa fase, as profissionais avaliam se é possível a realização da triagem auditiva completa. Alguns casos são impossibilitados devido à presença da “rolha de cera”.

Na segunda etapa ocorre a triagem imitanciométrica. Trata-se de uma breve avaliação relacionada ao ouvido médio. Pacientes que apresentam alterações também são encaminhados para avaliação com profissionais da área de otorrinolaringologia.

Na terceira e última etapa do atendimento, as fonoaudiólogas fazem a triagem audiométrica. Com ajuda de um audiômetro, são emitidos sons por meio de um fone, em uma sala com isolamento acústico, apresentando estímulos sonoros em cinco diferentes freqüências sonoras. Os indivíduos que apresentam limiares acima de 20 decibéis são encaminhados para avaliação otorrinolaringológica, audiológica, seguindo a conduta adequada.

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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