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© Cecília Bastos

© Cecília BastosO crescimento do número de alunos egressos de escolas públicas aprovados no vestibular 2007 da USP foi comemorado pela pró-reitora de Graduação, Selma Garrido Pimenta, na reunião do Conselho Universitário do último dia 14. A pró-reitora apresentou aos conselheiros alguns dados referentes ao Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp), instituído em maio de 2006. O Inclusp benefi cia os estudantes que cursaram todo o ensino médio em escola pública com um bônus de 3% nas notas da primeira e segunda fases do vestibular.

Das matrículas efetivadas em 2007, 2.719 foram de alunos oriundos de escolas públicas municipais, estaduais, federais ou técnicas. Isso representa 26,7% do total de matriculados, índice superior ao registrado nos últimos anos (em 2006, esse número fi cou em 24,8%). “Dos alunos oriundos do ensino médio público convocados na primeira chamada da Fuvest, 12% não teriam conseguido ingressar na USP caso não houvesse o Inclusp. Esses dados indicam que as metas estão sendo atingidas”, disse a professora, salientando que 2007 é o ano com o maior número de alunos egressos de escola pública matriculados na USP.

Selma Pimenta lembrou que foram considerados apenas os estudantes que cursaram integralmente o ensino médio em escolas públicas. O número seria maior se fossem incluídos aqueles que fi zeram parte do ensino médio na rede pública. A pró-reitora chamou ainda a atenção para o fato de que 1.511 desses alunos (56,6% do total) estudaram em escola estadual com ensino médio comum. O dado contradiz a idéia de que são as escolas técnicas e federais que mais aprovam na Universidade.

Cerca de 90% dos alunos benefi ciados pelo Inclusp no vestibular 2007 vieram de escolas da capital e da Grande São Paulo. A grande maioria ingressou em cursos no período noturno, porém, cerca de 30% deles estão em cursos integrais. Em relação às unidades com os cursos mais concorridos, os benefi ciados pelo programa representam cerca de 30% dos alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA), 20% na Faculdade de Direito e na Faculdade de Medicina e 15% na Escola Politécnica e na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Em números absolutos, as unidades que mais têm alunos vindos de escola pública são a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e a Faculdade de Filosofi a, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Entretanto, a pró-reitora Selma Pimenta observou que, na proporcionalidade entre o número de vagas oferecidas nas unidades e o número de alunos que vieram de escola pública, os destaques fi cam em São Carlos, nos Institutos de Física, de Química e de Ciências Matemáticas e de Computação. Cerca de 60% das vagas oferecidas por essas unidades foram preenchidas por alunos oriundos da rede pública.

© Francisco Emolo
Guimarães: instrumento de inclusão

Mudança – O número de aprovados vindos da escola pública no vestibular 2007 fi ca ainda mais signifi cativo quando se constata que, proporcionalmente, havia menos candidatos inscritos do que no ano anterior. Em 2006, concorreram 170 mil estudantes, 41,9% deles de escolas públicas. Em 2007, foram praticamente 30 mil a menos – 142 mil inscritos –, sendo 34,9% do ensino público. O professor Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofi a, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que tem se dedicado a estudar o perfi l dos alunos que ingressam na USP nos últimos anos e fez parte da comissão que elaborou o projeto inicial do Inclusp, diz que é normal que seja assim.

“A grande mudança em 2007 foi a corrida dos alunos para o Prouni (programa de bolsas para o ensino superior privado concedidas pelo governo federal), com cerca de 20 mil beneficiados em São Paulo”, diz Guimarães. Também contribuíram a criação dos novos campi de Guarulhos e Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o estabelecimento da Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André. Para o professor, a grande distorção era o fato de existir em toda a região metropolitana de São Paulo apenas uma universidade pública gratuita – a USP – para uma população de cerca de 17 milhões de pessoas. “Isso é realmente perverso”, avalia.

© Francisco Emolo
Selma: metas atingidas

Com base nos dados disponíveis dos aprovados de 2007, o professor Antonio Sérgio Guimarães diz que “em princípio o Inclusp está dando certo” – embora alerte que será preciso esperar os próximos anos para analisar de forma mais consistente o impacto do programa e o perfi l socioeconômico dos ingressantes. “Nas medidas que a USP está tomando em termos universalistas, tanto o bônus quanto a criação de novos campi e novas vagas demonstraram que são instrumentos importantes para aumentar a inclusão social. Quando se faz isso, fi ca muito mais diversifi cada e melhora bastante a composição social da USP, incluindo muito mais pessoas com menos condições fi nanceiras”, pondera.

