Este ano, o Programa Permanente para
o Uso Eficiente de Energia Elétrica (Pure) da USP comemora
dez anos de atividades com números surpreendentes. Desde
2001, quando começou a medir o gasto de energia elétrica
devido ao racionamento implantado no País naquele ano, a
USP economizou 130 mil megawatts/hora, medida equivalente ao consumo
anual de energia em todos os campi da Universidade. “Esse
valor representa, em seis anos, uma economia de R$ 35 milhões
para a USP. É um número incrível, mas que
também revela o alarmante desperdício que havia dentro
da Universidade”, pondera o coordenador do Pure, professor
Marco Antônio Saidel, do Departamento de Engenharia Elétrica
da Escola Politécnica.
Em 2001, sob o nome de “Fantasma do Apagão”,
alusão à constante possibilidade de um blecaute,
o Pure lançou uma campanha em todos os campi da Universidade
para o uso consciente desse recurso. “A campanha foi bem-sucedida
e o racionamento quase não afetou as atividades dentro da
Universidade”, avalia Saidel.
Segundo Saidel, a passagem sem grandes sacrifícios pela
crise energética de 2001 foi resultado da existência
prévia do programa, que já vinha se consolidando
dentro da Universidade através de ações e
campanhas pelo bom uso do recurso. “Tudo começou em
maio de 1997, como uma idéia de alguns professores do Departamento
de Engenharia Elétrica de colocar na prática aquilo
que ensinamos na sala de aula. Queríamos verificar o potencial
para atividades de conservação de energia na USP.
O que era uma pesquisa logo virou um programa consistente e atuante
em todas as instalações dos campi”, lembra
Saidel.
Outra grande conquista nos dez anos do programa foi a mudança
na gestão dos contratos de compra de energia, que a USP
mantém com a Eletropaulo e que estabelecem a compra prévia
de uma quantidade de energia que será usada em cada unidade
de alta tensão. Com 96 unidades deste tipo, o Pure começou
a avaliar periodicamente esses contratos para adaptá-los às
mudanças no consumo de energia ocorridas com o tempo e evitar
pagamentos em desacordo com o consumo. Esse acompanhamento constante
identificou diversos contratos desatualizados, que renderam à USP
um ressarcimento de R$ 18 milhões.
Nova campanha – A racionalização do uso de
energia elétrica está ligada às pequenas ações
cotidianas, hábitos como apagar a luz ao sair da sala ou
desligar o monitor do computador quando não estiver usando.
Para estimular esses hábitos saudáveis e melhorar
a comunicação do Pure com a comunidade, o programa
acaba de lançar sua nova campanha de conscientização:
uma série de histórias em quadrinhos cujos personagens
principais são a Negawatt e o Apagão. “A Negawatt é uma
garota negra, esperta e consciente, um retrato da sustentabilidade.
Já o Apagão é um homem branco, loiro, que
usa os recursos de forma irracional, sem pensar nas conseqüências
para o ambiente”, explica o professor do Departamento de
Engenharia Elétrica Luiz Cláudio Ribeiro Galvão. “A
idéia é que a Negawatt eduque socialmente o seu amigo
Apagão, ensinando lições valiosas também
para os leitores da tirinha.”
Enquanto o Apagão é uma alusão ao momento
crítico de racionamento vivido em 2001, a Negawatt surgiu
de um jargão da área para a redução
da demanda por energia com ações como comprar um
refrigerador mais econômico. Assim, quando se reduz o gasto
de energia elétrica, ganham-se “negawatts”. “Esses
personagens, símbolos dos dez anos do Pure, são uma
forma de mostrar às pessoas como a questão energética
está atrelada à questão ambiental e conscientizar
que a energia elétrica é também um recurso
precioso que deve ser usado com cautela”, afirma Galvão.
Para o professor, as pequenas ações de economia no
uso da energia elétrica são a forma mais barata e
mais viável de lidar com a questão. “É um
elenco de iniciativas para evitar um racionamento mais para frente.
Mudar pequenos hábitos é simples e praticamente sem
custos, já ações para aumentar a potência
de produção das usinas hidrelétricas ou investir
em novas obras de produção de energia exigem planos
governamentais de alto custo e grande impacto para o ambiente”,
alerta Galvão.
Mas para haver uma verdadeira mudança de hábitos,
a mensagem do uso racional de energia elétrica tem que ser
repetida e relembrada até que se incorpore às ações
cotidianas. Por isso, quem olha para qualquer interruptor da Universidade
logo repara no adesivo do Pure, lembrando da necessidade de apagar
a luz. “É uma mensagem que tem que ser massiva para
que realmente seja efetiva. E com os quadrinhos conseguiremos passar
essa lição de maneira divertida e leve, sem ser impositiva”,
explica a idealizadora dos quadrinhos, Danielly Ordanini, aluna
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e estagiária
do programa. “Afinal, não queremos uma mensagem ‘ecochata’,
e sim consciente e de bom senso”, diz.
Os quadrinhos são também uma forma de atingir o público
variado que transita pela Universidade, já que podem ter
histórias ou mesmo personagens de diferentes origens e que
levem à identificação com diferentes grupos. “As
tirinhas são ainda uma idéia muito recente. Nós
estamos amadurecendo as histórias e com o tempo criaremos
temas e personagens específicos para o público infantil”,
planeja Wanderson Demetrius Rodrigues, aluno da FAU e cartunista
escolhido através de um concurso desenvolvido pelo Pure. Outras
ações – Além dessa campanha massiva
de conscientização, o Pure quer desenvolver outros
projetos em comemoração aos seus dez anos de atuação
dentro da Universidade. Entre eles, o apoio a projetos de eficiência
energética desenvolvidos dentro de cada unidade.
Os gestores das unidades nomeados pelo Pure poderão enviar
ao programa projetos de diminuição do gasto energético,
que serão avaliados de acordo com seu custo-benefício.
Os dez projetos melhor avaliados serão atendidos com a verba
de R$ 1 milhão do programa. “Todos os anos recebemos
projetos dos gestores das unidades, na área de iluminação,
para a substituição por lâmpadas inteligentes,
troca de ar-condicionado, novas propostas de aquecimento de água
ou mesmo para instalação de painel solar”,
destaca Leonardo Brian Favato, engenheiro do Pure.
Como os projetos de iluminação são normalmente
os de melhor relação custo-benefício, o Pure
decidiu focar seu investimento em projetos da área. “Não
existe fórmula mágica, mas sim planejar e atuar na
direção do melhor custo-benefício, que, atualmente, é a
iluminação da Universidade”, justifica Galvão.
O Pure produzirá também uma série de cartilhas
de orientação e capacitação, que ensinarão
como usar melhor o recurso energético e como comprar os
equipamentos mais eficientes. Os folhetos estarão disponíveis
gratuitamente na página eletrônica do programa. “Serão
cartilhas com pequenas dicas, voltadas para públicos específicos,
a fim de difundir a mensagem de maneira mais consistente e permanente
dentro da Universidade e que também podem ser aplicadas
em casa ou qualquer outro local”, sugere Saidel.
Ele ressalta ainda o pioneirismo da USP em ter um programa institucionalizado
de uso eficiente de energia elétrica. “Em um cálculo
rápido, a USP fez um investimento de apenas R$ 1,6 milhão
em projetos de eficiência que já deram um retorno
de R$ 35 milhões. É um programa que tem trazido ótimos
resultados e, com o crescimento da Universidade, tem ainda mais
potencial de atuação.”
Os quadrinhos que fazem parte da nova campanha do Pure para a
comunidade USP: conscientização pela arte
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