Desde criança, Dalton Delfini Maziero tem como paixão
as miniaturas e a história antiga, alimentada pela literatura
das grandes descobertas arqueológicas e diários de
viajantes. Historiador especializado em arqueologia pré-colombiana
pela PUC e em organização de arquivos históricos
pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, ele quer investir
num sonho: criar um museu de arqueologia em maquetes – e
para isso procura patrocínios e apoio. Segundo ele, o museu
contará com uma exposição permanente, formada
apenas por maquetes arqueológicas. “O objetivo não é trazer à tona
as culturas antigas, mas a história das ruínas arqueológicas. É uma
coleção sem fim, porque há milhares de sítios
a serem reproduzidos”, diz.
A exposição está prevista para reunir uma
coleção de maquetes arqueológicas de todos
os continentes, divididas por módulos geográficos.
Serão seis módulos, dedicados às Américas,
Europa, África, Ásia, Oceania e Oriente Médio,
além de alguns anexos regionais. O número de peças
não é fechado porque depende do espaço conseguido
para montar a exposição.
Maziero com uma de suas maquetes: cultura antiga recuperada
Um dos anexos será o lago Titicaca, na América do
Sul, que já conta com exposição fotográfica
montada, resultado de uma expedição arqueológica
realizada naquela região. Além dos módulos
citados, haverá painéis mostrando a evolução
das descobertas arqueológicas no mundo e um mapa com a localização
dos sítios arqueológicos que farão parte da
coleção. Lago
Titicaca – Maziero planeja despertar a curiosidade
sobre os sítios arqueológicos, mostrando sua importância
para a história de determinada cultura, falando do passado,
da história de sua descoberta e demais detalhes. “O
lago Titicaca será um dos sítios reproduzidos. Fiz
uma expedição e in loco fotografei os detalhes para
reproduzir fielmente a coloração das pedras, o relevo
e o tipo de vegetação do lugar”, explica.
Maziero pretende vincular seu projeto a uma universidade, já que
se trata de uma proposta de intervenção cultural
e educacional. “Quero que, além da exposição,
o museu seja uma experiência didática para os alunos
de todos os níveis.” Ele pretende formar uma comissão
de alunos interessados no assunto para administrarem o espaço
e darem monitoria. “Eles receberão capacitação
histórica, geográfica e de gestão. Quero,
inclusive, que eles sugiram caminhos para a trajetória do
museu”, explica.
Algumas peças da futura exposição já estão
prontas. Uma delas é o Palácio Real de Micenas (século
14 antes de Cristo), que se caracteriza por uma construção
pré-grega. Construída em três meses, a maquete
foi composta de maneira que apresenta um pedaço da construção
faltando, para que o visitante possa ver o interior da construção. “Dessa
forma consigo passar não só uma informação
artística, mas arquitetônica, cultural e da vida cotidiana
das civilizações”, explica Maziero.
Ele lembra que a função da maquete é educativa,
por isso ela tem que ser vazada, para que a pessoa tenha a noção
real de como era a edificação no passado, vista por
todos os ângulos, com pinturas, ornamentos e tipos de coluna.
Do Palácio de Micenas restaram apenas as fundações,
que foram reconstituídas por pesquisas. “Os arqueólogos
sabem que as paredes do palácio eram muito enfeitadas e
por isso partem do pressuposto de que as pinturas das paredes são
iguais às das cerâmicas achadas no entorno do sítio
arqueológico”, analisa.
Na maquete aparece um trono, que é um exemplo de como se
usa a informação arqueológica para construir
uma maquete. Foi a partir da base de um trono encontrado nas ruínas
do palácio que Maziero construiu os detalhes de pintura
e desenhos do restante da maquete. Ele explica que, na mesma época,
na Ilha de Creta, existia uma cultura chamada minóica, que
interagia com a cultura micena, comercial, cultural e artisticamente.
O padrão arquitetônico era muito semelhante. “Numa
reconstrução arqueológica procuro elementos
semelhantes, próximos, entre as culturas periféricas.
Sendo assim posso usar tranqüilamente o trono que está inteiro
nas ruínas da Ilha de Creta e colocar no Palácio
de Micenas, que seguramente foi um objeto semelhante. Ele serve
esteticamente para substituir o que não existe mais.”
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O Templo de Tarxien, em Malta (5 mil anos antes de Cristo), é representado
em 85% do tamanho original. Mostrando a cultura neolítica
da Europa ocidental, é da mesma época de Stonehenge,
um monumento pré-histórico britânico. Constitui-se
de um templo de pedra sólida, com estrutura de telhado em
madeira, coberto por telha de argila e palha, em que nascia grama
e mato, dando um aspecto de um monte.
Para essa maquete foi feito um corte vertical e horizontal em
dois níveis. Segundo Maziero, é um templo de oferendas
e tem como característica principal o não uso de
geometria na composição arquitetônica. “O
que o diferencia muito da cultura egípcia e mesopotâmica,
que utilizam linhas retas, muito quadrado e retângulo.”
Atualmente Maziero está trabalhando numa fazenda egípcia
do século 14 antes de Cristo. Ela terá a casa do
nobre, que ficará no centro, rodeada pelos aposentos dos
escravos, cozinha, local de construção de charretes,
estábulo e jardim.
Cada maquete é um caso e leva meses para ser construída,
diz Maziero. Existe um trabalho enorme de pesquisa que envolve
dois campos: pesquisa de imagem e de informações
arqueológicas através de livros e internet. Para
o historiador, o seu trabalho como maquetista é dar vida
a uma construção que não existe mais. “Como
criador do projeto do museu de maquetes, quero trazer para a atualidade
a realidade das construções do passado. Não
quero fazer a construção como elas estão hoje,
mesmo porque estão destruídas. Quero que o público
entenda que as culturas antigas tinham uma capacidade enorme de
elaborar uma construção riquíssima arquitetonicamente,
tanto no desenho quanto na estética.”
Maziero começou a pensar no projeto do museu de maquetes
quando trabalhava como supervisor do Arquivo Histórico da
Fundação Bienal de São Paulo. Ali ele observou
exemplos de museus europeus que surpreendem pela sua praticidade
de criação, manutenção e baixo custo. “Esses
novos modelos de exposição oferecem um retorno bastante
interessante aos apoiadores, que adquirem os direitos de exploração
cultural e comercial das peças: venda de ingressos, aluguel
da exposição para itinerância, venda de espaço
publicitário, exploração das imagens do museu
e captação de recursos federais na forma de projetos,
além de todo o retorno da mídia que envolve o evento”,
explica Maziero.
Isso significa que a instituição ficará de
posse do direito de exploração comercial da exposição,
podendo cobrar ingressos para visitação, vender espaço
publicitário, torná-la itinerante (alugá-la
a centros culturais, prefeituras etc.) e produzir peças
comerciais, ficando com o lucro proveniente dessas ações,
enquanto durar o interesse de ambas as partes. Maziero ressalta
que só não pode vender as maquetes, pois estas continuarão
fazendo parte da sua coleção pessoal.
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