Impacto – Para a reitora Suely Vilela, “é preciso mais tempo para avaliar o impacto do Inclusp, mas os primeiros números já mostram melhoria”. A reitora defende que a Universidade deve aumentar cada vez mais o número de ingressantes oriundos da escola pública e concorda que será necessário aguardar os próximos vestibulares para fazer análises mais aprofundadas. “O resultado de nossa proposta de inclusão será sentido a médio prazo, num período de seis a dez anos”, diz, ressaltando que esses efeitos se darão interna e externamente.

O Inclusp não se restringe ao bônus no vestibular. Outras ações serão gradualmente integradas ao programa – com o cuidado de que seus impactos não sejam diluídos, mas se somem para produzir resultados, diz a reitora. Suely Vilela acredita, por exemplo, que é preciso preparar melhor o aluno que vai prestar vestibular, e uma das propostas para isso é que a USP faça parcerias com cursinhos comunitários. Também já foi criada a Comissão de Gestão da Política de Apoio à Permanência e Formação Estudantil na USP. Um de seus objetivos é defi nir as ações e atividades mais adequadas para benefi ciar a trajetória acadêmica dos alunos, com base no seu perfi l. A comissão reúne representantes de diversos órgãos da Universidade e dos alunos, incluindo o Diretório Central dos Estudantes (DCE), a Associação de Pós-Graduandos e os que residem nas moradias estudantis.

s 80 alunos são divididos em três turmas de 28. Além do professor da disciplina, para cada turma há uma professora orientadora que os acompanha desde o início do curso. A professora-orientadora ajuda o grupo em vários momentos, desde ouvir os problemas que trazem da aldeia até a construção do trabalho de conclusão de curso. “Elas fazem o ‘meio de campo’, dão suporte para qualquer problema, o que faz com que o aluno se sinta mais seguro diante das adversidades”, explica Claudia Geórgia Sabba, coordenadora pedagógica administrativa.

O currículo das disciplinas é parecido com o de Pedagogia em alguns aspectos. O diferencial da formação é que não é um curso de pedagogia normal, mas tem a preocupação de permitir que o professor indígena construa a escola da aldeia a partir da sua própria cultura. “Eles têm autonomia”, conta Maria do Carmo.

Outro diferencial é a disciplina de tradição oral, que busca na experiência do idoso resgatar a língua materna e a cultura. Para isso, um indígena idoso recebe uma bolsa de estudos para ajudar o professor a manter a tradição da língua da aldeia e passar costumes, hábitos, cantigas, lendas e artesanato para os alunos.

A coordenadora explica também que no início do curso foi muito difícil para os jovens professores indígenas, com uma média de 22 anos, ficarem fora da aldeia por muito tempo. “Muitos tiveram que enfrentar os deslocamentos de poder na comunidade, tanto pelo fato de serem remunerados como por estarem fazendo um curso, além de sentirem dificuldade para adaptar o conteúdo para a sala de aula da aldeia. Depois de um ano e meio já estão mais confiantes.”

Os números do Inclusp
Alunos ingressantes por tipo de escola (em %)
Ano
Pública (*)
Particular
2006
24,8
75,2
2007
26,7
73,3

 


Mais cem vagas em 2008

A USP ampliou em cem o número de vagas em relação a 2007, passando de 10.202 para 10.302. Esse aumento se dá graças à criação da Faculdade de Direito no campus de Ribeirão Preto, que oferecerá, a partir do próximo ano, cem vagas para o curso de Bacharelado em Direito, ministrado em período integral. A aprovação da tabela de vagas aconteceu no dia 14 passado, na reunião do Conselho Universitário. Na mesma reunião foi aprovada a ampliação do número de vagas do curso de Estatística do Instituto de Matemática e Estatística (IME), passando de 30 para 40, e que serão oferecidas a partir do vestibular de 2009.

Na reunião do Conselho Universitário também foi aprovada a extinção da Licenciatura em Psicologia oferecida pela Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). Segundo a pró-reitora Selma Garrido Pimenta, a extinção ocorreu em decorrência do fato de a disciplina de Psicologia não ser mais oferecida em escolas de ensino médio. “Como nos cursos de licenciatura o estágio é obrigatório, os alunos não conseguiam estagiar na área porque não encontravam escola para isso”, justificou.

Agência USP de Notícias